O grupo de peritos ouvido esta sexta-feira (28) no Infarmed defende a manutenção da atual matriz de risco de linhas vermelhas da pandemia da Covid-19, em Portugal. A especialista Andreia Leite, da Escola de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, representando o grupo de trabalho, afirmou que “a incidência e o R(t) devem continuar a ser os indicadores principais” do risco da pandemia no território português.

A incidência “traduz menor probabilidade de transmissão e menor probabilidade de aparecimento de variantes” e é “o indicador precoce que permite atuar adequadamente e atempadamente“, considerou a especialista. Andreia Leite referiu ainda que a vacinação “deverá contribuir para manter valores controlados de infeção”, o que não justifica a modificação da matriz de risco.

O Presidente da República interveio na fase pública da reunião para expressar descontentamento por não se ter exposto o “ponto crescentemente importante” da correlação entre a incidência e os internamentos e níveis de mortalidade. Marcelo Rebelo de Sousa alertou que “a perceção é que os riscos estão a descer: não a incidência, mas os internamentos e a mortalidade”. Por isso, para que os decisores políticos e os critérios utlizados continuem a ter “legitimação pública“, é necessário o esclarecimento do público, advertiu o chefe de Estado.

À saída da reunião no Infarmed, a ministra da Saúde realçou que a matriz é “sobretudo um conjunto de sinais de alerta“. Marta Temido disse ainda que, “a seu tempo”, o Conselho de Ministros irá pronunciar-se sobre a manutenção ou modificação das atuais linhas vermelhas.

Questionada sobre o significado das declarações do Presidente da República, a ministra da Saúde considerou que “houve uma chamada de atenção para a necessidade de equilíbrio entre os vários valores [de decisão]”.

Vacinação é “a nossa melhor arma”

O especialista André Peralta Santos, da Universidade de Lisboa, revelou na reunião desta sexta-feira que nenhum cidadão acima de 80 anos que tenha sido infetado depois de tomar as duas doses das vacinas morreu. Em 272 idosos com mais de 80 anos que foram infetados apesar de terem tomado as duas doses da vacina, apenas 15 tiveram de ser hospitalizados e não se registou qualquer óbito.

O perito expôs que, atualmente, regista-se maior incidência de Covid-19 nas faixas etárias dos 20-29 e dos 30-40. Em sentido inverso, a incidência na população acima dos 80 anos “mantém a tendência decrescente”, referiu.

Já o epidemiologista Baltazar Nunes afirmou, esta manhã no Infarmed, que, em pessoas com mais de 80 anos inoculadas com vacinas da Pfizer ou da Moderna, a taxa de efetividade da vacinação contra infeção sintomática é de 80% e a taxa contra infeção sintomática ou não é de 75%. São “valores bastante bons”, na visão do especialista, a par com outros estudos feitos recentemente no Reino Unido.

O epidemiologista Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, revelou que a probabilidade de morrer devido a infeção por Covid-19 reduziu “drasticamente”. Se, a certa altura, a probabilidade era de 1 em 5, agora encontra-se em 1 em 20.

O coordenador da task force do plano de vacinação informou esta manhã, no Infarmed, que já foram administradas 5,2 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19. O vice-almirante Gouveia e Melo realçou que Portugal espera vacinar, até ao fim desta semana, 85% da faixa etária dos 60-69 e 40% dos 50-59 anos.

O grupo de cidadãos com mais de 40 anos deve ser vacinado, “em princípio”, a partir de 6 de junho e, na última semana, a partir de 27 de junho, prevê-se a vacinação dos portugueses com mais de 30 anos. O coordenador da task force afirmou que quer “manter o ritmo de vacinação elevado” e continua a acreditar que 70% da população receberá pelo menos uma dose até à segunda semana de agosto.

À saída da reunião do Infarmed, Marta Temido destacou que o país encontra-se numa fase de transição entre um momento sem ferramentas farmacológicas e um momento de expetativa de imunidade pelas vacinas. “A vacinação é a nossa melhor arma“, afirmou a ministra da Saúde.

Portugal registou mais 598 casos e uma morte por Covid-19, nas últimas 24 horas. O relatório divulgado esta sexta-feira aponta ainda que a incidência da doença em território nacional aumentou para 59,6 casos por 100 mil habitantes, enquanto o R(t) manteve-se no valor de 1,07. A média de mortes dos últimos sete dias é de 0,9 – a mais baixa desde o registo do primeiro óbito por Covid-19, em Portugal.

Até esta sexta-feira, morreram 17.023 pessoas de Covid-19 em Portugal.