A Divisão de Elite da Associação de Futebol do Porto (AF Porto) regressa no dia 9 de maio, após uma paragem forçada desde janeiro. A decisão foi comunicada aos clubes numa reunião geral decorrida na segunda-feira.
Rui Sousa, responsável pelo departamento de comunicação da AF Porto, explica que a participação na competição não será obrigatória: “O que acontece é que, como explicamos no comunicado, os jogos são facultativos. Nenhum clube está obrigado a jogar, nem ninguém descerá de divisão nesta temporada. Entendemos que esta é uma situação particularmente complicada para os clubes e para os jogadores por vários motivos. Além de haver clubes sem verbas para conseguirem retomar agora, há atletas que estão pressionados pelos patrões onde trabalham diariamente para não jogarem. Não podemos obrigar ninguém”, afirmou ao JPN.
Quem manifestar vontade para continuar a competir, vai ser distribuído por potes, segundo a classificação atual, e “num molde parecido com a fase de grupos da Champions” serão formados grupos de quatro equipas por sorteio. O objetivo é que sejam disputados três jogos em casa e três fora. Segue-se uma fase de jogos a eliminar até ao apuramento de uma ou duas equipas para subir ao Campeonato de Portugal. Neste momento, é ainda incerto o número de equipas interessadas em disputar esta fase final, pelo que o número de grupos e de eliminatórias é também desconhecido.
Até ao próximo dia 11 de abril, os clubes da Divisão de Elite que não pretendam jogar mais na presente época têm de comunicar essa vontade à AF Porto. Excecionalmente, as equipas que assim não conseguirem disputar os 50% de jogos (17 dos 34 de uma época normal) para o seu percurso no campeonato ser homologado – como prevê o regulamento – serão alvo de um coeficiente que calculará a posição final mediante a divisão entre os pontos obtidos e os encontros disputados.
Para os que prosseguirem a competição, no caso de a competição ter de ser interrompida, há também uma solução pensada no que toca à subida de divisão ao Campeonato de Portugal: “Logicamente, não contamos com um novo confinamento e esperamos que isso não aconteça. Mas caso tenhamos esse cenário em mãos, a AF Porto comunicará à FPF [Federação Portuguesa de Futebol] o primeiro classificado entre as duas séries com mais pontos no momento da paragem [em janeiro]. No caso de termos mais uma vaga, sobe o líder de cada série”, explicou ainda Rui Sousa.
Sobre o controle da pandemia no decorrer da competição, o presidente da AF Porto, José Manuel Neves, garantiu, em entrevista ao “JN”, que “não será pelas despesas com a testagem que alguma equipa deixará de poder fazer parte das provas”. “A partir de agora, contamos poder começar a distribuir as verbas de ajuda às quais os clubes se candidataram”, assegurou também. Quanto à taxa de jogo, a AF Porto considerou necessário continuar vigente para “pagar aos árbitros por cada jogo, juntamente com o policiamento”.
Como em todo o desporto nacional, os jogos da Divisão de Elite serão à porta fechada para evitar a propagação da Covid-19.
Clubes têm posições divergentes
A favor da retoma estão clubes como o Gondomar B e o CD Candal, atuais sexto e nono classificados na Série 1 da Divisão de Elite da AF Porto.
Aquando da paragem da competição, a formação B do conjunto gondomarense contava com 21 pontos somados em 14 jornadas. pelo que lhe faltavam apenas três jogos para terminar a primeira volta do campeonato. Já ao CD Candal faltavam ainda cinco, já que a equipa tinha dois jogos em atraso devido a casos de Covid-19 no seu conjunto ou nos conjuntos rivais à data dos encontros.
Questionados pelo JPN para comentar o possível reatar dos jogos, tanto um clube como o outro mostraram-se motivados para colaborarem com a Associação de Futebol do Porto no que consideram ser “uma decisão difícil”.
Álvaro Cerqueira, presidente do clube de Gondomar, afirmou mesmo já estar pronto para a retoma: “nunca parámos os treinos, à espera deste dia”. Os jogadores do Gondomar “são todos federados” e todos eles, sem exceção, prosseguiram com os treinos e clube foi fazendo a sua parte de “pagar aos jogadores”, acrescentou.
Num cenário de estabilidade em termos de compromissos entre jogadores e clube, Álvaro Cerqueira recordou que este pode não ser o cenário de outros clubes na mesma divisão: há “jogadores que já não estão a receber devido à paragem e se só voltarmos em setembro, ainda menos recebem”, comenta.
Quanto à forma como pretende abordar este regresso em termos de testagem e de acompanhamento ao plantel, o presidente referiu que o clube gondomarense já efetuava testagem aos seus jogadores: “ainda hoje de manhã [quarta-feira, 7] tive de fazer testes a 32 atletas e no dia 19 começam os treinos das camadas jovens. São cerca de 300 e nenhum entra no estádio sem ser testado”, afirma.
Na mesma linha de pensamento quanto à decisão da AF Porto apresenta-se Ismael Martins, presidente do Clube Desportivo do Candal. A “verdade desportiva” foi várias vezes referida nas declarações ao JPN, uma vez que a AF Porto ainda terá que indicar quem sobe ao Campeonato de Portugal.
Na opinião do presidente do conjunto de Vila Nova de Gaia, a definição do campeão de cada série apenas deveria ser feita quando todos os clubes tivessem jogado o mesmo número de jogos: “os clubes que estão em primeiro lugar terem mais jogos que os que estão em terceiro e quarto não deveria acontecer”, diz. Por esta razão, Ismael Martins seria favorável a que se deixasse jogar pelo menos até ao final da primeira volta.
No que diz respeito ao seu clube, Ismael Martins afirma que se o campeonato terminasse com a tabela classificativa no estado atual o Candal “sairia prejudicado”, porque dos cinco jogos que lhes faltam realizar “quatro são em casa”.
Posição diferente sobre a retoma dos jogos da principal divisão distrital de futebol sénior do Porto tem Guilherme Baldaia, presidente do Avintes, atual líder da Série 1 da Divisão de Elite. O líder do clube de Gaia afirma-se dividido sobre a retoma da competição devido a “dois problemas: um de saúde pública e outro de verdade desportiva.”
O responsável considera preocupante o facto de haver clubes prontos a apresentarem equipas repletas de altetas sub-23 e sub-19, devido à falta de jogadores disponíveis. E evoca o perigo de um novo confinamento, que “pode pôr em causa até o próprio regresso da competição, caso até maio haja novo recolhimento.” Evoca, por isso, uma sugestão: “retomar apenas a fase final entre os dois primeiros classificados de cada série para apurar quem sobe ao Campeonato de Portugal”. Apesar disso, a decisão da AF Porto está tomada e o campeonato vai mesmo retomar no novo modelo. Guilherme Baldaia garante, em qualquer caso, que o Avintes apoia qualquer decisão e apresentar-se-á para jogar, se para isso for solicitado.
Já o presidente do Ermesinde, Rui Almeida, queixa-se de ter sofrido “vários casos [de Covid-19] ao longo da época que exigiram isolamento profilático de toda a equipa”. É perentório e repudia a decisão do organizador da prova, além de duvidar da viabilidade da competição num cenário de possível recolhimento geral da população portuguesa. “Os campeonatos não devem retomar”, diz. “Há uma paragem de três meses que consideramos demasiado larga e que vai impedir que possam ocorrer todos os jogos até às data limite de 30 de junho. Tenho sérias dúvidas de que a AF Porto consiga executar a retoma do campeonato. O índice de transmissibilidade do coronavírus está a aumentar e corremos o risco de nem sequer podermos jogar e treinar em maio”, concluiu.
O Perosinho, outro clube que não se mostra a favor da decisão da AF Porto, sofreu grandes golpes financeiros com a pandemia, dado a ausência de adeptos nas bancadas e a paragem da prova. O líder da organização de Gaia, João Vilaverde, queixa-se sobretudo do facto de não conseguir neste momento suportar os custos de manutenção do próprio estádio, além da dificuldade de os jogadores se deslocarem para os treinos e os jogos.
“Eu vim agora do estádio e aquilo está tudo degradado. Não sei como é que vamos fazer o tratamento da relva, limpeza dos balneários, etc. A nossa camioneta está parada desde o último jogo, nem sei se ainda funciona. A situação é difícil, não sei se consigo motivar os jogadores a voltar. Alguns jogadores mostraram-se reticentes, porque a deslocação até ao estádio é muito dispendiosa para alguns deles. Eles querem jogar e treinar para depois poderem receber ao fim do mês”. De todo o modo, o clube está disponível para competir: “Não vamos desistir, vamos para a guerra com as armas que temos”, declarou ao JPN.
A competição está de regresso no fim de semana de 8 e 9 de maio.