A instabilidade governativa em solo castelhano parece não ter fim à vista e teve no dia de ontem um novo capítulo. Contrariamente ao que tinha acontecido no governo da região, foi aprovada uma moção de censura contra o presidente da câmara Municipal de Múrcia, José Ballesta, provocando assim a queda do governo municipal.

De referir que o mesmo procedimento que foi levado a cabo na região autónoma de Múrcia no dia 10 de março não conheceu luz verde, uma vez que três trânsfugas do partido catalão Ciudadanos recuaram no acordo do seu partido com os socialistas e aceitaram integrar um remodelado executivo do Partido Popular (PP).

Desta feita, o processo, sem os sobressaltos e a magnitude que marcaram a primeira investida, teve contornos distintos e foi aprovado com os 15 votos do Partido Socialista (PSOE), do Ciudadanos (C’s) e do Unidas Podemos, que somaram a maioria na autarquia. Em sentido contrário, José Ballesta, o dirigente do PP, reuniu somente os votos dos onze conselheiros do seu partido e os três do Vox, o partido de extrema-direita, vendo-se suplantado. Em reações ao veredito, José Ballesta e os conselheiros do PP mencionaram serem alvos de uma “traição à terra”, e a partilha de poder entre o PSOE e o C’s é “obscena”, tratando-se de “um plano urdido a partir da Moncloa”.

Assim, ficou consumada a reestruturação do governo municipal por apenas um voto de diferença e apenas uma semana após a derrota da moção de censura contra a presidência regional de Fernando López Miras, dirigente do PP, que juntamente com os seus deputados, somou o apoio do Vox e dos três deputados do C’s que renunciaram nas suas pretensões iniciais.

Esta alternância no xadrez político de nuestros hermanos acontece a 40 dias das eleições na comunidade de Madrid, antecipadas para o dia 4 de Maio, como consequência mais relevante e gravosa do anúncio das moções de censura em território murciano. Como na capital madrilena, o PP governava ali com o C’s, contudo, após consumada aliança entre Ciudadanos e PSOE em Múrcia, a presidente da região da capital espanhola, Isabel Díaz Ayuso, decidiu antecipar-se a uma manobra idêntica e dissolveu o parlamento regional, colocando assim término no pacto subscrito há dois anos com o Ciudadanos (C’s, centro-direita liberal).

O sucessor de José Ballesta  

O novo autarca da Câmara Municipal de Múrcia será o socialista José António Serrano, devendo permanecer no poder até ao término da atual legislatura, em 2023. Com este cenário em vista, os socialistas recuperam a principal câmara da região após 26 anos na oposição, agudizando ainda mais o clima de incerteza que paira sobre o espectro político castelhano.

José António Serrano

José António Serrano é o sucessor de José Bastellas e ficará no poder até 2023.

A resolução provocou reações imediatas e ainda no plenário Serrano destacou que “a moção de censura é uma ferramenta democrática e há razões por trás dela: contratos suspeitos, vacinações irregulares e facturas duvidosas”. “Não há aqui uma ambição partidária nem uma vingança calculada”, acrescentou o socialista.

José Angel Antelo, presidente do Vox Murcia também se mostrou contra a decisão, mencionando sentir uma “vergonha dantesca pela imagem que Múrcia está a transmitir e a região de Múrcia”.

Insatisfação gera agitação nas ruas

A insatisfação não se fez sentir apenas nas estruturas representativas do poder regional e centenas de pessoas insurgiram-se contra o veredito e saíram às ruas da cidade de Múrcia para protestarem contra a saída de José Ballesta. Entre aplausos como forma de agradecimento pela sua estadia no poder, e protestos no centro da capital murciana, ficou bem patente o descontentamento existente e as assimetrias que vão dividindo o país vizinho.


Com um governo nacional de coligação entre o PSOE e o Unidas Podemos, e com a informação prévia de que a escolha do Ciudadanos para negociar governos conjuntos cairia sempre sobre o PP, os acontecimentos de Murcia vieram acentuar uma Espanha pós bipartidarismo assente numa constante instabilidade política, provocando um verdadeiro terramoto político. Ao mesmo tempo que agudizaram uma crise profunda no Ciudadanos, e na presidência da sua timoneira, Inés Arrimadas, abriram portas a uma verdadeira batalha pelo futuro de Madrid.

Se o clima de incerteza se vai adensando sobre o universo político castelhano, as eleições para a Comunidade de Madrid de dia 4 de maio afigurar-se-ão como imprescindíveis em busca de uma acalmia e de uma estabilidade que tardam em se estabelecer.

Artigo editado por João Malheiro