O marcador indicava 84 minutos jogados no Sporting CP x Vitória SC, deste sábado, e uma vantagem de apenas um golo para os leões. Rúben Amorim vira-se para o banco para ajudar a segurar o resultado de 1-0. Para além de Matheus Reis, jogador já com alguma experiência, decide ir contra as regras não escritas do futebol e introduzir um jovem. Dário Essugo tinha completado 16 anos apenas seis dias antes da partida. Não jogava de forma competitiva há mais de um ano, por força da paragem do futebol de formação provocada pela pandemia. Ainda assim, foi essa a escolha do treinador para render João Mário, um dos jogadores com maior rodagem no plantel leonino.

Tem sido esse o mote deste novo Sporting CP com Rúben Amorim ao leme. A sua primeira época, ou metade da época, foi muito marcada pela interrupção pandémica. Apenas dirigiu um encontro antes do campeonato ser parado. Nesse, alinhou apenas com Luís Maximiano da formação, guarda-redes que já era titular com Jorge Silas, o antigo treinador leonino. Já no primeiro jogo de volta à competição em junho, deu estreias a Eduardo Quaresma e Matheus Nunes (foi contratado já com 20 anos). Na partida seguinte manteve os dois jovens, com Max ainda na baliza também, e fez entrar do banco Nuno Mendes, jovem de apenas 17 anos à altura.

Até ao final da época, Quaresma e Nuno Mendes apenas por uma vez não foram titulares. Nessa partida, contra o Moreirense, acabou uma série de quatro vitórias consecutivas. Entretanto, Tiago Tomás e Joelson Fernandes tinham-se também estreado com a camisola leonina, com as idades de 18 e 17 anos respetivamente, no dia do 114.º aniversário do clube. A aposta não ficou por aí. Os jogadores foram sendo opções a partir do banco, incluindo num jogo contra o FC Porto, numa tentativa de inverter a superioridade portista.

No penúltimo jogo da temporada, foram seis os jogadores oriundos da formação a pisar o terreno dentro das quatro linhas. Quatro como titulares – Luís Maximiano, Eduardo Quaresma, Nuno Mendes e Tiago Tomás – e dois como suplentes utilizados – Joelson Fernandes e Pedro Mendes. Em 11 partidas comandadas por Rúben Amorim nessa segunda metade da época 2019/2020, Quaresma foi titular em nove partidas, Nuno Mendes em oito (com mais dois encontros a sair do banco), sempre com Maximiano na baliza. Tiago Tomás fez um jogo a titular e entrou do banco noutros dois e Joelson Fernandes foi duas vezes opção como suplente. O objetivo, assumido tanto pelo treinador como pelo presidente, era lançar as bases para a época seguinte.

Quem ri por último ri melhor

A época de 2020/2021 não começou da melhor maneira para o Sporting CP. Vitórias nos primeiros dois jogos oficiais, contra Aberdeen FC para a Liga Europa e Paços de Ferreira para a Primeira Liga foram rapidamente ofuscadas pela derrota e consequente eliminação europeia contra o LASK Linsk no playoff de qualificação para a fase de grupos da segunda maior competição do velho continente. Nuno Mendes e Tiago Tomás foram titulares nos três encontros. De notar também que nessa altura da temporada ainda não estavam fechados todos os negócios que o clube viria a fazer – faltava João Mário, Pedro Gonçalves foi apenas opções a partir do banco contra os austríacos e Palhinha estava ainda afastado do plantel com a possibilidade de uma venda.

Mas Rúben Amorim manteve a aposta na equipa, com uma tendência a introduzir cada vez mais juventude nas opções, e arrancou para uma série de 15 jogos consecutivos sem perder, e com apenas dois empates pelo caminho. A média de idades do atual plantel, contando apenas os jogadores que têm já minutos, é de 24,66, número inflacionado por João Pereira e Antunes, que contam apenas com 265 minutos entre eles – o valor desce para 23,73 sem estes dois. A do SL Benfica é 26,65 e a do FC Porto 25,85.

A equipa é jovem, mas a aposta nos jogadores não se fica pela sua presença no plantel. Dentro dos três grandes, o Sporting CP é, por uma larga margem, o clube que mais minutos tem dado ao longo da época aos seus jovens da formação. Se contarmos apenas os jogadores sub-23 (que tenham começado a época com ou abaixo dessa idade), eliminando assim das contas João Mário e João Palhinha (apesar de que este fez apenas os últimos dois anos de formação no Sporting CP) dos Leões e Sérgio Oliveira dos Dragões, verificamos que, em todas as competições, os formados em Alcochete têm 1,78 vezes mais minutos que os do Olival e 2,48 mais que os do Seixal.

Se contarmos apenas o tempo de jogo na Primeira Liga – FC Porto e SL Benfica têm mais minutos ao longo da temporada devido à presença em competições europeias – os números são ainda mais expressivos. Aumenta para 3,2 vezes mais em relação ao FC Porto, e para 3,55 para o SL Benfica. Aqui podemos também comprovar que a aposta do Sporting CP prende-se mais ao campeonato nacional, com um rácio de minutos na Primeira Liga em relação ao total de minutos superior aos outros dois clubes.

Desde a chegada de Rúben Amorim, apenas por uma vez o Sporting não alinhou com qualquer jogador sub-23 oriundo da formação. Curiosamente, foi num dos poucos jogos da presente temporada que os Leões não venceram, frente ao Famalicão. Mas os resultados também têm sido os mais positivos entre os “três grandes”.

O Sporting CP lidera neste momento o campeonato com uma vantagem considerável e vários dos destaques do plantel leonino da presente temporada são precisamente os jovens da formação. Nuno Mendes de apenas 18 anos foi recentemente convocado para a Seleção Nacional e tem suscitado muito interesse pela Europa. O jogador tem uma cláusula de rescisão fixada nos 70 milhões de euros e o encaixe financeiro numa inevitável venda vai ser dos maiores da história do Sporting CP.

Tiago Tomás começou o ano como titular e discutiu o lugar ao longo da temporada com Sporar. Terá agora a vida dificultada pela chegada de Paulinho, mas Rúben Amorim já referiu várias vezes que o jovem terá ainda assim oportunidades.

Gonçalo Inácio ganhou recentemente o lugar a Neto, e não parece querer abandoná-lo. Entrou ao intervalo para render o internacional português na jornada 18 contra o Gil Vicente e assumiu a titularidade nos seis jogos seguintes, incluindo uma exibição premiada com o troféu de melhor em campo no último jogo contra o Vitória SC onde marcou o único golo dos 90 minutos. Daniel Bragança tem também ganho cada vez mais espaço dentro das opções de Rúben Amorim, e foi pela primeira vez titular para a Primeira Liga contra o Vitória SC à jornada 24.

Mais que a quantidade de jogadores a serem opção, destaca-se o volume de minutos que os jogadores leoninos têm conseguido acumular. Nuno Mendes e Tiago Tomás são, por alguma distância, os jogadores mais utilizados, e só Diogo Leite tem mais minutos do que Gonçalo Inácio, o número três do Sporting CP nesta lista. E a diferença entre os dois centrais esquerdinos define-se pelos minutos em competições europeias que Diogo Leite já somou. No SL Benfica, se excluirmos os dois jogadores que já não estão no clube – Rúben Dias e Ferro -, apenas Diogo Gonçalves se aproxima dos já restantes jogadores mencionados.

A estratégia para o futuro do clube, pelo menos enquanto que Rúben Amorim permanecer, está definida. Questionado acerca da estreia de Dário Essugo, na última partida, o treinador falou não só da qualidade do jogador, mas também do plano a médio-longo prazo: “É mérito do Dário, e isto é também uma mensagem para os jovens jogadores, não interessa a idade, o Sporting está neste o caminho, aqueles que estiverem em dúvida entre clubes, sabem que aqui têm a porta aberta, isso por vezes faz a diferença“.
Recentemente, tanto FC Porto como SL Benfica perderam grandes talentos do futebol português antes destes atingirem o seu auge. Nos Dragões os casos mais óbvios são Rúben Neves, Diogo Dalot, Vítor Ferreira e Fábio Silva (apesar deste último ter saído por uma verba considerável). Já nas Águias, Bernardo Silva, João Cancelo, Ivan Cavaleiro e Hélder Costa todos saíram pela porta pequena da Luz, brilhando noutras paragens.
Aquilo que Rúben Amorim afirmou ser o plano do clube serve precisamente para contrariar este êxodo de talentosos dos clubes grandes em Portugal. E já começamos a ver os frutos dessa estratégia. Recentemente, um jovem de 14 anos da formação leonina, Joel Moura, assinou um vínculo com o Sporting CP. Em declarações difundidas pelo clube, o lateral-esquerdo afirmou que “gostava muito de ver Nuno Mendes a jogar na equipa principal“. É este o projeto do clube e do presidente, diz Rúben Amorim: “O projeto não é meu, era do Sporting, sou uma pequena peça, soube desde o início a ideia. Projeto é do presidente, do Hugo Viana, dos que estavam cá. Vejo as melhorias na Academia. Passa muito por aqui, temos de ir pela formação“.
Artigo editado por João Malheiro