A Defesa do Consumidor (DECO) e as associações ambientalistas ANP/WWF, Sciaena, ZERO e Linked.Green juntaram-se na elaboração de um manifesto com o objetivo de diminuir o consumo de plástico nas grandes superfícies comerciais. A declaração oficial ocorreu esta quarta-feira (21), véspera do Dia Mundial da Terra, que hoje se assinala. No evento, o movimento anunciou “um desafio aos retalhistas portugueses a disponibilizarem produtos de limpeza e higiene pessoal a granel.” 

Carla Martins é designer e responsável pela iniciativa de design ecológico Linked.Green, assim como pelo Manifesto Refil. Em conversa com o JPN, admitiu que “as barreiras criadas noutros setores de produtos em Portugal – o alimentar, por exemplo” – fizeram com que se debruçasse mais sobre os produtos de limpeza e higiene pessoal. Queixa-se também que essas restrições “fazem com que os retalhistas fiquem sempre de pé atrás na altura de apostarem em medidas inovadoras.”

O Movimento Refil tem como grandes propósitos a diminuição do plástico e a “democratização do acesso” a práticas mais amigas do ambiente. Carla Martins já pôde trabalhar e observar práticas ecológicas de outros países europeus, onde “os hipermercados já funcionam com muitos produtos vendidos a granel.”

No seu entender o que vai acontecer é “uma transição entre produtos de doses pequenas para reenchimento de embalagens reutilizáveis, visto que é uma oportunidade para os retalhistas liderarem a mudança com as suas próprias marcas.” Para o consumidor também há vantagens: “os custos de produção e manutenção vão descer, o preço dos produtos vão descer e as pessoas vão acabar por adquirir mais”, acrescentou.

O combate ao excesso de plástico é já uma luta antiga de sensibilização da população aos comportamentos que se tornaram naturais e difíceis de combater, sobretudo numa era de consumo mais rápido, barato e fácil.

A DECO tem sido dos grupos mais vocais em Portugal, sobretudo em situações em que o consumidor não dá necessariamente atenção à quantidade de plástico em cada embalagem, mas ao preço de cada produto.

Andreia Almeida, jurista da DECO, esclarece ao JPN quais as maiores vantagens em escolher comprar a granel: “Há um custo associado de produção e do próprio material em cada produto e a venda a granel faz com que as pessoas paguem, cada vez mais, só a substância. Se as pessoas começarem a exigir e a comprar muitos produtos a granel, as marcas não terão outra opção senão adaptarem-se à vontade geral”, afirma.

Os produtos de limpeza e de higiene pessoal são, para já, dos que mais necessitam de embalagens de plástico. A solução para já encontrada “não é estática e envolve um grande esforço de várias partes”, garante Andreia Almeida.

A DECO sugere que os consumidores passem a comprar, por exemplo, embalagens maiores de champô, gel de banho, sabonete líquido e cremes hidratantes. E quando houver a necessidade de reabastecer, as pessoas deverão optar pela aquisição de recargas sempre que possível.

Quanto aos produtos de limpeza, a lógica é a mesma. Embalagens maiores para que cada quilo ou litro de produto acarrete menos plástico com a nuance de, em alguns casos, haver a possibilidade de comprar o mesmo líquido ou pó em recipiente de cartão ou outros materiais recicláveis e reutilizáveis. 

Em nota de imprensa, o Manifesto Refil dá conta que “um inquérito recente desenvolvido em Portugal” constata que 70% dos portugueses estão disponíveis a dar novos usos a embalagens de produtos de higiene pessoal como o champô, gel de banho e detergente como forma de “reduzir a poluição por plásticos”. 

Artigo editado por Filipa Silva