Numa partida a contar para a 27.ª jornada da Liga NOS, o Estádio do Bessa foi palco de um encontro entre dois conjuntos em posições bem distintas na tabela. Enquanto que a aflita formação da casa, o Boavista FC, almejava conquistar uma preciosa vitória na luta pela manutenção – estando somente um ponto acima da linha de água à entrada para esta jornada – o Paços de Ferreira visitava a cidade Invicta com ambições de cimentar a sua posição europeia, fruto de uma excelente temporada até ao momento.

Num jogo em que sempre se manteve compacto, o Boavista FC somou a terceira vitória nos últimos cinco jogos em casa, transformando o seu reduto numa autêntica fortaleza e respirando de forma mais confortável na classificação.

Já o FC Paços de Ferreira deu continuidade ao seu momento de menor fulgor ao nível dos resultados, depois de nunca ter conseguido encontrar o caminho do golo, agudizando o seu registo para somente uma vitória em cinco jogos.

Em relação ao empate caseiro a três bolas diante do Rio Ave FC, Jesualdo Ferreira escalou duas alterações no onze inicial com o regresso do criativo inglês Angel Gomes, depois de cumprida uma suspensão, e com a introdução no xadrez do angolano Show para o miolo boavisteiro, substituindo Sebastián Perez. De registar que com o castigo de Hamache – que foi expulso no jogo transato – e com a ausência de Ricardo Mangas, foram necessárias reconfigurações na ala esquerda, com Gustavo Sauer a ser o homem encarregue do corredor.

Por sua vez, os comandados de Pepa queriam, depois da pesada derrota caseira frente ao SL Benfica por cinco bolas a zero, retomar o trilho dos triunfos. Para isso, o técnico português não fez grandes alterações no onze. Apenas se contabilizam as entradas de Douglas Tanque, habitual opção titular na frente de ataque, que substituiu Dor Jan, Martín Calderón que ocupou a posição de Stephen Eustáquio a cumprir castigo e Zé Uilton que agarrou o lugar de Luther Singh.

Nuno Santos

Nuno Santos entrou ainda no decurso da primeira parte. Foto: Boavista Facebook

Início a todo o gás

Num encontro que prometia, fruto de duas formações com propostas de jogo interessantes, as expectativas não saíram defraudadas. A partida iniciou-se de forma eletrizante com o Paços de Ferreira a procurar desde cedo o controlo da bola, enquanto os axadrezados apostavam na velocidade dos homens mais adiantados para criar perigo. De forma natural, as oportunidades não demoraram a surgir.

Logo ao terceiro minuto de jogo, um passe de Devenish para o corredor central descobriu Alberth Elis, e após duelo aéreo com o central pacense, a bola sobra para Angel Gomes que disfere um portentoso remate, ficando perto de um belo golo ainda a longa distância da baliza de Jordi.

O Paços não se deixou afetar e, na resposta, houve uma excelente jogada individual de Zé Uilton pela meia direita do ataque dos castores que, perante a passividade na transição defensiva dos axadrezados, cruzou para o interior da área, encontrando Hélder Ferreira. No momento da finalização, o extremo português não conseguiu concretizar, ainda que a desatenção de Adil Rami tenha causado calafrios aos adeptos da casa.

O Boavista armado num 3-5-2, com uma linha defensiva composta por Devenish, Rami e Chidozie viu-se apoiado por um meio-campo com Show mais recuado a servir de âncora, a que se juntaram o apoio de Angel Gomes a interior esquerdo e de Paulinho na meia direita. Os corredores ficaram ao encargo de Gustavo Sauer e de Reggie Cannon, que se afiguraram como setas apontadas à defensiva contrária. Na frente de ataque, Alberth Elis e Yusupha repetiram a fórmula da jornada anterior diante do Rio Ave, ocupando as posições mais dianteiras.

De referir que no momento defensivo, Chidozie ocupava a ala esquerda, desdobrando a formação para um 4-3-3, com Gustavo Sauer a fechar espaços no meio. Uma alternância posicional que acontecia pontualmente.

Yusupha talismã

O ping-pong junto de ambas as balizas acabou por ter efeitos práticos e para o lado axadrezado. Aos 13 minutos de jogo, numa jogada bem construída pelo corredor central, Show entrega a bola na direita a Elis e o internacional hondurenho, com um cruzamento preciso e exímio, descobre Yusupha junto ao segundo poste. O avançado gambiano em posição privilegiada não desperdiçou a oportunidade e inaugurou o marcador. Uma aliança bem oleada a render o terceiro golo em dois jogos, revelando ser uma aposta certeira.

Em desvantagem, o Paços de Ferreira, montado no seu habitual 4-3-3, reagiu e mostrou-se mais ao jogo. Privilegiando a envolvência dos laterais no processo ofensivo, as incursões de Pedro Rebocho e Fernando Fonseca refletiam uma formação forasteira mais atrevida. O Boavista, por sua vez, também alterou a sua abordagem ao jogo, juntando linhas e fechando-se no seu setor mais recuado, saindo em rápidas transições para o ataque.

Reação pacense não materializada

Na busca pelo golo, a formação pacense aumentou a intensidade e imprimiu minutos de qualidade ao jogo, sobretudo no campo da posse de bola. A finalização, porém, mostrou ser o principal problema para os homens de Pepa. Neste capítulo, destaque para Léo Jardim a demonstrar toda a sua qualidade com uma série de defesas excecionais.

Aos 32 minutos, nova jogada de envolvência na meia esquerda do ataque pacense. Hélder Ferreira, depois de conquistar espaço para cruzar, entregou o esférico a Douglas Tanque que, no coração da área, cabeceou para excelente intervenção de Léo Jardim. O ritmo estava alto e, sempre que podia, o Boavista FC tentava o contra-ataque. Caso de Angel Gomes que, por volta do minuto 34, ultrapassou a pressão adversária e com um remate magistral viu as suas pretensões esbarrarem no poste.

A verdade é que sempre que o Boavista criava perigo, o Paços de Ferreira espevitava. Após a ocasião do 10 do Boavista, Zé Uilton num movimento individual, galgou o terreno central e já à entrada da área obrigou Leo Jardim a intervir, desviando a bola para o poste.

À passagem do minuto 38, Jesualdo Ferreira decidiu fazer a primeira substituição do encontro, de forma surpreendente, ao lançar Nuno Santos no lugar de Yusupha, com o intuito de reforçar a zona nevrálgica do terreno e permitindo maior liberdade posicional a Angel.

Este era o melhor período do jogo e a incerteza que pairava no ar dava a sensação de que poderia haver um golo até ao intervalo. Este cenário verificou-se e uma vez mais para as panteras. Por volta do minuto 42, Martín Calderón, com uma abordagem displicente, cometeu falta sobre Reggie Cannon, já no interior da área.

Na cobrança do castigo máximo, Angel Gomes não perdoa e dilata o marcador, somando o sexto tento no campeonato. Um golo fundamental, no que às pretensões boavisteiras dizem respeito, em cima da ida para os balneários. O castigo máximo foi um duro golpe para quem tanto procurou o empate.

Estratégia intocável

O segundo tempo começou da mesma forma que havia terminado o primeiro, com o Paços de Ferreira a ter mais preponderância no capítulo da posse de bola, mas sem critério no último passe e a não conseguir definir com clarividência em zonas de finalização.

Dono de uma estratégia bem definida, o Boavista não vacilou e ia conseguindo anular todas as tentativas forasteiras.

Com o avançar dos ponteiros do relógio e sem conseguir beliscar as panteras, Pepa mostrava-se insatisfeito com o decurso dos acontecimento e decidiu mexer no tabuleiro. Procurando irreverência e maior propensão ofensiva, lançou João Amaral e Luther Singh no apoio ao ataque para os lugares de Martín Calderón e Pedro Rebocho.

Estas novas unidades trouxeram algumas investidas de perigo pelo flanco direito, animando o encontro. Os castores, até ao fim, tiveram ainda uma ou outra chance para reentrarem no encontro com a mais flagrante a pertencer a Luiz Carlos. Aos 70 minutos, na cobrança de um canto, a bola percorre toda a área contrária e o médio brasileiro, na marca de penálti, solto de marcação, desviou quase fortuitamente, fazendo o esférico embater no poste.

Até ao final do encontro, o jogo foi fortemente condicionado pelas danças constantes nos bancos. O técnico axadrezado lançou Jackson Porozo, Kuku Fidelis e Alejandro Gómez, reforçando o setor mais recuado, ao passo que Pepa apostou em Dor Jan e Lucas Silva para tentarem inverter o rumo dos acontecimentos, mas o resultado não iria sofrer alterações.

Até ao apito final, é de registar apenas a lesão de Christian Devenish que teve de abandonar o relvado transportado de ambulância e com o suporte de um colar cervical, após aparatoso embate com Léo Jardim.

Numa partida repleta de incidências e de oportunidades de parte a parte, o Boavista nunca se desmontou, mostrando-se sempre compacto e coeso em todos os momentos do jogo, conquistando a terceira vitória nos últimos cinco jogos em casa, e dando assim um passo fulcral na fuga à despromoção. Com este resultado, as Panteras somam 28 pontos, e ascendem ao 13.º posto, em igualdade pontual com Gil Vicente, Tondela e Rio Ave.

Já o Paços de Ferreira segue seguro no quinto lugar com 44 pontos, mas com quatro derrotas nos últimos cinco encontros.

Jesualdo Ferreira destaca vitória justa e mostra-se crente

Na análise à partida, Jesualdo Ferreira mostrou-se muito satisfeito com o resultado alcançado, tecendo vários elogios à forma como a equipa conseguiu resistir a um maior ímpeto ofensivo, especialmente durante o segundo tempo, por parte do Paços de Ferreira.

“A forma como os jogadores foram capazes de resolver durante a primeira parte deram-nos a garantia de que na segunda, com mais ou menos sacrifício, nós iríamos conseguir ganhar este jogo”, afirmou.

O técnico realçou, igualmente, que a senda de bons resultados dos axadrezados, com sete pontos conquistados nos últimos três jogos, são um bom indicativo “para as sete finais que faltam disputar”, acreditando que “com esta regularidade e acima de tudo com a prestação demonstrada pelo Boavista em determinados momentos do jogo”, a equipa será capaz de chegar onde ambiciona, acrescentou.

Pepa reconhece mau início, mas fala de jogo “ingrato”

Quanto a Pepa, o técnico do Paços de Ferreira, referiu que a sua equipa teve um mau início de jogo, sobretudo marcado pela permeabilidade e passividade no processo defensivo, contudo, elogiou a capacidade de resposta dos seus elementos, sentindo que poderia ter saído do Bessa com outro resultado. “Tudo fizemos, demos mais ao jogo do que o jogo nos deu a nós”, comentou.

Apesar da derrota, Pepa salientou igualmente que “se é para perder é assim, com qualidade, com personalidade”, mostrando-se orgulhoso pela atitude demonstrada.

Na próxima jornada, o Boavista FC desloca-se ao Estádio Municipal de Braga para defrontar a equipa orientada por Carlos Carvalhal, no dia 21 de abril pelas 19h00, ao passo que o Paços de Ferreira vai receber o aflito Farense, entretanto derrotado pelo líder Sporting CP por 0-1. O encontro vai ser disputado no dia 20 de abril pelas 20h00.

Artigo editado por Filipa Silva