A exposição “Terçolho“, de João Maria Gusmão e Pedro Paiva, pode ser visitada no Museu de Serralves, desde sexta-feira (18). A obra foi produzida ao longo de quase 20 anos e abrange um trabalho extenso da dupla em filme, fotografia, escultura e instalação.

A “Terçolho” tem como base uma “ideia caleidoscópica”, de exposições dentro de exposições. “Inicialmente, o que nós estávamos a tentar fazer era separar os meios e fazer, efetivamente, exposições diferentes dentro de exposições diferentes”, disse João Maria Gusmão aos jornalistas, na visita guiada à imprensa.

Ao longo das galerias e da garagem do Museu de Serralves, as imagens passam a impressões fotográficas, a esculturas e a múltiplas projeções sem som. O ruído permanente dos mecanismos dos projetores, presentes nas galerias, ganha o protagonismo e cria um forte impacto sensorial na experiência do espectador, envolvendo-o na exposição.

Um hordéolo, mais conhecido como terçolho, é uma inflamação ocular que causa a sensação de um corpo estranho no olho. Quando o terçolho é de grandes dimensões, pode interferir com a visão e, consequentemente, com a perceção da realidade.

Desta forma, a escolha do nome da exposição complementa o objetivo da mesma: o questionamento do real, “porque [a exposição] tenta questionar precisamente aquilo que estamos a ver”, afirmou João Maria Gusmão, ao JPN.

A “Terçolho” apresenta-se como um laboratório de experimentação. Ao longo do seu trabalho, João Maria Gusmão e Pedro Paiva deram primazia à convocação do inconsciente, recorrendo nas suas obras ao absurdo, ao nonsense e à criação de situações improváveis. A exposição leva, assim, o espectador a questionar-se, continuamente, o que realmente está a ver.

Na visita guiada à imprensa, os artistas destacaram os locais onde realizaram alguns dos seus primeiros filmes, há cerca de 15 anos, entre os quais Marrocos, Brasil, Angola, Quénia e Portugal. Pedro Paiva referiu que as viagens conciliavam e acabavam por intercalar com o trabalho da dupla, salientando que era como trabalhar no atelier, mas num local distinto: “Muitas das vezes nós viajávamos para trabalhar”, explicou à imprensa.

A exposição “Terçolho” não tem uma ordem cronológica, sendo todas as peças de momentos diferentes da carreira dos artistas. As legendas das obras encontram-se somente num roteiro que é disponibilizado ao espectador no início da exposição.

João Maria Gusmão e Pedro Paiva foram vencedores do Prémio Novos Artistas Fundação EDP de 2004 e participaram em várias bienais internacionais. Destacaram-se, igualmente, em 2014 com as exposições “Peacock”, no Museu de Arte Moderna e Contemporânea, em Munique, na Alemanha, e, em 2017, com “Animais que ao longe parecem moscas”, em São João da Madeira, em Portugal.

“Terçolho” vai estar disponível até dia 7 de novembro, no Museu de Arte Contemporânea de Serralves.

A exposição tem curadoria de Philippe Vergne, diretor do Museu de Serralves, e Marta Moreira de Almeida, diretora adjunta do Museu, e coordenação de Filipa Loureiro.

Artigo editado por João Malheiro