O relatório que dá conta de uma nova estratégia estabelecida entre o continente europeu e o africano, apresentado pelo português Carlos Zorrinho, eurodeputado do PS, foi aprovado esta quinta feira, pelo Parlamento Europeu com 460 votos a favor, 64 votos contra e 163 abstenções.
A ideia central é a de reforçar uma parceria que “vá além da relação doador-beneficiário”, onde ambos os continentes cooperam mutuamente, de igual para igual. Esta “relação mais profunda” entre as duas partes será formalizada na próxima cimeira União Europeia-África, prevista para este ano, mas sem data definida dadas as restrições motivadas pela Covid-19.
A Europa, cada vez mais tem privilegiado as relações multilaterais com África, vincada essencialmente pela presidência portuguesa, cujo principal objetivo é estabelecer entre os continentes uma promoção de “desenvolvimento sustentável e inclusivo”. Através desta parceria, Europa e África rumam aos mesmos fins, ao nível político, económico, social e ambiental.
Carlos Zorrinho, coautor do documento defende que é urgente estabelecer uma estratégia abrangente com África, numa altura em que o mundo foi confrontado pelas medidas protecionistas, nomeadamente na era Trump, que levaram à competição direta entre vários países pelo poder.
Em declarações ao JPN, Bernardo Ivo Cruz, responsável pelo pelouro de relações com África na Representação de Portugal junto da UE, esta estratégia é fundamental já que “a União Europeia é o maior parceiro de África em praticamente todos os domínios. É a organização que mais contribui com os apoios para programas de desenvolvimento”, realçando que os modelos de investimento aplicados pela UE e pela China são completamente distintos.
“Enquanto que a Europa faz uma parceria para o desenvolvimento que não cria dívida para o lado africano, ou seja, não sobrecarregamos os nossos parceiros com dívida que depois terá de ser paga, no modelo chinês é diferente”, afirma o diplomata. Bernardo Ivo Cruz destaca ainda, a importância de outros aspetos para além do crescimento económico “o desenvolvimento social vai desde a criação de emprego, a melhoria da condição de vida das pessoas e isto é o coração da agenda para o desenvolvimento europeu”.
Por outro lado, para o especialista em assuntos africanos e do desenvolvimento, Fernando Jorge Cardoso, o plano da estratégia muda de figura: “Do ponto de vista económico, o que os estados africanos necessitam é de menos conversa sobre a quimera das integrações regionais e de mais foco no desenvolvimento de infraestruturas e de criação de mercados internos“, justificou, afirmando que, apesar da China não agir de forma desinteressada, neste aspeto, conseguiu ser mais eficaz que a UE.
O investigador acrescenta que o acordo está baseado num “pressuposto falacioso“, uma vez que cria a ideia da existência de parceiros iguais e tal não acontece, já que nunca foram apresentados planos africanos para a Europa.
“Quem dá controla e gere o dinheiro – e é natural que assim seja. O mal não está na existência de ajuda, mas sim em a qualificar como cooperação ou aliança – prática corrente dos dois lados, diga-se de passagem”, conclui o especialista.
Esta quarta feira iniciou-se o período que contará com conferências virtuais entre países africanos e europeus, no âmbito do desenvolvimento sustentável e o investimento verde. Estas “Green Talks” prolongam-se até o dia 23 de abril, o mesmo dia em que Lisboa acolhe Fórum Europeu de Investimento Verde UE-África, em formato híbrido e que será o colorário desta parceria entre os continentes.
Artigo editado por João Malheiro