O Likud, de Benjamin Netanyahu, venceu as eleições, mas sem maioria e por isso vai ter que fazer uma coligação, que está a deixar Israel num impasse.
A coligação formada por três partidos de extrema direita – Sionismo Religioso – superou as expetativas na eleição de Israel e, com 90% dos votos já apurados, deve obter entre seis e sete lugares no Parlamento de Israel.
Antes da eleição, analistas consideravam que a aliança, liderada pelo Partido Sionismo Religioso (oficialmente União Nacional), comandado por Bezalel Smotrich, ficaria de fora do Parlamento, abaixo do limite eleitoral de quatro lugares mínimos para participar no Knesset. Mas com 90% dos votos contados, Israel continua sem saber se alguma coligação terá maioria suficiente para formar um governo.
Outra surpresa é a entrada do pequeno partido islâmico de Mansour Abas, Raam, no Parlamento. De acordo com a contagem até a noite desta quarta-feira, Raam obteve pelo menos 3,5% dos votos, acima do limite mínimo de 3,25%.
Enquanto isso, o Likud, partido do primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, tem 30 lugares, seguido pelo Yesh Atid, de Yair Lapid, com 17.
“Está muito claro que a maioria dos israelitas é de centro-direita e deu ao Likud e aos partidos de direita uma grande vitória”, disse o primeiro-ministro.
Outro partido na posição de “fiel da balança” é o Yamina, liderado por Naftali Bennett, ex-ministro de Netanyahu. Deve assegurar para si sete lugares. “Farei apenas o que for melhor para o Estado de Israel”, disse Bennett na terça-feira, numa breve declaração após a divulgação dos resultados.
O Partido Trabalhista, de esquerda, liderado por figuras históricas como David Ben-Gurion, Golda Meir e Yitzhak Rabin, que dominou a política israelita no século XX, deve eleger apenas 7 deputados.
Se ninguém quebrar o impasse, Israel poderá ter em breve uma quinta eleição, em menos de 2 anos.
O Sionismo Religioso
Analistas afirmam que Netanyahu empurrou os partidos nanicos – conceito criado por cientistas políticos brasileiros para classificar os partidos políticos que não possuem ideologia ou mesmo objetivo de vitória eleitoral, só existem para conveniência de partidos e líderes maiores – da direita radical para uma aliança com o Otzma Yehudit (Poder Judeu) de Itamar Ben-Gvir, para que juntos consigam superar a barreira de 3,25% e apoiem a sua coligação de direita após as eleições.
Se os resultados se confirmarem, Ben-Gvir poderá disputar um cargo de ministro, numa coligação de governo. “Eu tenho um sonho”, disse Ben-Gvir. “Eu tenho um sonho que os soldados israelitas viverão numa nação que os defenda. Eu tenho um sonho que um governo de direita fortalecerá a identidade judaica deste país”, disse esta quarta-feira.
Ben-Gvir defende o incentivo à emigração forçada de cidadãos árabes que se recusem a declarar lealdade a Israel e a aceitar um estatuto inferior num estado judeu. Também apoia que Israel expanda sua soberania por toda a Cisjordânia.
Advogado polémico, Bem-Gvir também defende colonos judeus acusados de violência contra palestinos em território ocupado, suspeitos acusados de ataques terroristas de direita e judeus acusados de crimes de ódio, e representa o Lehava, uma organização que luta contra o casamento de judeus com não-judeus. Foi condenado, em 2007, por incitar o racismo, ao segurar cartazes, num protesto, com a frase “Expulse o inimigo árabe”.
No mês passado, Netanyahu assinou um acordo com a coligação Sionismo Religioso, do qual o Poder Judeu faz parte, prometendo cargos no governo em troca de apoio. O líder disse que Ben-Gvir faria parte de sua ampla coligação, mas “não era adequado” para ser membro do gabinete.
Nahum Barnea, um comentador do jornal mais vendido do país, o Yedioth Ahronoth, escreveu na quarta-feira que a ascensão do Sionismo Religioso “não é apenas um golpe moral, é uma catástrofe ideológica”.
“O Likud agora é um refém nas mãos de um grupo de pessoas antidemocráticas, racistas, homofóbicas e patrocinadoras do terrorismo”, escreveu Nahum Barnea. O Poder Judeu é tão radical que nem os defensores, geralmente firmes, do primeiro-ministro estão a aceitar a vitória.
O American Israel Public Affairs Committee (Aipac), grupo judaico nos EUA, chamou o Poder Judeu de um partido de extremistas ultranacionalistas “racista e repreensível“.
Além de Ben-Gvir, Avi Maoz parece ter uma vaga garantida no Knesset. Maoz é o líder do Partido Noam, que também integra a aliança e foi fundado em 2019 por seguidores do rabino Tzvi Tau. O partido pediu para livrar Israel do que vê como influências não judias e “estrangeiras” – que ele culpou “pela crescente aceitação do estilo de vida LGBTQ“.
Artigo editado por João Malheiro