Um “laboratório vivo” aprovado no âmbito do programa “Ambiente, Alterações Climáticas e Economia de Baixo Carbono”, promovido pelo EEA Grants (Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu), vai ser dinamizado na Asprela, em Paranhos. O programa “Asprela + Sustentável” foi financiado com um milhão de euros e tem o objetivo de complementar os compromissos assumidos pelo Porto no combate às alterações climáticas, bem como promover a economia circular.
Citado na nota publicada na página da autarquia, o vice-presidente da Câmara do Porto, Filipe Araújo, afirma que este é “um projeto criativo, inovador e abrangente, que demonstra bem a ambição do Porto em participar ativamente na transição energética e na descarbonização da cidade e da região”.
Contactada pelo JPN, Adelina Cabral, adjunta da presidência da Câmara Municipal do Porto, adianta que o arranque do laboratório está previsto “para o final do mês de abril”. O projeto tem um prazo de execução de três anos, e os resultados vão ser divulgados numa plataforma hub virtual, a “Asprela +++”, que vai permitir a recolha de dados sobre o impacto das medidas implementadas, como a redução da emissão de gases com efeito de estufa e a melhoria da qualidade do ar e da água.
O “Asprela + Sustentável” tem a liderança da Coopérnico – Cooperativa de Desenvolvimento Sustentável. Já a coordenação técnica é da responsabilidade da Agência de Energia do Porto, em colaboração com o Município do Porto e 14 parceiros, entre os quais a Associação Porto Digital, o INESC TEC e a Federação Académica do Porto (FAP).
O papel da FAP no projeto passa pelo “envolvimento da comunidade académica” do Porto e, “em particular, da Asprela”. Segundo a presidente da FAP, Ana Gabriela Cabilhas, trata-se de um compromisso por parte da Federação Académica do Porto “para a construção de uma cidade e de uma Academia cada vez mais sustentável e melhor para se estudar”.
Da energia à alimentação: os primeiros passos do “Asprela + Sustentável”
Das 18 medidas a serem implementadas pelo laboratório, é de destacar a iniciativa que vai permitir criar a primeira Comunidade de Energia Renovável do Porto, usando a energia solar. Esta será desenvolvida entre as habitações do Bairro da Agra, no Amial, e a Escola Básica da Agra, locais que terão um sistema fotovoltaico instalado. Isto permitirá o fornecimento de energia aos edifícios, sendo que o excedente vai ser destinado a sistemas de armazenamento de energia elétrica e a carregadores públicos de veículos elétricos. Para promover o envolvimento da comunidade, a escola vai receber um sistema que usa uma dinâmica de jogos para gerir a central fotovoltaica.
Além disso, o “Asprela + Sustentável” vai monitorizar e controlar a água das ribeiras do futuro Parque Central da Asprela e instalar bebedouros nos circuitos de atividade física e recreativa da zona.
Está ainda previsto o desenvolvimento de “Good Food Hubs”, iniciativas que visam dar informação, experiências e alimentos mais sustentáveis, fornecidos por produtores e associações que cumpram esses requisitos.
No que toca à promoção da economia circular, prevê-se o teste de baterias second life e vai também ser desenvolvido um sistema de reciclagem e partilha de computadores que promove a formação dos participantes na área – o programa “REBOOT”. Os equipamentos reparados vão ser, posteriormente, doados a crianças em condições económicas vulneráveis.
Um “laboratório vivo”
De acordo com Alexandre Lucas, investigador do INESC TEC, um “laboratório vivo” é diferente de uma experiência “controlada”, na medida em que num laboratório comum, tende-se “a isolar a variável de estudo” para evitar conclusões enviesadas por interferências externas.
Em algumas ciências, como as sociais, é recomendável que as variáveis externas, mais “imprevisíveis”, provoquem alterações na experiência e que esta “não seja tão controlada como num laboratório” – o que se aplica neste caso. Assim, o objetivo é que, na Asprela, se possa “permitir que essas variáveis externas estejam envolvidas”, experimentando em contexto real, conta ao JPN.
O “Asprela + Sustentável” tem ainda a particularidade de permitir o teste de políticas ainda não legisladas, que podem vir a sofrer uma expansão caso resultem naquela zona.
“Uma particularidade do laboratório vivo é que conseguimos trabalhar num contexto legislativo mais flexível, onde se tentam abordagens diferentes. Por exemplo, conseguimos testar cenários e propor formas funcionais de comunidade energética que podem ainda não estar legisladas ou ser diferentes do que está legislado”, explica o investigador do INESC TEC, cujo papel no projeto é o de “analisar fluxos energéticos” para decidir em que medida é que cada fator vai ser implementado no local.
Porquê a Asprela?
Responsável por 90% do conhecimento gerado na cidade e 20% do que surge a nível nacional, a Asprela é o berço da ciência e da tecnologia na cidade do Porto e reúne todo o potencial para o desenvolvimento do laboratório. Todos os dias, esta zona recebe cerca de 60 mil pessoas, entre estudantes, investigadores, docentes universitários, profissionais de saúde e trabalhadores de empresas ligadas à tecnologia e à inovação.
Artigo editado por Filipa Silva