A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou, no início do mês, a criação do Campeonato Nacional Feminino de Futebol de Praia, que terá a sua primeira edição já durante este ano.
A competição, sabe-se, vai estar dividida em duas fases. A primeira vai ser discutida a nível regional, com as Associações Regionais de Futebol a serem responsáveis pelos calendários competitivos, enquanto a segunda, a ser disputada em agosto, contará com a presença das equipas apuradas através das séries regionais. O campeão vai ser definido numa final four, marcada para 7 e 8 de agosto, em simultâneo com a fase final do Campeonato de Elite e Nacional de Futebol de Praia masculino.
Sobre o anúncio da nova competição, Madjer, coordenador de Futebol de Praia da FPF, afirmou que a “intenção passa por criar um crescimento sustentável e de igualdade”, bem como colmatar a lacuna que existe “na modalidade a nível feminino e de formação”, ao garantir que “os objetivos estão bem traçados no plano de desenvolvimento”.
Já em relação à resposta das equipas e das atletas que podem vir a participar nesta edição pioneira para o Futebol de Praia feminino, o antigo internacional português, que foi eleito por cinco vezes o melhor jogador do mundo da modalidade, referiu que “existe muita procura”, algo que deixa a organização satisfeita e esperançosa com o futuro da modalidade em Portugal.
Esse futuro passará, invariavelmente, por atletas como Mariana Filipa, que depois de passagens por várias modalidades, como o andebol e o futebol de 11, decidiu nos últimos apostar de forma mais séria no futebol de praia. “Como vivo ao pé da praia, sempre gostei de estar na praia a jogar e sempre foi onde eu me senti melhor com a bola”, referiu ao JPN a atleta que já representou o Sporting CP e a ACD “O Sótão”, mas que se afastou da modalidade na adolescência pela falta de oportunidades.
Natural de Vieira de Leiria, a jogadora de 29 anos tornou-se, em 2020, na Nazaré, a primeira portuguesa a vencer a Euro Winners Cup – o equivalente à Liga dos Campeões no futebol de praia –, ao serviço do BSC Mriya 2006, da Ucrânia. Mariana Filipa confessa que “era um sonho que tinha” e que a sensação de levantar o troféu foi “indescritível”.
Lamentou apenas que tenha tido de o fazer sozinha, porque as colegas tiveram de ir para o aeroporto. “O único senão foi não poder partilhar aquele momento com a equipa. Se é um título coletivo, tem de ser vivido a nível de equipa. Não pode ser apenas uma pessoa a receber o troféu”, realçou.
Pouca competição a nível nacional
Com o anúncio do Campeonato Nacional Feminino de Futebol de Praia, espera-se que esta vertente da modalidade ganhe maior relevo em Portugal. Como nos explica a atleta de 29 anos, no passado recente, “houve apenas um torneio de promoção”, organizado na Nazaré, em 2018. Nele participaram três equipas: CD Nacional, Sporting CP e GD Estoril Praia. “Embora tenha sido curta, deu para ter algumas noções da modalidade”, atirou.
Antes de representar o Sporting CP, participou apenas em torneios organizados a nível local, pelo que havia uma clara falta de aposta no futebol de praia feminino. Nesse sentido, Mariana Filipa acredita que o Campeonato Nacional vai trazer “mais atletas e mais qualidade”, para além de garantir o desenvolvimento da modalidade e assegurar que esta se mantém ativa, que deixa de ser “só algo sazonal”.
A atleta mostra-se bastante entusiasmada com este “grande passo que foi dado pela Federação”, na medida em que ter um Campeonato Nacional é algo que credibiliza a modalidade e na qual, na sua opinião, “quem gosta de desporto, vai querer participar”. A jogadora, que passou também pelo futsal, considera que, por não haver um histórico de futebol de praia feminino em Portugal, a prova vai ser muito competitiva, porque “todas as equipas vão estar em pé de igualdade”. “Apenas se algum clube trouxer jogadoras estrangeiras é que pode haver uma diferença”, rematou.
Ainda assim, realça que é necessário passar por um processo evolutivo até se chegar ao futebol de praia “bonito” e “mais artístico” que se vê nas melhores equipas e seleções masculinas. “Vamos ter um futebol mais de bola no chão em vez de ser bola pelo ar, mas com o tempo as coisas vão melhorando. Não podemos querer tudo de uma vez”, alertou a atleta de Leiria.
Olhar para o futuro
Com isso em mente, Portugal tem ainda um longo caminho a percorrer, uma vez que há países mais avançados e desenvolvidos no futebol de praia feminino. No caso da Ucrânia, onde atua a equipa pela qual Mariana Filipa venceu a Euro Winners Cup, para além de existir campeonato, há também pavilhões específicos para a prática de desportos de areia, algo que ainda não se verifica em solo nacional.
Itália, Polónia e Rússia são outros dos países em que já há competições, enquanto Inglaterra tem várias jogadoras a representar as formações que participam na principal competição europeia de clubes. Por sua vez, o Brasil, potência histórica no masculino, apenas no ano passado apresentou uma seleção feminina.
Ainda sem equipas confirmadas para esta primeira edição, a campeã europeia destaca a importância de, no futuro, “os quatro grandes” de Portugal – FC Porto, SC Braga, SL Benfica e Sporting CP – entrarem no futebol de praia feminino. A acontecer, “para além de ficarmos mais profissionais, vai chamar mais atletas e também trazer atletas internacionais”, algo que daria “um desenvolvimento brutal à modalidade”, na ótica de Mariana Filipa. Relembre-se que no masculino, apenas SC Braga e Sporting CP têm equipas de Futebol de Praia.
O passo seguinte será, depois, a criação de uma Seleção Nacional. No passado, Portugal apresentou-se num torneio, disputado na Nazaré, com uma seleção feminina, mas a maioria das atletas eram de futsal. “Neste momento, se queremos ter uma seleção de Futebol de Praia, temos de ter um campeonato para conseguir ter jogadoras e para poder haver uma escolha das melhores para irem à seleção”, defende a atleta de 29 anos.
Com a pandemia, Mariana Filipa tem sentido dificuldades para treinar, com a limitação de ajuntamentos e idas à praia, algo que não só lhe retira ritmo para a competição, como também não lhe permite desenvolver vertentes do jogo, entre as quais fazer um passe para um colega ou executar um pontapé de bicicleta.
Ainda assim, aproveita outros desportos para aprimorar as suas capacidades para o regresso ao areal. O trail, no qual compete ao serviço do Clube de Atletismo da Barreira, “ajuda a ganhar preparação física e resistência para a areia”. Já o Teqball, uma modalidade que combina o futebol com o ténis de mesa, “ajuda a melhorar a técnica e a coordenação”. “Ambos ajudam a melhorar a performance no futebol de praia”, salientou.
Sem surpresa, Mariana Filipa vai participar no primeiro Campeonato Nacional Feminino de Futebol Praia. O clube, por enquanto, permanece por decidir, mas a atleta confessa que já recebeu “algumas propostas” e que a decisão “está para breve”.
Artigo editado por João Malheiro