Organizado pela companhia Erva Daninha, em coprodução com a Ágora – Cultura e Desporto do Município do Porto e o apoio da DGArtes, o Trengo – Festival de Circo do Porto está de volta, apesar das adversidades, causadas pela pandemia. O evento vai decorrer no Parque do Covelo e no Teatro Municipal Rivoli, entre os dias 28 de junho e 4 de julho.

“Para nós, este ano é um motivo de grande orgulho conseguir fazer o festival porque tivemos quase um ano e meio de muita dificuldade, muita confusão e muita insegurança e, por isso, neste clima conseguir continuar a fazer o festival e manter uma certa proximidade com o público, para nós, é um fator de muito orgulho”, afirma Julieta Guimarães, diretora artística da Erva Daninha, ao JPN. “Estamos muito nervosos porque tudo pode acontecer, mas estamos muito contentes por poder fazer isto”, acrescenta.

Este ano, o “lar” do Trengo será o Parque do Covelo, onde serão apresentados todos os espetáculos, à exceção do “Pour le Meilleur e Pour le Pire”, da companhia francesa Cirque Aïtal, que terá lugar no Teatro Rivoli, no dia 30 de junho, às 19h30.

“Há muitos espetáculos de circo que não são possíveis de apresentar num espaço público porque não foram pensados dessa forma, precisam de todas as condições de um palco, de uma teia, de estar obscurecido e por isso, é também fundamental manter esta ligação ao teatro para que possamos todos ver espetáculos com um nível internacional muito alto, que é o caso deste, da Aïtal, que só podia ser apresentado assim, com este espaço e este apoio”, explica Julieta Guimarães.

Porém, a diretora artística da Erva Daninha, reforça a importância dos espetáculos ao ar livre: “Os espetáculos serem no exterior surge de uma ligação à Ágora, que pertence ao município do Porto, e surge desta vontade de oferecer ao público estes espetáculos. O Trengo tem também uma característica fundamental que é esta ligação ao natural e dentro da cidade trazer pessoas para os parques e para os jardins”.

O espetáculo da Cirque Aïtal é também o único cuja entrada não é livre. “Só temos um espetáculo pago, o espetáculo do Rivoli que, curiosamente, também é o único que quem não pode vir ao festival pode ver online. Das 20 apresentações, só uma é que é paga”, esclarece Julieta Guimarães.

Como já é tradição, o festival acolhe artistas nacionais e internacionais, procurando abranger várias escolas circenses. “É importante apoiar artistas locais, mas um festival, a nosso ver, tem que viver de outras culturas também, porque há outros saberes, outras experiências. Há países em que o circo contemporâneo já vai muito à frente e tem muita formação e então é fundamental haver estes saberes aqui e mesmo haver este encontro de diferentes culturas”, afirma a diretora artística.

Cartaz da 6.ª edição do Trengo – Festival de Circo do Porto Foto: Trengo

Este ano, o festival conta com a presença de companhias francesas e espanholas. Espanha vê-se muito bem representada, com quatro espetáculos a apresentar: “La Madeja”, de Irene de Paz, que terá lugar nos dias 29 e 30 de junho, às 18h30; “Espera”, de Francesca Lissia e Celso Pereira/Compañia de Circo EIA, no dia 3 de julho, às 12h00 e às 16h00; “Distans”, da estrutura Vol’e Temps, com apresentação no dia 4 de julho, às 11h00 e às 16h00, e ainda “”, de Xampatito Pato, também no dia 4, às 12h00 e às 15h00.

Quanto às apresentações gaulesas, para além do já mencionado “Pour le Meilleur e Pour le Pire” da Cirque Aïtal, o Trengo acolhe uma parceria lusitana em “L’Autre”, da companhia franco-portuguesa O Último Momento, espetáculo que junta o português João Paulo Santos e o bailarino de hip-hop Lliasse Mjouti, nos dias 1 e 2 de julho às 19h30 e às 18h30, respetivamente.

Por seu lado, o circo português vê-se representado no festival por três espetáculos. A companhia PIA apresenta “O2”, um espetáculo que questiona “a desenfreada modernização nesse futuro sempre frágil e incerto”, nos dias 1 e 2 de julho, às 18h30 e às 19h15, respetivamente.

A companhia Quando Sais à Rua, com o seu espetáculo “Vinil”, que terá lugar nos dias 3 e 4 de julho às 17h00, procura explorar uma metáfora sobre o disco riscado e a repetição do erro e de como isso interfere com a vida quotidiana.

Por último, a companhia Oliveira & Bachtler combina elementos de Portugal e dos Estados Unidos e conta com o apoio proveniente de Inglaterra. Hugo Oliveira e Sage Bachtler Cushman, com a colaboração do criador Luciano Amarelo, vão apresentar no dia 3 de julho às 11h00 e às 15h00, “Otus Extracts”, um trabalho em que utilizam “técnicas de circo, teatro físico, movimento, palhaço e cenografia.”

O Festival Trengo pretende destacar-se como um importante difusor do circo contemporâneo, tanto a nível nacional, como internacional e “inovar, quer a nível de discurso quer a nível de técnicas”, explica Julieta Guimarães. “Por um lado, temos espetáculos que tocam em temáticas pertinentes, em que o circo deixa de ser só aquela coisa virtuosista e, por outro lado, temos também as inovações técnicas, em que deixamos de recorrer só aos objetos ou às técnicas clássicas e passamos a utilizar coisas diferentes”, acrescenta.

No comunicado enviado à imprensa, a produção do festival declara que o evento “passa por fazer convergir as novas linguagens do circo enquanto denominador comum da programação e oferecê-las ao público sob a forma de espetáculos, visando a comunhão entre os intervenientes, ou seja, o binómio artistas e espectadores”.

De resto, isso reflete-se no nome do próprio festival: “Trengo aqui no Porto é uma palavra carinhosa que se usa muito e que dizemos a alguém que é despistado. Ora, despistado é exatamente o que um artista de circo não pode ser. Um artista de circo não pode ser desajeitado porque pode-se magoar, obviamente. Então o trengo, neste caso, é também o ponto de vista do espetador: os trengos juntam-se aqui a ver os artistas de circo a partirem-se todos. É uma brincadeira que funciona por oposição”, resume Julieta Guimarães, ao JPN.

Artigo editado por João Malheiro