Os Bandevelugo apresentaram-se a 27 de março, Dia Mundial do Teatro, como um novo grupo teatral do território de Oliveira de Azeméis. O conjunto pretende fazer uma fusão das obras teatrais com a região.

Nós queremos combinar a nossa produção de espetáculo entre a dramaturgia e a literatura já existentes, mas queremos também partir daquilo que é a memória imaterial deste território”, esclarece ao JPN João Amorim, ator e porta-voz do Bandevelugo.

Bandevelugo Toireco é um deus pré-romano sobre o qual se sabe muito pouco. “Desde logo esse mistério interessou-nos”, começa por contar João Amorim. Formado em Teatro e Educação na Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), o jovem ator explica que a figura mítica teve já um templo no local onde agora se encontra o castelo de Santa Maria da Feira, território ao qual Oliveira de Azeméis pertenceu até ao século XVIII.

Tendo o património cultural do concelho como base, o novo grupo teatral pretende aproximar os cidadãos oliveirenses do teatro profissional. João Amorim é natural da Carregosa, freguesia de Oliveira de Azeméis, e admite que, enquanto artista, este sempre foi um dos seus objetivos.

A escassez de oportunidades profissionais aliada à chegada da pandemia, que forçou a paragem do setor, impulsionou o projeto. Depois de “sentar, planear e desenvolver” a ideia, o ator contactou colegas de profissão e de antigos projetos em Coimbra, “entre a ESEC, o Teatrão e a Casa da Esquina”, para participarem na primeira digressão “em regime de convidados”.

Design Gráfico de Pedro Santos Design Gráfico de Pedro Santos

Disseminar o teatro é o mote principal dos Bandevelugo. Após ter integrado grupos em Coimbra e Aveiro, João Amorim pretende agora estimular a vida cultural de Oliveira de Azeméis e contribuir para aproximar a arte do espetáculo de quem não vive nos centros urbanos. “Acho que cabe a nós artistas lutar por tornar o sítio certo para trabalhar outros sítios que não aqueles que nós já conhecemos. Continuar a eternizar essa ideia do sítio certo para se fazer teatro, para se assistir a uma programação cultural, é até perverso porque estamos a assumir que só as populações dos grandes centros têm direito a uma programação cultural próxima”, afirma.

O livre acesso à cultura é “um direito que está na Constituição”, relembra o ator, que afirma ter um forte vínculo ao local onde nasceu. “Custa-me estar fora deste território e custa-me essencialmente investir em sítios onde o teatro já existe”, sublinha João Amorim. Esta escassez de atividades culturais nas regiões interiores e periféricas do país é algo que “incomoda” o artista, que ambiciona, através desta iniciativa, “fazer parte da solução”.

Para tal, os Bandevelugo já anunciaram a sua primeira digressão que começa com a peça “A Tempestade”, de William Shakespeare. O líder do grupo teatral explica que “sabia que queria partir de um clássico, pois não conseguiria imaginar a injustiça que pode ser as pessoas passarem uma vida inteira sem terem contacto com uma peça de Shakespeare”.

Para além disso, o grupo faz ainda uma analogia entre a narrativa da peça – que conta a história de um duque abandonado numa ilha deserta e salvo da morte pela literatura – e a realidade vivida no território. “Aqui, em Oliveira de Azeméis, é na mesma essa ideia de que pode ser o teatro e a literatura que nos pode ajudar a construir e a desenvolver uma comunidade diferente e a própria tempestade ajudar a instalar uma criação regular que até agora foi também abandonada por décadas de desinvestimento público nesta região”, informa João Amorim.

Este primeiro projeto nasce com o apoio da Direção-Geral das Artes (Organismo do Ministério da Cultura) e da Câmara Municipal Oliveira de Azeméis o que, refere o ator, possibilita que “se possa fazer um investimento artístico que permita legitimar e valorizar ainda mais este trabalho”, pagando aos profissionais para que se possam dedicar ao espetáculo a tempo inteiro.

Apesar de se apresentarem com uma digressão que percorrerá as várias freguesias, os Bandevelugo não se assumem como uma companhia de teatro itinerante, uma vez que ocupam todo o concelho. “A nossa casa é todo o território de Oliveira de Azeméis”, explica o porta-voz. A estreia d’ “A Tempestade” está marcada para o dia 29 de outubro e será apresentada em diferentes locais a partir daí, todas as sextas, sábados e domingos durante o mês de novembro.

Artigo editado por João Malheiro