José Mourinho foi, na segunda feira (19), despedido do Tottenham Hotspur FC, depois de 17 meses ao leme do clube de norte de Londres.

O timing da saída de Mourinho gerou alguma especulação. O empate na última jornada chegou contra uma equipa que está a lutar pelos mesmos objetivos dos Spurs (Everton FC), e a equipa vai participar na final da Taça da Liga no próximo domingo, dia 25 de abril, contra o Manchester City.

Ainda não é certa a causa do despedimento, com relatos tanto a dizer que esteve relacionado com a participação do Tottenham na Superliga Europeia, algo que, supostamente, Mourinho estaria contra, como também a afirmar que apenas se deveu aos resultados da presente época.

No imediato, será Ryan Mason, antigo jogador dos Spurs, a assumir de forma interina, até ao final da época, o comando técnico da equipa. O antigo médio fez toda a sua formação no Tottenham e chegou a fazer 78 jogos pela equipa principal, até sair para o Hull City FC, de Marco Silva. Em janeiro de 2017, sofreu uma lesão muito grave num jogo contra o Chelsea FC, onde fraturou o crânio. Depois de um longo processo de recuperação, anunciou a fevereiro de 2018 que se iria reformar enquanto jogador. Nessa altura, recebeu um convite por parte do seu clube do coração, o Tottenham Hotspur FC, para assumir um papel de treinador nos escalões de formação do clube. Começou por liderar os sub-19, e era até agora coordenador da formação.

Segundo o que a imprensa britânica tem noticiado, já desde antes do despedimento de Mourinho, o sucessor que Daniel Levy tem como primeira opção é Julian Nagelsmann, o jovem treinador do RB Leipzig. Numa segunda linha, aparecem nomes como Brendan Rodgers, treinador do Leicester City, Maurizio Sarri, ex-Chelsea e Juventus, e ainda Nuno Espírito Santo, atual líder do Wolverhampton Wanderers.

Uma passagem surpreendente e breve

Os dias 19 e 20 de novembro de 2019 foram muito impactantes para os adeptos dos Spurs. No final da tarde de 19, Mauricio Pochettino foi despedido e, quase imediatamente, falava-se que seria José Mourinho o seu sucessor. Pouco mais de 12 horas depois, na manhã de 20, o português foi apresentado por Daniel Levy, presidente do clube, como o próximo treinador do Tottenham Hotspur FC.

Pochettino elevou muito as expectativas dos adeptos e dirigentes, mas era agora trabalho de José Mourinho de conseguir agregar o que argentino tinha feito, dar o seu toque pessoal e fazer o que havia feito por todo o lado que tinha passado – vencer títulos.

O seu reinado começou de forma positiva. Chegou com o clube em 14.º na tabela da Premier League ao fim de doze jogos, ainda que apenas a três pontos do quinto classificado. Mudou alguns detalhes da equipa – colocou Eric Dier a jogar no meio-campo, apostou em dois extremos de raiz e os resultados, no imediato, foram melhores.

Apesar de alguns sustos nos primeiros jogos – na estreia contra o West Ham estava a ganhar por três bolas a nada, mas deixou os vizinhos aproximarem-se do empate com dois golos perto do fim com mais um a ser anulado, e contra o Olympiacos na segunda partida começou desde muito cedo a perder por 2-0, mas acabou por virar a partida e vencer por 4-2 – conseguiu quatro vitórias nos primeiros cinco jogos.

A equipa ainda teve alguns momentos menos positivos ao longo da temporada, como os seis jogos sem ganhar diretamente antes da pandemia forçar a paragem das competições, mas de uma forma geral, José Mourinho conseguiu estabilizar o barco. O objetivo principal de chegar à Liga dos Campeões não foi cumprido, mas a qualificação para a Liga Europa não ficou comprometida.

Mas se a época 2019/2020 foi vista por alguns, ainda assim, como positiva, então o início da presente época, até à altura do Natal, estava a ser verdadeiramente entusiasmante para os adeptos dos lilywhites. O clube reforçou-se em quantidade e qualidade ao longo do mercado de transferências do verão, com contratações de Sergio Reguilón, Matt Doherty, Joe Rodon, Pierre-Emile Højbjerg, Carlos Vinicius e do nome mais sonante de todos – Gareth Bale.

Ainda que tenha perdido o primeiro encontro da época, contra o Everton FC em casa, partiu para uma série invencível no campeonato, que apenas acabaria a 16 de dezembro, contra o Liverpool FC, à 13.ª jornada. Neste período. apenas perdeu para a Liga Europa contra o Real Antuérpia, e chegou mesmo à liderança da Premier League, na altura com os mesmos pontos que, precisamente, o Liverpool.

Nesse dia, Klopp levou a melhor, e começou a abalar a confiança dos Spurs. Não ganhou os seguintes dois jogos para a Liga, ainda que tenha conseguido depois voltar a estabilizar.

Mas o Liverpool FC voltou a ser carrasco da equipa de José Mourinho. Pouco mais de mês e meio depois, as formações voltaram a encontrar-se para a Premier League, com os reds a saírem por cima mais uma vez. A partir deste momento, a época dos lilywhites caiu a pique. Nos seis jogos seguintes, a contar para a Liga inglesa, perdeu por cinco vezes, conseguindo apenas triunfar diante do West Bromwich Albion, penúltimo classificado.

Depois deste período difícil, a equipa dava sinais de recuperação, mas foi nesse momento que aconteceu o maior choque da temporada. Nos oitavos de final da Liga Europa, o Tottenham defrontou o Dínamo Zagreb. Na primeira mão, os ingleses triunfaram por 2-0 em casa, partindo para a Croácia com algum conforto. Mas a equipa esteve desligada da partida da segunda mão, e acabou mesmo por perder por 3-0 já no prolongamento.

Nos quatro jogos desde então, venceu apenas por uma vez, contra o Aston Villa FC, contando com dois empates contra o Newcastle United e Everton onde a equipa desperdiçou lideranças. No final de contas, foram 20 pontos perdidos a partir de posições favoráveis na Premier League, mais que qualquer outro clube. Adicionando esses vinte pontos, o Tottenham fica na segunda posição, a apenas quatro pontos do líder Manchester City FC.

José Mourinho conseguiu uma média de pontos por jogo no Tottenham inferior a Pochettino, André Villas-Boas e Harry Redknapp. Foi também a época na carreira do treinador onde registou o maior número de derrotas, com 13.

Artigo editado por João Malheiro