O futuro do Ramal da Alfândega continua por definir. Em janeiro, Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, adiantou, durante uma reunião pública do Executivo camarário, que a autarquia estava a equacionar a possibilidade de conciliar, no Ramal, a ecopista, aprovada em junho, com a circulação de um transporte coletivo, para funcionar, possivelmente, durante a semana.

Nesse sentido, Pedro Baganha, vereador do Urbanismo, anunciou que em dezembro do ano passado foi encomendado à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) um estudo de procura potencial pelo transporte coletivo no local. O estudo foi pedido, soube-se então, ao professor Paulo Pinho, atual coordenador da equipa responsável pelos estudos das novas linhas do Metro do Porto. 

Contactados pelo JPN, tanto o docente quanto a Câmara do Porto não adiantaram novas informações acerca do processo.  Já na reunião pública do Executivo camarário desta segunda-feira (22), Pedro Baganha confirmou que “o estudo já está na Câmara Municipal, já foi cumprida a encomenda”. O vereador acrescenta ainda que a entrega “foi tão recente”, que ainda não “teve tempo de o analisar com o senhor presidente”. Mas esclarece que “estão para breve novidades relativamente a uma discussão pública que se quer o mais ampla e participada possível”.

O adiamento deste processo é contestado pelos membros do Grupo de Ação para a Reabilitação do Ramal da Alfândega (GARRA). Jorge Mayer, um dos fundadores do grupo, espera que “o estudo seja entregue à Câmara até ao final deste mês de março”. O engenheiro do ambiente, que acompanhou o JPN numa visita ao local, critica os sucessivos adiamentos do processo e acrescenta que “não se compreende que não haja uma discussão séria” sobre o assunto “havendo até já dados para a discussão”. 

O GARRA continua “à espera que haja um debate promovido pelo município”, algo que “há vários meses está atrasado e que o município tem prometido, mas que não se concretiza no terreno”, refere Jorge Mayer. A discussão pública do futuro do Ramal já esteve anunciada para setembro, novembro, dezembro e, mais recentemente, para finais de janeiro, segundo tinha indicado Pedro Baganha na reunião do dia 11.

Este atraso na resposta por parte da Câmara é visto por Jorge Mayer como uma tentativa do município de conseguir mais estudos de base, o que para o engenheiro do ambiente significa que a Câmara já percebeu “o potencial que pode ter na mobilidade” da cidade. O membro do GARRA acrescenta ainda que transformar o Ramal da Alfândega “simplesmente numa ecopista” poderá atrair “umas poucas dezenas de pessoas”, mas não “transforma a cidade”. 

Durante este período de espera, o GARRA organizou “um grande ciclo de debates”, em novembro e dezembro do ano passado, durante o qual reuniram com “dezenas de especialistas e técnicos” e constataram que “ter um autocarro elétrico que percorra o Ramal”, permitiria “uma melhor flexibilidade e uma melhor integração com as ruas que já existem e com o transporte que já existe”, refere

O grupo “não tem uma opinião fechada e definida” sobre a melhor solução a adotar no Ramal, defendem sim que a autarquia “ouça os técnicos” e adote “a melhor posição para a cidade em termos de mobilidade e custo de eficiência”. Sobre a ecopista, Jorge Mayer considera que apresenta “problemas de acessibilidade”, além de “questões de segurança”

O Ramal da Alfândega é um antigo caminho de linha férrea que liga Campanhã à Alfândega do Porto pelo curso do Douro. Com cerca de 4 quilómetros de extensão (dos quais 1.300 metros em túnel), foi inaugurado em 1888 para transporte de mercadorias e funcionou durante 101 anos até ser encerrado em 1989, estando há mais de 30 anos inutilizado

Com Diogo Metelo

Artigo editado por Filipa Silva

Artigo atualizado às 15h06 de 23/03/2021 em sequência das informações dadas na Reunião Pública do Executivo da Câmara Municipal do Porto.