A 23.ª edição do Campeonato da Europa de sub-21 arranca esta quarta-feira com a disputa da fase de grupos. Devido à pandemia e para evitar uma maior sobrecarga dos jogadores no final da época, a competição vai ter agora o seu início, enquanto a fase das decisões decorre apenas a partir de 31 de maio. Portugal, novamente sob a batuta de Rui Jorge, discute com Inglaterra, Suíça e Croácia a passagem aos quartos de final.

Naquela que vai ser a primeira edição da prova com 16 seleções na fase final, Hungria e Eslovénia são os países anfitriões. O selecionador nacional assinala dez anos aos comandos de Portugal e a sua terceira participação num Euro de sub-21. Dessas participações destaque para a chegada à final em 2015, que terminou com uma derrota inglória frente à Suécia nas grandes penalidades. Nessa formação pontificavam nomes como Bernardo Silva, Sérgio Oliveira, João Mário, William Carvalho, Rubén Neves, Raphael Guerreiro, Rafa Silva e Ricardo Pereira, jogadores que se tornaram presenças habituais na seleção A.

Depois de ter falhado o apuramento para o Europeu de 2019, a Seleção Nacional está de regresso e volta a apresentar-se com uma geração capaz de, no plano teórico, se intrometer na luta pelo título. Ainda assim, como afirmou Rui Jorge aquando do anúncio dos convocados para a competição, “não adianta falarmos em favoritismo, em ser candidato ou não ser. Falar adianta muito pouco. Adianta é preparar os jogos, ter a mentalidade certa e ir com o intuito de dignificar o país”.

Portugal sem laterais-esquerdos e com ausências de última hora

Da lista de 23 convocados, o selecionador nacional surpreendeu ao não levar qualquer lateral-esquerdo para esta fase da prova. Com Nuno Mendes promovido à seleção A, a escolha recaiu em quatro laterais-direitos, dois dos quais com experiência a jogar na ala esquerda: Diogo Dalot (AC Milan) e Tomás Tavares (Farense). De fora ficaram nomes como Rúben Vinagre (Famalicão), que participou em alguns jogos de apuramento, Ricardo Mangas (Boavista) e Nuno Tavares (SL Benfica).

Na ausência de laterais-esquerdos de raiz, Diogo Dalot deve ser o escolhido para a assumir a posição.

Na ausência de laterais-esquerdos de raiz, Diogo Dalot deve ser o escolhido para a assumir a posição. Foto: FPF

Em conversa com o JPN, o comentador Tomás da Cunha não acredita que esta opção venha a ser um problema, embora a presença de um lateral-esquerdo de raiz como Nuno Mendes pudesse trazer outras vantagens. Pelos bons desempenhos que tem acumulado ao longo desta temporada, o comentador acredita que “Dalot parte em vantagem para ser titular” – o lado direito deve ser ocupado por Thierry Correia (Valência), a opção mais frequente durante a qualificação.

Tomás da Cunha vê no lateral emprestado pelo Manchester United “um jogador que pode aproximar-se do que faz, por exemplo, João Cancelo, que também tem muito passado como lateral-esquerdo”. Devido ao facto de ser um destro a jogar na esquerda, “pode aproveitar para conduzir para dentro e criar a partir daí alguns desequilíbrios que tragam vantagens para Portugal”.

Em relação à convocatória original, Portugal perdeu Jota (Valladolid), a contas com uma entorse no tornozelo, e Rafael Leão (AC Milan), devido a uma lesão muscular, dois jogadores que têm sido opções frequentes para o onze inicial de Rui Jorge. Pensando no Europeu de sub-21 como um palco importante para os mais jovens se mostrarem, a ausência de Jota é particularmente penosa, por se tratar de um talento “que está algo estagnado”.

De regresso aos sub-21, Trincão é um dos nomes mais sonantes da seleção portuguesa.

De regresso aos sub-21, Trincão é um dos nomes mais sonantes da seleção portuguesa. Foto: FPF

O regresso de Trincão (Barcelona) às escolhas do selecionador vai ajudar a colmatar essa perda de criatividade na frente, com a posição de extremo a ser reforçada por João Mário (FC Porto). Para o lugar do avançado do Milan formado no Sporting CP, foi chamado Gonçalo Ramos (SL Benfica), “um finalizador nato” e que dá a Portugal um avançado “com características diferentes daqueles que iria ter”. À semelhança de Jota, é “um jogador que tem tido pouco protagonismo no clube e que pode aproveitar esta oportunidade para se valorizar”, referiu o comentador.

Para além dos nomes que têm acompanhado Rui Jorge na campanha até este Europeu, a Seleção Nacional conta ainda com duas estreias: Francisco Conceição (FC Porto) e Tiago Tomás (Sporting CP). Nas palavras do selecionador, o primeiro “tem muita capacidade no um contra um, é bastante imprevisível e é tecnicamente refinado”, enquanto o segundo “tem profundidade, trabalha bastante e está moralizado”.

Os adversários de Portugal

Mal se conheceu o sorteio, Portugal e Inglaterra foram de imediato apontados como favoritos à passagem aos quartos de final. Tomás da Cunha concorda com essa perceção, embora aponte à Croácia a existência de talento individual para surpreender. Aquela que será a primeira adversária dos portugueses na prova, conta no meio-campo com Lovro Majer e Luka Ivanusec, que têm participado na excelente campanha do Dínamo Zagreb nas competições europeias, com destaque para a recente eliminação do Tottenham de José Mourinho.

Croácia vai ser o primeiro adversário de Portugal no Campeonato da Europa.

Croácia vai ser o primeiro adversário de Portugal no Campeonato da Europa. Foto: HNS_CFF

Nas suas fileiras incluem-se também Nikola Moro, médio do CSKA de Moscovo, e Borna Sosa, lateral-esquerdo que se tem evidenciado no campeonato alemão ao serviço do Estugarda. Para o comentador da Eleven Sports, “agora há que perceber se o funcionamento coletivo desta Croácia acompanha o talento individual, porque nem sempre isso acontece”. À Suíça será mais difícil intrometer-se nesta luta, apesar de alguns jogadores interessantes como Andi Zequiri, do Brighton & Hove Albion, que marcou nove golos na qualificação.

Sobre a Inglaterra – que conquistou, em 2017, títulos nos sub-17 e sub-20 -, Tomás da Cunha considera os ingleses “uma das equipas com mais talento individual da competição” e que tem a vantagem de ter “muitos jogadores já estabelecidos na Premier League”, ao contrário do que acontece na seleção portuguesa, onde vários ainda não “têm esse espaço de afirmação”.

Inglaterra vai lutar com Portugal pelo apuramento para os quartos de final.

Inglaterra vai lutar com Portugal pelo apuramento para os quartos de final. Foto: FA

Entre os nomes mais sonantes da seleção orientada por Aidy Boothroyd estão Curtis Jones (Liverpool), Callum Hudson-Odoi (Chelsea), Tom Davies (Everton), Eddie Nketiah e Emile Smith-Rowe, ambos do Arsenal. Mason Greenwood, do Manchester United, é uma baixa de peso de última hora e foi rendido pelo médio Todd Cantwell (Norwich). Com atletas de alguns dos melhores clubes do mundo, “há aqui uma Inglaterra temível, sobretudo do meio-campo para a frente”, que é candidata não só ao primeiro lugar do grupo, mas também “a pensar em algo mais na competição”.

França com elenco de luxo, Rússia como possível surpresa

Com se tem tornado hábito, a França, que partilha o Grupo C com Rússia, Islândia e Dinamarca, é uma das seleções que mais motivos de interesse apresenta. Para o comentador, os franceses “têm uma equipa fortíssima, com alguns jogadores que também têm destaque no campeonato e que até podiam estar na seleção A”. Aouar (Lyon), um dos médios criativos que podia fazer a diferença também vai falhar a competição por lesão, mas isso não impede que, no que diz respeito a centrais e ao meio-campo, esta seja provavelmente a seleção mais forte do torneio, no plano teórico.

Os centrais Konaté (Leipzig) e Koundé (Sevilha), Camavinga (Rennes), “um dos principais projetos de médio para os próximos anos”, e Gouiri, avançado que tem vindo a afirmar-se no Nice, são alguns dos jogadores destacados pelo especialista, numa seleção que conta também com Édouard, avançado do Celtic, e Guendouzi, médio emprestado ao Hertha de Berlim pelo Arsenal.

Camavinga, que já chegou à seleção A, é um dos nomes fortes de uma seleção francesa fortíssima.

Camavinga, que já chegou à seleção A, é um dos nomes sonantes de uma seleção francesa fortíssima. Foto: Ligue1

Na companhia da França está a Rússia, seleção que chega “como uma outsider”. Ainda assim, como explica Tomás da Cunha ao JPN, o plantel que os russos trazem para esta competição é composto por muitos jogadores que “são figuras importantes num campeonato que está a rejuvenescer”, em que vários jovens estão a “conseguir ganhar espaço nas equipas”. Fedor Chalov e Oblyakov, ambos do CSKA de Moscovo, “têm tudo para se destacar nesta prova”.

A Holanda é outra “equipa a ter em conta” e uma seleção que Portugal conhece bem da fase de qualificação, onde ficou em segundo lugar com os mesmos pontos da “laranja mecânica”. Koopmeiners, médio que se tem destacado no AZ Alkmaar, e Justin Kulivert, jogador do Leipzig “que já se esperaria que estivesse noutro patamar”, são dois dos trunfos dos holandeses que contam ainda com “dois pontas de lança que podem ser do melhor que vamos ver nesta competição”: Boadu (AZ Alkmaar) e Brobbey (Ajax).

No grupo A, com a Holanda, estão ainda Alemanha, Hungria e Roménia. As duas formações com mais currículo são favoritas a passar aos quartos de final, ainda que o comentador reconheça um “decréscimo na qualidade da formação germânica”, o que se pode vir a refletir, nos próximos anos, na seleção principal. Ainda assim, Moukoko (Dortmund) vai ser certamente uma das estrelas do torneio, sabendo-se desde já que, aos 16 anos, se vai tornar no mais jovem a participar num Europeu de sub-21.

Moukoko, avançado de 16 anos do Dortmund, vai tornar-se no mais novos de sempre num Europeu de sub-21.

Moukoko, avançado de 16 anos do Dortmund, vai tornar-se no mais novo de sempre num Europeu de sub-21. Foto: Bundesliga

No Grupo B figuram Espanha, República Checa – que conta com Matous Trmal, do Vitória SC, entre os convocados -, Itália e Eslovénia. Na seleção espanhola, crónica candidata ao título e atual campeã europeia, Tomás da Cunha destaca o “meio-campo de muito qualidade”, com especial enfoque para Gonzalo Villar, jogador que se tem afirmado na Roma de Paulo Fonseca e que “vale a pena ter debaixo de olho”.

Os espanhóis contam ainda com o talento dos médios Riqui Puig (Barcelona) e Brahim Díaz (AC Milan), assim como o “bracarense” Abel Ruiz no ataque. Itália apresenta-se também com várias armas, sobretudo no ataque e meio-campo. Scamacca (Génova) é um dos nomes fortes da formação italiana, “um ponta de lança que é comparado com Ibrahimovic e que tem essa capacidade técnica para fazer a diferença”. Cutrone (Valência) e Sandro Tonali (AC Milan) são outros dos jogadores a ter em conta nesta seleção.

Vencedor só em junho

Com o condicionamento do calendário provocado pela pandemia, os quartos de final, as meias-finais e a final vão decorrer apenas depois do fim dos campeonatos nacionais, praticamente dois meses após a realização da fase de grupos. Questionado sobre este formato, o comentador Tomás da Cunha considera que esta opção “pode ser bastante válida” e que não causa “prejuízo para o espetáculo que pode ser esta competição”.

“Acho que é uma solução interessante dentro do calendário que temos atualmente. Convém não esquecer que haverá Europeu, haverá depois Jogos Olímpicos e é preciso, no meio disto tudo, que os jogadores também tenham mais tempo de descanso, porque na época passada não houve essa possibilidade”, referiu.

O Campeonato da Europa de sub-21 de 2021 arranca esta quarta-feira, com jogos entre Hungria e Alemanha, Roménia e Holanda, República Checa e Itália, e Eslovénia e Espanha. A estreia de Portugal está marcada para quinta-feira, às 20 horas, frente à Croácia. Também nesse dia há embates entre Rússia e Islândia, França e Dinamarca, e Inglaterra e Suíça.

Artigo editado por João Malheiro