A pandemia teve um forte impacto em todo o setor do fitness. Os instrutores de aulas de grupo estão impedidos de trabalhar, o que já deu deu origem a muitos pedidos de auxílio financeiro e alimentar dirigidos à Manz, a empresa que se assume como líder do setor em Portugal.
De forma a dar resposta à situação, o grupo lançou a campanha “De Mãos e Pés Atados”, com o objetivo de reunir apoios para os instrutores de fitness no país. André Manz, diretor da empresa, refere, em carta aberta, que nos 30 anos que leva de atividade no setor nunca viu nada assim: “já não sabemos como ajudar”, afirma.
Para além da questão financeira, a Manz reivindica, também, através do movimento, e em comunicado de imprensa, a equidade entre a abertura das salas de exercício dos ginásios e das salas de aulas em grupo: “São espaços complementares, ambos relevantes e que, nas mesmas condições de número de pessoas por metro quadrado, distanciamento social e desinfeção de equipamento, não há qualquer motivo e/ou evidência científica para esta distinção”, afirma o fundador da empresa, André Manz.
A situação precária e a falta de apoio
Em comunicado, a empresa sublinha dos “25 mil instrutores de aulas de grupo” no país, “mais de 70% destes profissionais são trabalhadores independentes” que foram afetados pelo encerramento dos ginásios, pela escassez de apoios e de fontes de rendimento alternativas.
No âmbito das restrições impostas, o fundador da empresa destaca a importância do fitness na sociedade, “não só pelo pilar que o exercício físico desempenha na saúde do organismo, mas também pela ligação direta que o mesmo tem na promoção do bem-estar de cada um”.
Neste sentido, André Manz salienta que o atual plano de desconfinamento não é suficiente, já que as medidas anunciadas pelo Governo proíbem a realização de aulas de grupo: “As ajudas não são suficientes. A solução das aulas online não é suficiente. E os ginásios a menos de meio gás não chegam”, refere na carta aberta da empresa. Tendo em conta que há uma “grande maioria de profissionais que são instrutores de aulas de grupo”, e considerando que essas aulas, de acordo com o plano de desconfinamento, não serão permitidas por mais um mês, a empresa vê nesse “mais um [problema] a acumular a uma situação de desespero no setor.”
Testemunho dos profissionais: “Não vemos um futuro positivo”
Em consequência da paragem a que a pandemia obrigou, André Manz refere o estado de saúde mental dos profissionais que, “embora na sua atuação primem por inspirar o outro, se encontram num estado crescente de desmotivação”.
A empresa reuniu, a propósito, alguns testemunhos num vídeo, com vários profissionais do setor a relatarem as dificuldades que estão a passar e adaptações que a pandemia exigiu.
Num tom de cansaço e desespero, Jorge Costa, um dos instrutores a dar o seu testemunho, explica que a situação pandémica implicou uma reinvenção. O instrutor teve de “arranjar formas para começar a sobreviver” o que o levou a fazer tartes fit. Jorge destaca que em determinados dias está dependente da venda de uma tarte para se alimentar.
Outro testemunho é de Nuno Pantana, que afirma que todo o contexto de incerteza relativamente à abertura ou fecho dos ginásios criou nos profissionais uma falta de motivação: “Não vemos um futuro positivo”, afirma o instrutor de 28 anos.
A revolta dos profissionais de fitness justifica-se também pelo desprezo de que dizem ser alvo. Sandra Dias, também ela instrutora, refere no vídeo que o papel dos instrutores para uma sociedade saudável “é muitas vezes esquecido e relegado para segundo e terceiro plano”. Acrescenta, ainda, que a gravidade da situação leva a que muitas vezes estes profissionais não tenham capacidade de pagar as contas.
Marta Siu, outra testemunha, garante que desde janeiro só recebeu um ordenado de 270 euros.
Para a inscrição na iniciativa como beneficiário, o processo é simples, “sendo apenas necessária a submissão do certificado da cédula profissional válida como único comprovativo de enquadramento”.
Através do comunicado de imprensa, o grupo apela à contribuição com uma doação para a iniciativa “De Mãos e Pés Atados” através da plataforma GoFundMe. No final da campanha, a empresa procederá à divisão equitativa do valor angariado, tendo em conta o número de inscritos.
Dependendo do alcance da iniciativa, a campanha terá uma duração máxima de um mês, até dia 17 de abril. Em carta aberta, o grupo Manz afirma que a angústia dos instrutores de aulas de grupo “precisa de um basta”, porque o “movimento é saúde”.