A paixão pelo futebol surgiu imediatamente e foi no SC Salgueiros que o atual jogador do Eintracht Frankfurt deu os primeiros toques na bola. Com passagens pelo Boavista e Padroense, até chegar à equipa principal do FC Porto, o atleta dava sinais de um “futuro muito risonho”. O JPN conversou com o presidente do Padroense, três ex-companheiros de equipa e um comentador de futebol que destacam a qualidade técnica e eficiência do ponta de lança português.

A inteligência, destreza e perseverança inerentes a um grande ponta de lança são caraterísticas que quem teve a oportunidade de conhecer e trabalhar com André Silva, jogador do Eintracht Frankfurt, comprova e reafirma. Com uma época em pleno no clube alemão, o atleta português já marcou 23 golos em 27 jogos, tornando esta temporada na melhor da sua carreira e carimbando o seu nome como uma máquina goleadora na Bundesliga.

Nascido a 6 de novembro de 1995, em Baguim do Monte, o profissional português entrou aos seis anos para o mundo da bola. O SC Salgueiros foi a primeira casa de André Silva e foi lá que o apelido de “Deco” surgiu. O treinador do clube da freguesia de Paranhos, na altura, escolheu esse nome pelo facto de o jogador ocupar a posição 10 e de André Silva ter caraterísticas que, ainda hoje, estão presentes “na forma como baixa em apoio para combinar, para dar opções aos colegas de equipa” que o tornam num jogador “muito inteligente”, como refere Tomás da Cunha, comentador de futebol na Eleven Sports, ao JPN.

SC Salgueiros: os primeiros passos no futebol

Com uma passagem prematura pelo hóquei, foi o futebol que conquistou o coração do internacional português. O SC Salgueiros abriu as portas àquele que viria a ser uma referência do futebol português na Europa. Foi com um primo que ingressou na modalidade e não largou mais a beleza e paixão pelas quatro linhas.

No SC Salgueiros, André Silva, jogou sempre no escalão acima.

No SC Salgueiros, André Silva, jogou sempre no escalão acima. Foto: SC Salgueiros

Tiago Costa, ex-companheiro de equipa do jogador no SC Salgueiros, revela ao JPN que desde sempre que André Silva era e “é um excelente profissional, uma pessoa espetacular, amigo do amigo”. O ex-colega conta que, já na altura, André Silva era muito trabalhador e demonstrava “muita qualidade técnica”. O ex-colega de equipa explica que o internacional português “não tinha medo de ir para cima do adversário, arriscava, e notava-se que ele já era requintado”. Tiago acrescenta que esse talento de Silva estava patente, visto que ainda que o ex-companheiro fosse mais velho, André Silva jogou com ele, confirmando que desde “sempre jogou no escalão acima” ao que era suposto.

Outro ex-colega de equipa também nos iniciados do clube de Paranhos, Rúben Monteiro, destaca algumas caraterísticas de um André Silva ainda jovem a formar-se no SC Salgueiros: “era muito brincalhão”, mas também “muito dedicado” e “detestava perder”. Rúben afirma que o atual jogador do Eintracht Frankfurt “já na altura tinha um pontapé forte e uma boa técnica de remate” e que essas qualidades foram melhoradas e, hoje, o português é um “jogador com uma receção e último passe acima da média.”

Também Fábio Pinto, que jogou com André Silva no mesmo clube, explana que o atleta de Baguim do Monte era um “jogador alegre e muito engraçado” que, porém, tinha uma “personalidade forte”. Fábio refere que o jogador português tinha grande capacidade física, “já tinha sentido de oportunidade e era forte na finalização”.

Os três ex-companheiros de equipa destacam a capacidade de luta de André Silva no um contra um, e na facilidade de o jogador criar espaços de assistência para as finalizações. Num período em que André Silva ainda ocupava o meio-campo, foi essa posição 10 que lhe deu a versatilidade de um ponta de lança com capacidade de dar apoio, descer e fazer ligações com os colegas de equipa quando necessário.

Para além da equipa de Paranhos, o jogador português passou também pelo Boavista e ainda regressou ao SC Salgueiros antes de seguir caminho para o Padroense, num protocolo de cooperação com a sua futura equipa, o FC Porto.

Germano Pinho, presidente do Padroense, onde André Silva jogou durante uma época, refere que, no período em que esteve no clube e até aos dias de hoje, a grande qualidade do jogador é a “intuição rara de alguém que faz golos em qualquer posição e em qualquer circunstância”, acrescentando que o atleta tem uma “colocação muito certeira” e um “faro pelo golo”.

Mas para Germano, as qualidades do internacional português vão além do desporto. O dirigente do clube da Senhora da Hora aponta a humildade e educação de um grande atleta e explica que André Silva “é daqueles jogadores com quem nos cruzamos e ficamos com uma imagem muito boa”.

FC Porto: o clube que deu o mote ao jogador

No ano de 2011, começou a grande jornada no clube que o levou aos palcos europeus. André Silva rumou às camadas jovens do FC Porto, após uma temporada emprestado ao Padroense. É na equipa azul e branca que o jogador fica até à sua saída dos campeonatos portugueses. Germano Pinho refere que foi nos dragões que o jogador demonstrou ainda mais “ser um ponta de lança de exceção”.

Aos 17 anos, André Silva estreou-se como profissional num jogo frente ao Beira-Mar, a 12 de agosto de 2013. Num período de ânsia pelo seu primeiro golo ao serviço da equipa portista, o sonho não tardou a tornar-se realidade. Dias depois do primeiro jogo, o atleta português estreou-se a marcar pelo FC Porto B na vitória portista sobre o Portimonense. A época de 2013/2014 terminou e André Silva conseguiu marcar 3 golos em 20 jogos.

Na segunda temporada ao serviço da equipa B portista, o atual jogador do Eintracht Frankfurt cumpriu o seu trabalho tendo marcado 7 golos em 35 jogos. Em consequência das boas exibições, no ano de 2014, renovou com o FC Porto numa cláusula de rescisão a rondar os 25 milhões de euros. O comentador Tomás da Cunha destaca que o jogador “desde muito cedo atingiu o estatuto quer no FC Porto, quer também nas seleções nacionais”.

O internacional português teve o seu auge no FC Porto na época de 2016/2017.

O internacional português teve o seu auge no FC Porto na época de 2016/2017. Foto: Facebook André Silva

A qualidade do jogador português era evidente e a estreia pela equipa principal não demorou a chegar. A 29 de dezembro de 2015, o treinador Julen Lopetegui apostou em André Silva e o atleta entrou em jogo na derrota portista por 3-1 frente ao Marítimo. Ao “Diário de Notícias”, o internacional português revelou que esse “foi um dia mau”.

Com uma maior regularidade na equipa principal portista, a vontade de marcar golos intensificava-se e, a 14 de maio de 2016, surgiu o momento tão aguardado pelo jogador. André Silva marcou o seu primeiro golo na Primeira Liga, na goleada de 4-0 sobre o Boavista. Ainda nesse ano, o atleta voltou a renovar com a equipa portista, dessa feita até 2021, tendo a sua cláusula de rescisão sido aumentada para os 60 milhões de euros, no espaço de dois anos.

A boa forma do português na equipa portista trazia consigo o olhar dos grandes clubes europeus.

Dificuldade de integração no AC Milan e empréstimo ao Sevilha

Em 2017, e em seguimento da grande época na equipa principal portista, o FC Porto negociou com o AC Milan a saída de André Silva. O jogador assinou contrato com a equipa italiana até 2022, numa “transferência muito sonante”, nas palavras de Germano Pinho, que rondou os 38 milhões de euros. As expectativas para o sucesso do atleta português no estrangeiro estavam muito altas.

Tomás da Cunha refere que, nos dias de hoje, as saídas prematuras dos jogadores são muito comuns, já que “acabam por se destacar e saltar rapidamente para outros palcos”. No caso de André Silva, o comentador considera que “o salto para o Milan acabou por ser um pouco precipitado”, já que o jogador português “não conseguiu afirmar-se em pleno” e “nunca atingiu um estatuto de indiscutível”.

O comentador da Eleven Sports explica que uma justificação possível para a dificuldade de afirmação de André poderá ter sido “o facto de o Milan não ser um clube ideal para os jovens”, o que acabou por “retirar alguma confiança” ao futebolista.

A passagem pelo AC Milan não correspondeu às expectativas.

A passagem pelo AC Milan não correspondeu às expectativas. Foto: Facebook André Silva

Germano Pinho, enquanto presidente do Padroense, concorda com o comentador, acrescentando que a baixa exibição do jogador português também poderá ter sido “fruto de alguma inadaptação ao futebol italiano” que aborda um estilo mais defensivo. Para o mesmo, esta dificuldade “atrasou um pouco a evolução” de André Silva.

Rúben Monteiro também tem o mesmo ponto de vista. O ex-colega no SC Salgueiros considera que o internacional português “devia ter ficado mais dois anos no FC Porto para consolidar o seu futebol no escalão principal”. Ainda assim, Rúben compreende a decisão tomada, já que “era uma excelente oportunidade a todos os níveis”.

Em contrapartida, Tiago Costa olha para a passagem do português pelo AC Milan de uma forma mais positiva, afirmando que “às vezes é nas fases menos boas, nas piores fases, que aprendemos as melhores coisas”. O ex-companheiro de equipa destaca que “ele é o que é hoje e tem a personalidade que tem agora no Eintracht Frankfurt e marca os golos que, se calhar, ninguém contava, não só porque passou pelo FC Porto, mas também porque passou dificuldades no AC Milan”. Fábio Pinto segue a mesma linha de pensamento, destacando a “experiência e maturidade a perceber melhor o jogo” que a oportunidade no AC Milan lhe ofereceu.

Após um ano conturbado no clube italiano, o jogador rumou ao Sevilha, a título de empréstimo de uma temporada, mas com opção de compra. Em Espanha, a situação foi “mais ou menos a mesma” para o comentador da Eleven Sports.

Apesar de ainda ter feito uma estreia de sonho na equipa espanhola, ao marcar três golos frente ao Rayo Vallecano, igualando o marco de Romário, em 1993, quando também se estreou a marcar um hat-trick no campeonato espanhol, Tomás da Cunha considera que André “acabou por não encontrar essa zona de conforto”, novamente.

Estatuto de protagonista e goleador no Eintracht Frankfurt

Em 2019, o AC Milan volta a emprestar o jogador por dois anos, desta vez ao Eintracht Frankfurt, numa troca pelo croata Ante Rebic, também a título de empréstimo. Após uma temporada no clube, o jogador português foi contratado em definitivo, assinando um acordo de três anos.

É na equipa alemã que André Silva encontra, finalmente, a “regularidade em termos de minutos, mas também um protagonismo de goleador que nunca teve na carreira”, aponta Tomás da Cunha.

Nesta temporada, André Silva já leva 23 golos em 27 jogos.

Nesta temporada, André Silva já leva 23 golos em 27 jogos. Foto: Facebook André Silva

Em duas temporadas, o futebolista está, praticamente, a atingir a barreira dos 40 golos, sendo que, de acordo com o comentador, “já superou os números que tinha em qualquer temporada anterior e ainda faltam alguns jogos”. A eficácia do português está a “marcar a diferença” numa das grandes ligas europeias, e a qualidade de André Silva está a ajudar o Eintracht Frankfurt a ter uma grande possibilidade de ir à Liga dos Campeões.

Germano Pinho afirma que na Alemanha, o atleta de 25 anos, “está novamente a aparecer em toda a sua plenitude”. O presidente do Padroense acrescenta ainda que o jogador português “está a trazer à primeira linha as qualidades que ele tem de um finalizador nato”, sendo “um dos jogadores de referência do atual clube”.

Para Tiago Costa, esta é, de facto, uma época de grande destaque para André Silva. O ex-companheiro de equipa salienta que o jogador do Eintracht Frankfurt está “na melhor temporada da vida dele”.

Eficiência e dupla com Kostic

Germano Pinho descreve André Silva como um jogador “que tem sempre os olhos na baliza”, “um jogador que na cara do guarda-redes não treme”. Mas as oportunidades de golo do internacional português não se fazem sozinhas.

Tomás da Cunha destaca a dupla “quase infalível” que se criou entre André e Kostic. O comentador descreve a típica tática dos dois elementos da equipa alemã: “Kostic cruza muito bem, André Silva esconde-se muito bem na área dos centrais, ao segundo poste normalmente, e acaba por marcar golos ‘fáceis’”.

Tomás salienta que o posicionamento na hora do remate é “uma das mais valias” que o jogador português tem vindo a desenvolver no futebol alemão. O comentador da Eleven Sports descreve o futebolista, atualmente, como um “ponta de lança goleador”, que, para o mesmo, está a fazer a melhor temporada da carreira com uma “média extraordinária” de golos, contando com já 23 golos em 27 jogos, comparativamente com os 21 golos em 44 jogos marcados no FC Porto.

Caminhada na Seleção Nacional

As chamadas à seleção nacional começaram muito cedo. O jogador era presença regular nas camadas mais jovens, tendo sido convocado desde os sub-16 até aos sub-21. De destacar o ano de 2015, em que, num jogo de qualificação para o Europeu de Sub-21 de 2017, André Silva marcou um hat-trick frente à Albânia, na vitória por 6-1.

As boas exibições nos escalões mais jovens, bem como a subida à equipa principal portista, levaram o selecionador Fernando Santos a depositar confiança no atleta. A primeira convocatória para a seleção A aconteceu em agosto de 2016 e o jogador estreou-se a 1 de setembro do mesmo ano com a camisola das quinas, na goleada por 7-0 sobre Gibraltar.

André Silva tornou-se no jogador mais jovem da seleção nacional a marcar um hat-trick, na vitória sobre as Ilhas Faroé.

André Silva tornou-se no jogador mais jovem da seleção nacional a marcar um hat-trick, na vitória sobre as Ilhas Faroé. Foto: Facebook André Silva

O primeiro golo ao serviço da seleção nacional aconteceu em outubro de 2016 frente à Andorra, na fase de grupos para o Mundial de 2018. Três dias depois, André Silva marcou um hat-trick na vitória sobre as Ilhas Faroé. Este feito fez dele o jogador mais jovem a conseguir um hat-trick pela seleção portuguesa, com apenas 20 anos e 340 dias.

Em 2017, o jogador do Eintracht Frankfurt foi convocado para a Taça das Confederações, tendo marcado um golo nesta competição em que Portugal acabou por ficar em terceiro lugar.

Até à data, André Silva soma 16 golos ao serviço da seleção nacional. No plantel atual da equipa das quinas, André Silva é o segundo melhor marcador, ficando apenas atrás de Cristiano Ronaldo. Ainda assim, a titularidade não é fácil, porque, e segundo Tomás da Cunha, “há muita concorrência”. Para o comentador, a aposta pode acontecer “se Fernando Santos quiser abordar o jogo com um ponta de lança, ou se Portugal estiver em desvantagem e precisar de uma referência na área”.

Os três ex-companheiros de equipa do SC Salgueiros concordam com a visão de Tomás da Cunha. Tiago Costa salienta que “hoje em dia na seleção não é fácil jogar, a seleção tem muita qualidade em todos os setores, na frente principalmente”. Rúben Monteiro explica, ainda, que os campeonatos em que os avançados da seleção jogam tem influência na titularidade na equipa das quinas: “Todos eles jogam em ligas mais competitivas que a Bundesliga”.

Futuro do internacional português: “É um jogador muito cobiçado”

A época deslumbrante que André Silva está a fazer no Eintracht Frankfurt já chama a atenção dos grandes clubes europeus. Germano Pinho coloca muita confiança nas capacidades do jogador, referindo que o mesmo “ainda vai para um clube maior”. O presidente não esconde a felicidade que sente pelo internacional português: “Nós temos muito orgulho dele ter vestido a camisola do Padroense”.

Os ex-colegas de equipa apontam o mesmo sentimento e esperança. Rúben Monteiro revela que “foi um orgulho ter jogado com um jogador que representa a seleção principal”. O ex-jogador do SC Salgueiros aponta, assim como Germano Pinho, a certeza de o internacional português alcançar um patamar mais alto: “depois desta época que está a realizar, acredito que vá voltar a um grande clube europeu”.

Também Tiago Costa acredita que André Silva “vai dar o salto” e sair do Eintracht Frankfurt para um clube com “outro tipo de objetivos”. O ex-colega de equipa no clube de Paranhos refere que o internacional da seleção portuguesa deve “continuar assim, com a humildade e com o trabalho” que tem feito.

Sobre o futuro do português, Tomás da Cunha aponta que André Silva “já não é um jovem, também não é um jogador que esteja a aproximar-se do fim”. Tendo em conta as qualidades demonstradas pelo atleta, as propostas não irão demorar a chegar, visto que “é um jogador muito cobiçado”. O comentador salienta que o Eintracht Frankfurt “vai fazer de tudo para garantir os serviços de André Silva, pelo menos por mais uma temporada”.

O grande trabalho do ponta de lança português tem maravilhado a Europa devido à “cultura de movimentos quer fora da área, quer dentro da área”, nas palavras de Tomás da Cunha. A continuidade do trabalho de excelência de André Silva não traz dúvidas a nenhum dos entrevistados e o comentador da Eleven Sports reafirma o trabalho de destaque do português no Eintracht Frankfurt reforçando que esta é, de facto, a grande “época de afirmação plena de André Silva enquanto ponta de lança”.

Artigo editado por João Malheiro