De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano 2020 das Nações Unidas, Portugal ocupa o 38.º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano. Em comparação com o ano anterior, a posição é a mesma: sem descida, mas também sem subida.

Este é um dos planos em que a Fundação José Neves (FJN), do também criador da plataforma de moda de luxo Farfetch, pretende atuar. O objetivo da organização é melhorar os índices de desenvolvimento humano do país, tornando Portugal numa sociedade do conhecimento, em que a educação, as competências, e o desenvolvimento pessoal são a chave.

Ao JPN, Carlos Oliveira, presidente executivo da fundação, explica: “se tivermos um país com pessoas com mais competências, que aprendam ao longo da vida, teremos pessoas mais felizes e, por conseguinte, teremos empresas melhores e um país melhor”.

Tendo o propósito em linha de vista, o trabalho da FJN assenta em quatro pilares. O primeiro é promover o acesso à aprendizagem e à educação. É nesse contexto que a fundação criou o projeto ISA FJN, um programa de bolsas reembolsáveis para quem quiser prolongar a sua educação.

Estudar agora, pagar depois

O ISA FJN é um programa de apoio ao desenvolvimento de competências e destina-se a estudantes do ensino superior, a pessoas empregadas ou desempregadas. A fundação paga as propinas e o beneficiário reembolsa quando começar a trabalhar. Tendo em vista a formação de curta duração, o programa aplica-se a mestrados, MBA, formações para executivos, cursos vocacionais e profissionais, e bootcamps.

O lançamento do ISA foi “acelerado” por causa da pandemia. “Acreditamos que podemos ajudar muitos portugueses até por causa da pandemia. Seja por dificuldade financeira, seja porque perderam o emprego e pretendem ter uma oportunidade de voltarem a desenvolver e ganhar competências”, comenta Carlos Oliveira.

Desta forma, a fundação tem cinco milhões de euros para “investir nos portugueses” até ao final do próximo ano, em propinas, garante a instituição. Com 26 instituições de ensino parceiras do projeto, entre elas a Universidade do Porto, e mais de 150 cursos disponíveis, o objetivo é continuar a aumentar este número.

Até ao momento, já houve mais de 750 candidaturas. No final da primeira fase, no próximo ano, a fundação vai medir o impacto e perceber se “em vez de ajudar mil ou 1.500 pessoas”, pode passar “para os milhares ou dezenas de milhares”. “Queremos medir isso e perceber que impacto é que pode ter no país no médio e no longo prazo”, afirma Carlos Oliveira. O objetivo para 2021 é atingir os dois milhões e meio de euros em propinas.

Plataforma única de informação sobre emprego, competências e educação em Portugal

Uma outra ferramenta-chave que a Fundação José Neves disponibiliza é o portal Brighter Future. Ancorado no segundo pilar da organização – potenciar competências do futuro -, trata-se de um portal que permite comparar e relacionar informações sobre cerca de 4 mil cursos e formações, e mais de 200 profissões. Aqui está reunida informação relevante sobre as áreas do emprego, competências e educação em Portugal. São, no total, 50GB de informação disponibilizada online.

Carlos Oliveira acredita que o Brighter Future pode ter um impacto muito positivo na vida dos mais jovens: “apesar de se aplicar ao longo da vida, aplica-se também aos jovens que querem tomar uma decisão sobre as áreas em que podem vir a estudar. Olhar para as profissões que estão neste momento disponíveis, terem acesso à informação, e depois verem quais são as competências necessárias e os cursos que dão acesso a essas profissões e os graus de emprego e de desemprego nesse curso”, são algumas das informações que a ferramenta procura disponibilizar.

O responsável explica que o programa pode ser também útil para as instituições de ensino saberem como estão a evoluir profissões, competências e cursos, “e, se puderem, usar depois essa informação para tomar decisões sobre futuros cursos a lançar ou adaptar currículos”.

Outra das apostas da FJN  vai passar por ajudar o país e o sistema de ensino a “olhar para aquilo que é o futuro da educação”. Será lançado um projeto na área “em breve”.

O quarto pilar de trabalho foca-se no desenvolvimento pessoal e conhecimento interior. “Tem a ver com a nossa perspetiva enquanto indivíduos, como essa intenção do mundo interior é fundamental para depois podermos trabalhar o mundo exterior. E aqui entram áreas muito importantes, como o bem-estar e a saúde mental”, resume Carlos Oliveira

Desta forma, no dia 2 de junho, a FJN vai promover o evento “Estado da Nação – educação, emprego, competências”, o evento anual da fundação que pretende analisar a transformação destas áreas na última década. Num formato totalmente digital, com vários convidados, entre eles o professor António Damásio, vai ser ainda apresentada na mesma data o novo programa da fundação para o quarto pilar.

A “fazer o caminho” para cumprir os objetivos             

Naquela a que apelida de “longa maratona”, a fundação vai dando os primeiros passos em direção ao objetivo de tornar Portugal numa sociedade do conhecimento. O diretor executivo afirma que, apesar de haver muitas iniciativas a trabalhar este âmbito, há ainda muito por fazer: “achamos que temos aqui um contributo a dar”. “Aquilo que estamos é a trabalhar todos os dias para que, nesta longa maratona, possamos cada vez mais, como país, aproximar-nos dessa visão. Estamos a fazer o caminho para que isso seja uma realidade”, garante.

Desta forma, deixa ainda o alerta de que se trata de um assunto que “necessita” de ser discutido sob pena de “o país não se desenvolver”. “Só aprendendo, só desenvolvendo competências é que desenvolvemos o país e temos pessoas mais felizes, não há outro caminho. Cabe a todos pensar fora do quadrado”, termina.

Artigo editado por Filipa Silva