O Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos recebeu, este sábado, a primeira ronda da Final Four, num dia que ficará para a história do Imortal, clube de Albufeira que venceu o SL Benfica por 92-88, num jogo marcado pelas lesões no conjunto algarvio que, mesmo assim, acabou por garantir a presença, pela primeira vez, na final da Taça de Portugal de Basquetebol masculino.

Na segunda meia-final, o líder do campeonato Sporting CP vingou a derrota na final da Taça Hugo dos Santos perante o FC Porto, vencendo os “azuis e brancos” por 85-78, estando assim a uma partida de reconquistar o troféu pela segunda vez consecutiva e a sétima da sua história. O jogo decisivo está marcado para este domingo, às 16 horas, em Matosinhos.

SL Benfica x Imortal LUZIGÁS: Recordistas de vitórias contra possíveis estreantes

A primeira meia-final da Taça de Portugal 2020/21 colocava frente a frente o SL Benfica e o Imortal LUZIGÁS, equipas que se encontram, respetivamente, no terceiro e quarto lugar do campeonato, em igualdade pontual.

No lado das “águias”, o técnico Carlos Lisboa apostou em Nic Moore, reforço mais recente do clube encarnado, para a posição de base, acompanhado das escolhas habituais Bryce Alford, Quincy Miller e João “Betinho” Gomes. Cameron Jackson foi o escolhido para jogar a poste, com o experiente Eric Coleman a começar a partida no banco.

Luís Modesto, treinador do Imortal, trouxe o cinco inicial habitual para o jogo mais importante da história do clube algarvio, que podia, em caso de vitória, marcar presença pela primeira vez na final da Taça de Portugal de Basquetebol. Este cinco era composto pelos norte-americanos do conjunto de Albufeira, com Ty Toney a base, Tanner Omlid e Derrick Fenner Jr. em zonas exteriores, e Jalen Jenkins e Tyere Marshall a ocuparem áreas mais interiores.

Muita eficácia das “águias” e a lesão de Jenkins

O início do primeiro encontro da Final Four trouxe um ritmo frenético a Matosinhos, com poucas faltas e sem grandes paragens na partida. Nic Moore, base do SL Benfica, entrou bem na partida e esteve presente em praticamente todos os ataques de sucesso dos encarnados, marcando oito pontos e perfazendo 4 assistências nos primeiros seis minutos de jogo.

A ausência de Eric Coleman no cinco inicial das águias permitiu ao Imortal um maior controlo na luta das tabelas, com Tyere Marshall a criar segundas oportunidades para os algarvios através dos ressaltos ofensivos.

Apesar dessa clara vantagem no capítulo ofensivo, a turma de Luís Modesto ia sobrevivendo na contenda graças aos esforços de Jalen Jenkins e Tanner Omlid, ambos com oito pontos no final do primeiro quarto.

As dificuldades do Imortal na defesa eram por demais evidentes na primeira parte, e o Benfica aproveitou para carregar no jogo interior, com “Betinho” Gomes e Quincy Miller, ex-jogador dos Denver Nuggets (NBA), a marcarem 14 dos 30 pontos obtidos pelas “águias” no primeiro quarto.

Após o primeiro período, o marcador indicava 30-21, uma vantagem de nove pontos para os encarnados, que foi-se mantendo ao longo do segundo quarto. Do banco, o SL Benfica apresentava sempre uma maior rotação de jogadores, com Rafael Lisboa, Eric Coleman, Arnette Hallmann, Tomás Barroso e Fábio Lima a contribuírem ao longo do encontro.

Do lado algarvio, a aposta inicial consistia numa rotação de sete jogadores, com o extremo/poste António Monteiro e o capitão de equipa Nuno Morais a darem importantes minutos de descanso às principais armas ofensivas do Imortal.

Um dos momentos da primeira parte aconteceu quando faltava apenas um minuto e 30 segundos para o término do segundo quarto. Jalen Jenkins, que até então era o melhor marcador do Imortal com 13 pontos, lesionou-se gravemente no joelho esquerdo, após uma disputa de bola, numa altura em que estava bem no jogo, tornando-se assim numa ausência de peso para Luís Modesto.

Jalen Jenkins (Imortal) estava a ser um dos melhores jogadores em campo até à lesão. Foto: FPB

As vantagens no pintado, especialmente após a saída de Jenkins, permaneceram claras para o SL Benfica, que terminou a primeira parte a vencer por quatro pontos, muito por culpa de Quincy Miller, que acumulou 15 pontos na primeira parte e estava, até então, a ser o melhor jogador da partida.

O extremo do Imortal Derrick Fenner Jr., mais conhecido por DJ Fenner, marcou apenas cinco pontos nos primeiros dois quartos, ele que é o melhor marcador do campeonato, com uma média a rondar os 20 pontos por jogo. No término do segundo período, as “águias” saíam com uma vantagem de quatro pontos sobre o Imortal de Albufeira, com o resultado fixado em 51-47 na saída para os balneários.

O “herói” Tanner Omlid no centro da concretização do sonho algarvio

O terceiro quarto trouxe um equilíbrio constante no encontro, sendo que as mudanças ofensivas foram notadas em cada lado do campo. Após o domínio do pintado na primeira parte, o SL Benfica apostava mais em situações de lançamento exterior e o Imortal recorria às qualidades inatas de DJ Fenner e a um jogo mais individual para trazer outros elementos que estiveram ausentes no primeiro tempo.

“Betinho” Gomes, eleito jogador da década na Liga e um dos melhores basquetebolistas portugueses de todos os tempos, começou o terceiro quarto a mostrar toda a sua qualidade. Aos 35 anos, o extremo internacional português levava, ao final do terceiro quarto, 17 pontos marcados.

Apesar das dificuldades de defensivas que o conjunto de Albufeira apresentou nos primeiros vinte minutos, Tanner Omlid mostrou as suas reconhecidas capacidades nesse lado do campo, com um jogo versátil recheado de desarmes de lançamento e roubos de bola.

Perto do final do terceiro período, o azar volta a aparecer para o Imortal, desta feita com a lesão de Tyere Marshall, poste americano, que deslocou o ombro direito numa disputa num choque com o veterano Eric Coleman. Com a ausência dos dois principais jogadores interiores, Luís Modesto promoveu a estreia de Hugo Sotta na partida, que, juntamente com António Monteiro, formavam a nova dupla dos algarvios.

Os últimos dez minutos foram cheios de emoção e incerteza até ao último segundo do encontro, com um herói a aparecer para salvar uma equipa que parecia abalada com as lesões: Tanner Omlid.

Um dos jogadores que veio com a equipa desde a Proliga (segunda divisão de basquetebol masculino), Omlid foi uma autêntica carraça defensivamente, e com “apenas” um metro e 92 centímetros, foi o protetor do cesto algarvio.

A onze segundos do final, Tanner Omlid voltou a ser protagonista, desta feita do outro lado do campo, marcando o último cesto do encontro e fixando o resultado final em 92-88. O extremo/base americano de 27 anos foi o melhor jogador da partida, com uma linha estatística impressionante: 19 pontos, sete ressaltos, seis assistências, seis desarmes de lançamento e três roubos de bola. DJ Fenner terminou a partida também com 19 pontos e foi fundamental para o crescimento ofensivo do Imortal.

No SL Benfica, Quincy Miller terminou com um duplo-duplo, 21 pontos e 13 ressaltos, mas a descida de rendimento na segunda parte foi notória e só mesmo ”Betinho” Gomes manteve as “águias” na discussão do encontro, com 19 pontos e cinco ressaltos.

No final da partida, Luís Modesto, treinador do Imortal LUZIGÁS, destacou a importância desta vitória, revelando que está “há 34 anos no Imortal e este é o momento mais feliz no clube”. Para além de destacar “a qualidade dos jogadores e o espírito guerreiro” da equipa, o técnico referiu que, apesar dos problemas físicos de Marshall, Jenkins e Monteiro, a final de amanhã “é mais uma batalha, vamos jogar com os jogadores que estiverem disponíveis e vamos jogar até ao fim”.

Já Carlos Lisboa, treinador do Sport Lisboa e Benfica, mostrou-se desagradado com os seus jogadores, afirmando que no último período a equipa “deixou de jogar, deixou de atacar, deixou de defender e de fazer tudo o que tínhamos feito bem até aí”, visivelmente desapontado com a eliminação dos “encarnados” na meia-final da Taça de Portugal de Basquetebol.

Sporting CP x FC Porto: O duelo entre favoritos

No segundo encontro da Final Four, o duelo entre Sporting CP e FC Porto perspetivava-se como uma final antecipada, estando presentes os dois conjuntos que ocupam as posições cimeiras da Liga, com vantagem nesse capítulo para os “leões”.

O treinador do Sporting CP, Luís Magalhães, apresentou em Matosinhos o cinco inicial habitual, com Diogo Ventura a base, Travante Williams e Ellisor a jogar no exterior, João Fernandes como extremo/poste e John Fields a ocupar o pintado.

Do lado portista, Moncho López trouxe algumas surpresas para o princípio do jogo, com a titularidade de Francisco Amarante e Tanner McGrew, algo também habitual no treinador espanhol, que promove constantemente muita rotação no seu plantel, seja durante o encontro, ou até mesmo no cinco inicial.

O compromisso defensivo dos “leões”

Os primeiros minutos do jogo foram bons para a equipa de Alvalade que cedo se colocaram a vencer por 10-2, um início de encontro difícil para o FC Porto que mostrava dificuldades em encontrar caminhos para o cesto, num confronto entre duas das melhores defesas do basquetebol nacional. O base internacional português Diogo Ventura trouxe clarividência ao ataque leonino, com cinco pontos nos primeiros quatro minutos de jogo e a pautar os diferentes ritmos na organização ofensiva do Sporting CP.

A partir do desconto de tempo pedido por Moncho López, quando faltava cerca de quarto minutos para término do primeiro quarto, foi a vez da equipa portista tomar conta do encontro, especialmente através do jogo exterior. A entrada de Eric Anderson trouxe mais solidez nos bloqueios e o FC Porto conseguiu criar espaço para os seus atiradores, especialmente Tanner McGrew, sendo que 15 dos 19 pontos marcados pelos “dragões” no primeiro período foram da linha de três pontos.

Os dez minutos iniciais mostraram assim um pouco do que tem sido a temporada das duas equipas, com solidez defensiva e jogos sempre equilibrados entre os dois conjuntos mais fortes do panorama basquetebolístico masculino, com uma vantagem de um ponto para o FC Porto (18-19), e McGrew a ser o melhor marcador do encontro até então com oito pontos.

Com o reatar da contenda, os jogadores e treinadores procuravam ainda os encaixes certos, usando também a profundidade que Moncho López e Luís Magalhães têm à sua disposição. Tanner McGrew, extremo/poste norte americano de 27 anos, continuava a ser o melhor jogador dos portistas, fazendo uma grande primeira parte e a mostrar toda a sua versatilidade ofensiva, com 13 pontos e três assistências, ele que sofreu uma grave lesão na temporada passada nos Açores, num duelo para o campeonato frente ao Lusitânia.

No Sporting, o pecúlio na marcação de pontos estava mais distribuído, com Travante Williams a aparecer com mais situações de um contra um, uma vertente em que o extremo do Sporting CP é extremamente capaz e uma constante ameaça para o cesto adversário, acumulando todos os seus 13 pontos da primeira parte no segundo quarto.

Travante Williams (Sporting) foi um dos destaques do encontro e foco principal do ataque leonino. Foto: FPB

No final da primeira parte, os “dragões” apresentavam maiores dificuldades no ataque, semelhante ao que tinha acontecido no início da contenda, com os “leões” a fecharem os caminhos às penetrações e a forçar o FC Porto ao tiro exterior. Apesar disso, o último minuto foi positivo para os basquetebolistas treinados por Moncho López, que conseguiram reduzir a diferença que já se situava nos nove pontos para apenas quatro, acabando assim os primeiros 20 minutos com o marcador a indicar 40-36.

Vitória nas mãos experientes de Ventura e Ellisor

A fase inicial do terceiro quarto começou exatamente como o primeiro, com o Sporting CP a mostrar muita solidez defensiva e a dificultar a organização ofensiva do FC Porto. Sem pontos marcados nos primeiros três minutos, os “dragões” começavam a deixar fugir os “leões”, que chegaram a liderar com uma diferença de 15 pontos.

Assim como nos primeiros dez minutos da contenda, os “azuis e brancos” conseguiram recuperar a desvantagem, muito pelas ações ofensivas de Larry Gordon, que após uma primeira parte apagada, mostrou-se mais agressivo e interventivo nesse lado do campo.

Larry Gordon foi um dos mais inconformados dos “dragões” na segunda parte Foto: FPB

Após uma primeira parte com poucas faltas, ambas os conjuntos chegaram ao limite das cinco faltas, permitindo mais idas à linha de lance livre e um ritmo mais baixo de jogo no Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos.

Travante Williams, extremo do Sporting CP, mantinha-se como o jogador mais perigoso entre os leoninos, alcançando um duplo-duplo em menos de 25 minutos em campo, concluindo o terceiro quarto com 22 pontos e 10 ressaltos.

No que diz respeito ao FC Porto, Gordon era o jogador em evidência, tendo marcado nove pontos no terceiro quarto, perante o jogo pouco conseguido de Jalen Riley, que só concretizou um lançamento de campo em nove tentativas, ele que chegou à “cidade invicta” para substituir o lesionado Max Landis, que pelo segundo ano consecutivo voltou a lesionar-se gravemente no início da temporada.

O quarto e derradeiro período do encontro mostrou alguns problemas do conjunto “azul e branco” nas transições defensivas após a perda de bola, habitualmente uma qualidade do FC Porto e os turnovers iam sendo bem aproveitados pelo Sporting CP, especialmente através da velocidade de Shakir Smith, membro importante do banco leonino e que joga quase sempre em rotação com Diogo Ventura, que também tinha sido preponderante no terceiro quarto.

A proteção do jogo interior, especialmente com o trabalho do poste John Fields, continuava a ser um problema para os “azuis e brancos”, que permaneciam dependentes da eficácia do lançamento de três pontos para equilibrar o encontro. Com os minutos decisivos a aproximarem-se, os “dragões” conseguiram esboçar uma recuperação, reduzindo a diferença no marcador para seis pontos, faltando apenas quatro minutos para o final da segunda meia-final da Taça de Portugal de Basquetebol masculino.

O experiente James Ellisor, bicampeão nacional ao serviço da UD Oliveirense, foi o elemento ofensivo em destaque no Sporting, usando o vasto repertório ofensivo que tem ao seu dispor para manter as diferenças e não deixar o FC Porto aproximar-se.

Brad Tinsley, base norte-americano dos “dragões”, era um dos principais inconformados, numa altura em que Jalen Riley permanecia ineficaz, acabando o encontro somente com seis pontos em treze lançamentos e forçando muitos lançamentos de três pontos.

No último quarto, Diogo Ventura e Ellisor foram os elementos preponderantes na manutenção da vantagem leonina, com o base português a terminar com 20 pontos e cinco assistências e o extremo norte-americano com 16 pontos. Apesar de mais ausente em termos ofensivos nos derradeiros minutos, Travante Williams (Sporting CP) foi a figura da partida, com 22 pontos, 12 ressaltos, quatro assistências e dois roubos de bola.

Na equipa portista, Tanner McGrew com 19 pontos e cinco ressaltos foi o jogador em evidência, seguido de Larry Gordon com 16 pontos e quatro ressaltos.

António Paulo Ferreira, treinador-adjunto do Sporting CP, analisou o encontro e referiu que “os dados estatísticos dizem-nos que fomos mais eficazes no capítulo dos lançamentos e conseguimos recuperar mais bolas no ressalto”, destacando a “intensidade no ressalto ofensivo” e a superação “das dificuldades defensivas que o FC Porto” criou na segunda parte.

Já Moncho López, técnico espanhol do FC Porto, revela que o Sporting “foi um justo vencedor” e que a “falta de controlo do ressalto”, especialmente na primeira parte, “penalizou muito” os “azuis e brancos”.

Imortal LUZIGÁS e Sporting CP são os dois finalistas da 72.ª edição da Taça de Portugal de Basquetebol masculino, com encontro marcado este domingo, no Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos, pelas 16 horas, na conclusão da Final Four.

Artigo editado por João Malheiro