O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, planeia retirar as últimas tropas americanas do Afeganistão até ao dia 11 de setembro deste ano, quando se vão assinalar os 20 anos dos ataques terroristas que fizeram quase três mil mortos ao atingir as Torres Gémeas, em Nova Iorque, e o Pentágono, em Washington, DC.
A notícia surgiu primeiro no “Washington Post”, citando fontes a par dos planos, e foi também dada por outros media, incluindo o “New York Times“.
Ao decidir-se por esta data, Biden vai falhar o prazo antecipado pelo presidente anterior, Donald Trump, que previa a retirada de cerca de 2.500 militares norte-americanos ainda no país, e das restantes tropas – 7.000, a maioria da Europa e de outros países – que se cumpriria em maio. O próprio Biden já tinha afirmado que cumprir este prazo seria “difícil”.
“É hora de terminar a guerra mais longa da América”, disse Biden, em conferência de imprensa, na quarta-feira (14). “É hora das tropas americanas voltarem para casa”, concluiu.
Biden expressou a sua opinião sobre uma política que há muito debate, mas que, até à data, nunca controlou. Agora, depois de anos a argumentar contra uma maior presença militar americana no Afeganistão, o presidente decidiu impor-se e avançar com o prazo final para o 20.º aniversário do 11 de setembro.
“Com a ameaça terrorista agora em muitos lugares, manter milhares de soldados colocados no terreno e concentrados em apenas um país, por um custo de mais de mil milhões a cada ano, faz pouco sentido para mim e para os nossos líderes”, disse Biden, na mesma transmissão. “Não podemos continuar o ciclo de estender ou expandir a nossa presença militar no Afeganistão, esperando criar as condições ideais para a retirada e esperando um resultado diferente”, reforçou.
“Sou agora o quarto presidente americano a presidir a uma presença de tropas americanas no Afeganistão. Dois republicanos. Dois democratas. Não vou passar essa responsabilidade para um quinto ”, disse Biden, acrescentando que a missão dos EUA seria exclusivamente dedicada a fornecer assistência ao Afeganistão e a apoiar a diplomacia. Um alto funcionário do governo Biden disse que o presidente passou a acreditar que uma “abordagem baseada em condições” hipotéticas, significaria que as tropas americanas nunca sairiam do país.
A decisão de Biden levará à retirada de todas as tropas norte-americanas do Afeganistão 20 anos depois do presidente George W. Bush ordenar uma invasão, após os ataques de 11 de setembro, com o objetivo de punir Osama bin Laden e os seguidores da Al Qaeda, que foram protegidos no Afeganistão pelos talibã.
A guerra foi lançada com grande apoio internacional, mas tornou-se a mesma batalha longa, sangrenta e impopular que forçou os britânicos a retirarem-se do Afeganistão, no século XIX, e a União Soviética a retirar-se, no século XX.
Quase 2.400 soldados americanos morreram no Afeganistão, num conflito que custou quase 17 mil milhões de euros. Os democratas no Congresso elogiaram a retirada, enquanto os republicanos disseram que a mesma colocaria a segurança americana em risco.
“Os EUA foram ao Afeganistão em 2001 para derrotar aqueles que atacaram os EUA a 11 de setembro”, disse o senador Tim Kaine, democrata da Virgínia, em comunicado. “Agora é hora de trazer as nossas tropas para casa, manter o apoio humanitário e diplomático para uma nação parceira e redirecionar a segurança nacional americana para os desafios mais urgentes que enfrentamos”.
Jon Soltz, um veterano da guerra do Iraque e presidente do grupo de veteranos progressistas VoteVets, disse ao “New York Times” que “as palavras não podem expressar adequadamente o quão importante isto é para as tropas e famílias de militares, que resistiram, destacamento após destacamento, sem fim à vista, por quase 20 anos”.
“Esta é uma decisão imprudente e perigosa”, disse o senador James M. Inhofe, de Oklahoma, o republicano graduado no Comité de Serviços Armados do Senado, em comunicado. “Prazos arbitrários provavelmente colocarão as nossas tropas em perigo, colocarão em risco todo o progresso que fizemos e poderão levar à guerra civil no Afeganistão – e criarão um terreno fértil para terroristas internacionais”, afirmou.
Artigo editado por João Malheiro