Na Universidade do Porto (UP), a testagem da comunidade académica à SARS-CoV-2 arrancou na semana que precede o regresso do ensino presencial. Nos três postos que o JPN visitou – são dez no total – a adesão varia, mas em todos o processo parece correr sem problemas. E pelo menos até ao meio da tarde de sexta-feira (16) sem casos positivos detetados.

A convicção geral, nos três estabelecimentos de ensino, é que o recomeço das atividades presenciais – marcado para esta segunda-feira (19) – pode ser o fator decisivo para uma maior adesão da comunidade à iniciativa da UP, que é a segunda maior do país, com mais de 30 mil alunos e 4 mil docentes, investigadores e trabalhadores não docentes.

Para já, a repetição dos testes é uma situação afastada, que depende dos resultados obtidos nesta primeira fase e da disponibilidade de recursos humanos e materiais.

Processo simples

Nos três locais visitados pelo JPN, a recolha das amostras é realizada por elementos do corpo docente e não docente da respetiva faculdade, com formação prévia para desempenhar a tarefa.

Na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP), a farmacêutica Eulália Mendes explica como tudo se processa. A pessoa que vai ser testada chega à sala, senta-se e baixa a máscara.

Depois é colhida a amostra, através de uma zaragatoa, para a realização de um teste rápido de antigénio. O resultado demora cerca de 15 minutos e é enviado ao aluno para o e-mail institucional. Embora, a maioria dos alunos já tenha passado pela experiência de ser testado, Eulália Mendes faz “sempre um pequeno esclarecimento” referindo que o teste “não é inócuo e causa algum desconforto”.

Até esta quinta-feira (15) foram realizados, na FFUP, cerca de 400 testes. João Marques, aluno do primeiro ano do curso de Ciências Farmacêuticas, foi um dos que decidiu aderir à testagem de forma a “garantir que não vinha contaminar os colegas”.

Adesão ainda baixa no ICBAS

No Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar (ICBAS), a organização é semelhante. Os testes tiveram início na quinta-feira e, segundo José Barros, o centro tem a capacidade de realizar até 500 testes por dia.

Contudo, a adesão da comunidade académica, segundo o responsável pelo ponto de testagem do ICBAS, instalado no Hospital de Santo António, ficou aquém do que era esperado. “Aderiu mal (…) tivemos faltas de 40%”, referiu o professor do ICBAS na manhã de sexta-feira, quando o JPN visitou o local.

A enfermeira responsável pelo centro de testagem, Maria Fernanda Lopes, reforça a fraca afluência e explica que a maioria dos testes foram feitos a “professores e pessoal não docente”.

O período de testagem vai ainda prolongar-se, mas não é sabido até quando, uma vez que a instituição está “dependente dos testes que sejam enviados”, explicou ainda José Barros ao JPN.

Estudantes dão uma ajuda na FMUP

No Pólo da Asprela, mais concretamente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), a adesão parece maior. Sem disponibilizar números concretos, tanto a FMUP, como a enfermeira Inês Azevedo, que processa os resultados dos testes, garantem que tem sido forte a adesão. Para já, nos primeiros dias, os testes só estão disponíveis para os estudantes do Mestrado Integrado em Medicina. A partir de quarta-feira (21), o acesso ao rastreio vai ser alargado.

A cantina da faculdade deu lugar ao centro de testagem, com cinco postos, no qual os estudantes do quinto ano da própria instituição realizam a recolha através da zaragatoa.

Bernardo Brás, estudante do quinto ano do curso de Medicina, voluntariou-se para aprender e sentir-se útil, em tempos de pandemia. “Já que pediram voluntários para ajudar e fazer esta testagem em massa”, “foi a oportunidade de perceber melhor como isto funcionava. E também para sentir-me um bocado útil nesta altura de pandemia, em que normalmente estamos em casa”, afirma.

No posto número um, Fábia Teixeira, também a frequentar o quinto ano do curso, enaltece a missão dos estudantes, que aproveitam este momento para a sua formação. Uma das características dos estudantes de Medicina é a vontade de ajudar e tornar o mundo um bocadinho melhor. Como parte da nossa formação é muito importante também ter momentos destes, em que nós temos oportunidade de estudar e de facilitar as coisas à faculdade”.

Ao terceiro dia de testagem na FMUP, e sem ter registado casos positivos, até às 11h00 desta sexta-feira (16), Fábia Teixeira garante que “as pessoas não vêm com receio”, uma vez que “têm consciência que se têm constrangido nos comportamentos”.

A realização dos testes por parte da Universidade do Porto visa promover um regresso às atividades letivas de forma segura, como reconhece Inês Veloso, estudante do terceiro ano. “É importante tendo em conta que queremos todos voltar às aulas, ou pelo menos, a grande maioria, e é uma forma de fazer isso de uma forma mais segura”.

Sobre o teste, Inês Veloso assegura: “Não custa nada. Custa mais porque as pessoas já estão tão nervosas que aquela expetativa é pior do que depois realmente fazer o teste”. Diogo Teixeira, a frequentar o segundo ano, confirma a simplicidade do teste e refere que veio “para tirar um bocadinho o peso da consciência”. “Vou começar as aulas para a semana. Por agora são só certas cadeiras, certos alunos vão optar por fazer assim [regime presencial], mas uma pessoa começa a vir mais para a faculdade e acho que é importante, pelo menos, para descargo de consciência, nós aproveitarmos as oportunidades que nos dão”, justifica.

Ao longo dos próximos dias, todos os membros da comunidade académica da UP podem, de forma voluntáriamediante marcação prévia, realizar, gratuitamente,  o teste à Covid-19 nos dez centros de testagem.

Até ao momento, todos os elementos da comunidade UP devem ter recebido no seu e-mail institucional o link para a marcação do teste. No caso de tal não ter acontecido, a UP aconselha a que a situação seja reportada à respetiva unidade orgânica.

O rastreio promovido pela Universidade do Porto conta com a colaboração das escolas das Ciências da Saúde, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e da Cruz Vermelha Portuguesa.

A instituição dispõe de dez pontos de testagem: quatro geridos pelas faculdades ligadas às ciências da Saúde – ICBAS, Faculdade de Farmácia, Faculdade de Medicina e Faculdade de Medicina Dentária; três sob a supervisão do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto – Faculdade de Desporto, Faculdade de Economia e posto instalado no edifício antigo do ICBAS; e três com a ajuda da Cruz Vermelha Portuguesa – Faculdade de Ciências, Faculdade de Engenharia e Faculdade de Letras.

Para marcar o teste, vai ser preciso fornecer:

  •  nome completo
  • endereço de email institucional
  • número de telemóvel
  • data de nascimento
  • sexo
  • código postal da residência
  • n.º de cartão do cidadão (ou nº do passaporte para estrangeiros)
  • n.º de utente de saúde (ou equivalente caso não tenha)
  • e nacionalidade.

As pessoas que tiverem um resultado positivo vão ser contactadas pelas Autoridades de Saúde para a confirmação de diagnóstico com recurso a análise através de um teste PCR.

Artigo editado por Filipa Silva