A atravessar um crescimento “constante” nos últimos anos, a RunPorto “levou um estalo” chamado pandemia. Pouco mais de um ano passado, Jorge Teixeira, fundador e diretor-geral da empresa, só tem uma certeza: “só sairemos de novo para as ruas quando, para mim, for seguro”.

Antes da forçada interrupção das caminhadas e corridas que a RunPorto organiza – para miúdos e graúdos, diurnas e noturnas, de curta, média e longa distância -, a associação contava já com perto de 150.000 participantes que aproveitam os vinte eventos anuais para praticarem desporto num ambiente informal e familiar.

De todas as corridas organizadas, o destaque vai para a São Silvestre do Porto, para a Meia Maratona e para a Maratona do Porto, provam em que dezenas de milhares de participantes pintam as ruas da cidade Invicta, mas que levam também ao Porto atletas de todas as nacionalidades para concorrerem nestas provas e levarem o prémio monetário e a medalha para casa.

É com saudade que Jorge Teixeira recorda os tempos em que “os amigos” se reuniam para “uma corrida repleta de bom ambiente”. A RunPorto, pelas suas mãos, manteve-se viva, mas precisou de uma reestruturação na forma como se mantém em contacto com os atletas: “começamos a fazer treinos virtuais e até mesmo corridas virtuais”, conta. Foi uma forma de “manter contacto com as pessoas e de as ir motivando”, na perspetiva de que o que já foi feito no passado possa voltar a ser feito no futuro.

Corrida da Mulher em maio
A próxima prova da RunPorto é a Corrida da Mulher marcada para os dias 22 e 23 de maio. Será a primeira edição desta prova no formato virtual. Como tem sido hábito nas edições passadas, uma parte do valor de inscrição reverte para o IPO-Porto.

O novo formato digital – em que cada inscrito corre por sua conta, fazendo o registo do tempo obtido – não é, de todo, “o ideal”. Numa prova como a São Silvestre, que “atrai facilmente perto das 15 mil inscrições”, em dezembro passado, participaram neste modelo cerca de 4 mil pessoas. É menos de um terço do habitual, mas, dadas as circunstâncias, “não é um mau resultado”, na opinião de Jorge Teixeira.

“Muitos amigos do atletismo estão muito mal”

As dificuldades, no entanto, não se colocaram só do ponto de vista da organização e logística. Muitos atletas profissionais que corriam nos eventos da RunPorto aproveitavam para competir ao mais alto nível, com as medalhas e respetivos prémios monetários em mente.

Rui Pedro Silva Foto: Rui Pedro Silva/Facebook

É o caso de Rui Pedro Silva, campeão em várias edições da São Silvestre e de muitos outros eventos, que tem conseguido manter o foco “com a ajuda do clube”, o Sporting CP. Segundo o atleta, os “leões” foram dos poucos que não retiraram o apoio ao atletismo, mas reconhece que muitos colegas não têm a mesma sorte: “já falei com muitos amigos do atletismo que estão muito mal… muitos chegam só a receber 100 euros por mês dos seus clubes”.

Em declarações ao JPN, Jorge Teixeira e Rui Pedro Silva confessaram haver também uma preocupação quanto ao atletismo de formação. O atleta do Sporting considera mesmo que o futuro do atletismo está em risco, uma vez que “os clubes mais pequenos são os que investem mais na formação” e esses são precisamente “os que estão a fechar portas”. O diretor-geral da RunPorto alinha pela mesma bitola, sublinhando que passar por esta pandemia é difícil para qualquer pessoa, “mas principalmente para os mais jovens”.

Jorge Teixeira ressalvou a importância de retomar os eventos que a empresa já organizava antes da paragem, mas não deixa escapar a possibilidade de criar novos formatos e novas corridas. Já para o experiente atleta, a maior preocupação quanto ao futuro recai sobre a possibilidade de no regresso às estradas não vir a reencontrar amigos “que por força maior tiveram que colocar o atletismo em segundo ou terceiro plano”.

Artigo editado por Filipa Silva