Portugal está a entrar na Fase 2 do Plano de Vacinação e o objetivo é claro e ambicioso: vacinar cerca de “100 mil pessoas por dia, sete dias por semana, durante quatro meses”, disse esta quarta-feira o almirante Gouveia e Melo, em conferência de imprensa, na qual estiveram presentes, para além do coordenador da Task Force da Vacinação, a ministra da Saúde, Marta Temido, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, e o presidente do Infarmed, Rui Ivo.

A operação prevê-se “massiva e urgente, e por isso complexa”, adiantou o almirante. As expectativas, contudo, são as melhores, depois do teste bem sucedido do último fim de semana (17 e 18), quando foram inoculadas 184 mil pessoas, na sua maioria professores e outros profissionais das escolas, o que prova, segundo Marta Temido, que os modelos que foram desenhados pelas autoridades portuguesas “estão à altura dos desafios”.

Conseguir vacinar toda a população acima dos 60 anos, agora que existe “abundância de vacinas”, como sintetizou Graça Freitas, será decisivo no combate aos efeitos mais gravosos da doença e na progressiva normalização do funcionamento da sociedade no seu todo, pois 96% dos óbitos registados nos últimos 365 dias foram de pessoas acima dos 60 anos.

Automarcação deverá estar disponível a partir da próxima semana

Com o número de vacinas a aumentar, o maior desafio passa a ser a organização do processo de administração.

A este respeito, Marta Temido anunciou que espera ter o sistema de autoagendamento a funcionar na próxima semana. Este permitirá a cada cidadão definir o dia e local que mais lhe convém para a toma da vacina.

Por seu turno, Gouveia e Melo abordou a contratação dos profissionais de saúde necessários para proceder à inoculação.

O almirante esclareceu que vai ser dada prioridade à contratação de profissionais do Ministério da Saúde (por mobilidade ou contratação), ainda que devam ser incluídos profissionais cedidos pela rede de parceiros, nomeadamente, as autarquias.

Milhares de doses inutilizadas em Famalicão devido a falha energética

Gouveia e Melo avançou que terão ficado inutilizadas 2.400 doses de vacinas, no centro de vacinação de Famalicão, depois de um corte de luz ocorrido durante a madrugada. O número terá sido, contudo, mais elevado. O secretário de Estado da Saúde fala em 5 mil doses perdidas – número confirmado pelo JPN junto da Administração Regional de Saúde do Norte -, fazendo deste o maior incidente do género ocorrido até agora no país, desde que teve início a vacinação contra a Covid-19.

Questionado pelos jornalistas, Gouveia e Melo desvalorizou o ocorrido, notando que em 3 milhões de vacinas já recebidas, Portugal terá perdido, até ao momento, apenas alguns milhares de doses.

Contudo, o responsável pela Task Force da Vacinação sublinhou que já foi aberto um inquérito para apurar se se tratou de um acidente, ou se as causas da falha elétrica envolvem algum tipo de negligência ou dolo.

Vacina Janssen começa a ser administrada logo que Comissão Técnica dê luz verde

Portugal vai adotar as orientações da EMA relativas à vacina da Janssen e começar a utilizar as 31 mil doses já disponíveis no país.

Na terça-feira (20), a agência europeia, considerou a vacina “segura e eficaz”, nas palavras de Matra Temido, apesar da possível relação com o aparecimento de oito casos de coágulos sanguíneos nos Estados Unidos, em 7 milhões de doses administradas.

A “relação benefício/ risco mantém-se positiva”, sublinha Rui Ivo, do Infarmed.

Durante os próximos dias, a Comissão Técnica de Vacinação vai verter para o Plano Nacional de Vacinação o parecer anunciado pela EMA, definindo eventuais restrições etárias ou de género para a administração da vacinação.

A ministra não adiantou se a vacina da Janssen será priorizada para os maiores de sessenta, à semelhança do que acontece com a da AstraZeneca, mas sublinhou que os casos detetados nos Estados Unidos envolveram mulheres abaixo dos 60 anos.

Portugal irá receber até final de junho 1,7 milhões de doses da vacina.

Vacina AstraZeneca: EMA emite novo parecer na sexta-feira

A Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla inglesa) vai apresentar, na sexta-feira, os resultados de uma análise detalhada aos últimos dados disponíveis sobre a vacina da AstraZeneca.

Espera-se que o parecer da autoridade europeia esclareça os procedimentos a adotar relativamente à toma da segunda dose de quem recebeu a primeira dose da vacina da companhia anglo-sueca e tem menos de 60 anos (faixa etária à qual a EMA desaconselha, desde 7 de abril, a administração da vacina).

A ministra da Saúde espera ainda que a autoridade europeia proceda a uma leitura mais fina dos riscos etários da administração da vacina, estreitando o grupo etário ao qual a inoculação não é aconselhada.

Fase 2 do Plano de Vacinação dá prioridade por faixa etária e doença grave

Agora que Portugal começa a segunda fase do Plano de Vacinação, este passará a organizar-se com base em duas estratégias. Em primeiro lugar, a priorização etária, por ordem decrescente, sendo o foco imediato a população entre os 70 e os 79 anos.

Um segundo grupo com preferência será o da população que sofre de doença grave, independentemente da idade. Aqui incluem-se os doentes oncológicos com patologia ativa (em tratamento de quimio ou radioterapia), doentes em processo de transplantação, que sofram de imunossupressão (doentes de HIV), pessoas com doenças neurológicas ou doenças mentais graves.

Há uma extensa lista de doenças raras que também darão acesso prioritário à vacina.

Contudo, os que estão fora da norma definida pela DGS, mas que padeçam de algum tipo de doença grave, podem entrar no grupo dos prioritários, desde que haja uma sinalização médica nesse sentido.

Marta Temido garantiu ainda que todos os recuperados de Covid-19 poderão receber a vacina seis meses após receberem alta médica, assim que toda a população acima dos 60 anos tiver recebido pelo menos uma dose da vacina, o que deverá acontecer no final da terceira semana de maio.

Artigo editado por Filipa Silva