O Conselho Metropolitano do Porto aprovou, na sexta-feira (28), por unanimidade, a realização de um acordo com a Infraestruturas de Portugal, tendo em vista a realização de estudos para a reabertura da Linha de Leixões ao transporte de passageiros e a extensão desta linha, em Alta Velocidade, até ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro.
Este acordo – que será celebrado entre a Área Metropolitana do Porto, os municípios do Porto, Matosinhos, Valongo, Maia e Gondomar e a IP – corresponde, assim, a uma nova estratégia concertada entre todos os municípios, e comandada pelos diretamente servidos pela linha, para alcançar um objetivo antigo: devolver a linha de Leixões ao transporte de passageiros, depois da tentativa frustrada de 2009.
Desde 1987 que a Linha está dedicada ao transporte de mercadorias.
Caberá, assim, à IP produzir uma série de estudos – das condições para adaptar a linha ao serviço de passageiros ao modelo de exploração, passando pela análise da viabilidade técnica e ambiental e pelo indispensável estudo de procura – sem os quais não será possível concretizar o objetivo.
“Não faz sentido que seja cada uma das autarquias a fazer este trabalho”, sublinhou Luísa Salgueiro, presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, na apresentação da proposta realizada na sede da AMP.
Os municípios tentam acelerar o processo aproveitando também a abertura do Governo, que incluiu a Linha de Leixões quer no Ferrovia 2020, quer no Plano Nacional de Investimentos 2030, ainda que no primeiro com o objetivo de reforçar o transporte de mercadorias. “Só conseguimos forçar investimento, se tivermos projeto”, resumiu a propósito José Manuel Ribeiro, autarca de Valongo.
“Terminou o tempo da discussão, estamos todos de acordo, o Governo também e, portanto, vivemos um momento histórico em que finalmente a Linha de Leixões poderá ser utilizada novamente por passageiros”, afirmou por sua vez Luísa Salgueiro, ao JPN, à saída da reunião.
A autarca acredita que os estudos sejam realizados pela IP “até ao final deste ano”. Quanto a um prazo para ter passageiros a circular, parece mais difícil de prever, sendo certo que os investimentos do PNI têm estar concluídos “até 2030”.
Linha tem de ser “duplicada”
De acordo com um estudo encomendado pela Câmara Municipal de Matosinhos, serão necessários cerca de 97,5 milhões de euros para concretizar o objetivo de voltar a ter passageiros na Linha de Leixões: cerca de 65,5 milhões para infraestruturas e 31,9 milhões para a aquisição de comboios.
Os 65,5 milhões incluem os custos estimados para a duplicação da linha em toda a sua extensão – sem a qual, diz o estudo, não será possível transformá-la numa alternativa efetiva para para o transporte de passageiros – a extensão até ao Aeroporto e a implementação de novas estações.
“Há uma diferença entre aquilo que é atualmente a demanda pela ferrovia e a localização das estações [da Linha de Leixões], embora estejam muito perto. Há grandes polos empresariais que se situam ao longo da via. Estes ajustes têm de ser feitos”, comentou Luísa Salgueiro na reunião dos autarcas da AMP.
A partir de Esposade, uma das estações que tem de ser relocalizada segundo o estudo, dar-se-ia uma bifurcação: os comboios oriundos da Linha de Aveiro/Ovar seguiriam rumo ao Aeroporto, ao passo que os originários da Linha de Braga, seguiriam em direção ao Mercado de Matosinhos. Neste tramo, o plano sugere um novo “ponto-chave” para a atração de passageiros: a criação de uma estação na Portela, que permitiria servir a zona do Mar Shopping.
Outro ponto fundamental segundo o plano, é a criação de uma estação adicional junto ao Hospital de São João que permitiria a ligação ao metro.
O plano estima que, assim renovada, a Linha de Leixões captaria 14 milhões de passageiros por ano para os comboios suburbanos do Porto, retirando cerca de 5,7 milhões ao metro.
Novas localizações para os apeadeiros de Araújo e São Gemil, e para a estação do Porto de Leixões também são sugeridas pelo Estudo para a Estratégia Ferroviária do Município de Matosinhos, apresentado em julho passado, e que concluiu ser vantajoso a vários níveis o regresso do transporte de passageiros no canal de Leixões.
Projeto “importantíssimo” para toda a AMP
“Só nesta zona onde passa a linha [de Leixões] vivem 250 mil pessoas que não têm grande oferta de transportes”, notou na sessão o presidente da Câmara Municipal de Valongo, José Manuel Ribeiro.
Sobre a ligação ao Aeroporto, considerou-a fundamental a uma escala que extravasa os municípios: “Se for possível levar o Alfa ou outro comboio [de alta velocidade] ao Aeroporto do Porto é uma decisão com importância estratégica para o noroeste peninsular. Porque reforça de tal maneira o Aeroporto do Porto que faz com ele passe a ser uma alternativa viável para quem viva a partir do Entroncamento”.
O presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Aires Pereira, também vincou os benefícios alargados que o projeto pode trazer: “Não sendo diretamente visado, todas as iniciativas que tenham como objetivo melhorar a circulação, retirar automóveis das estradas, melhorar os índices de mobilidade na AMP, são todas muito bem-vindas, porque de forma indireta acabamos todos por beneficiar com isso. É um projeto importantíssimo para toda a área metropolitana”, afirmou.
A Linha de Leixões, também conhecida como Linha de Cintura do Porto, foi inaugurada em 1938 e tem cerca de 18 quilómetros de extensão. Estende-se de Contumil ao Porto de Leixões. O serviço de passageiros nesta linha fez-se até 1987. Depois disso, passou a servir exclusivamente para o transporte de mercadorias. Houve uma reativação do serviço de passageiros entre 2009 e 2011, só entre Ermesinde e Leça do Balio, com paragens em São Gemil, Pedrouços e Leça do Balio, mas a operação acabou cancelada por falta de procura.