Uma Biblioteca Pública Municipal do Porto (BPMP) “menos austera e mais sala de estar”, com o triplo da atual capacidade de depósito, mais organizada ao nível da logística, com mais espaços exteriores e mais acessível (e visível) ao público.
Assim se poderiam resumir os principais traços do programa que servirá de base ao projeto de ampliação e requalificação da BPMP que o arquiteto Eduardo Souto de Moura foi esta segunda-feira (28) de manhã apresentar à vereação do município do Porto, na reunião pública do executivo.
Para levar a cabo o projeto, que implicará construção nova e algumas demolições, serão precisos cerca de três anos “só para a obra em si”, nas contas do Prémio Pritzker, que foi também quem concebeu a Sala de Leitura Infantojuvenil e o Auditório da BPMP, em 1994.
O arquiteto está, de momento, a trabalhar no estudo prévio ao qual se seguirá um anteprojeto e, finalmente, o projeto de execução. Só aí se terá noção mais exata do investimento necessário, para já orçado em 17 milhões de euros.
A ampliação para cerca de “54 quilómetros” do comprimento global de estantes de depósito permitirá “triplicar a capacidade da Biblioteca”, o que o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, destacou como um dos objetivos fundamentais do projeto. A par disso, destacou o autarca, a requalificação “vai permitir uma fruição diferente da Biblioteca”, além de permitir a realização de atividades que a câmara diz não conseguir ali realizar por falta de condições.
O projeto foi saudado por toda a oposição, que se mostrou também crente numa necessidade de investimento bastante superior à para já estimada. “Prevejo que estes 17 milhões serão um bocado mais, irá provavelmente para um custo superior a 20 milhões, mas é um investimento necessário”, frisou Manuel Pizarro pelo PS.
“Os custos parecem muito conservadores, dados os preços atuais dos materiais de construção, mas o custo-benefício de uma obra destas é mais do que justificado”, declarou por sua parte Miguel Seabra do PSD.
Ilda Figueiredo, da CDU, lamentou que o projeto tenha sido no passado “interrompido”. “Triplicar a capacidade de depósito é para mim fundamental”, disse ainda a vereadora comunista, que reconheceu nessa alteração um incremento com “impacto nacional”.
Há soluções no projeto que ainda serão avaliadas, como o possível fecho do claustro na cobertura. Apesar de não se mostrar muito favorável à opção – “é mais dinheiro e há que não esquecer as gaivotas” -, Eduardo Souto de Moura estudou duas hipóteses para o caso de essa vir a ser a vontade da autarquia.
Certas parecem a construção, no Piso 0, de uma cafetaria com esplanada interior, com entrada autónoma, que poderá vir a ter um funcionamento que se estenda para lá do horário da biblioteca, e uma galeria envidraçada, ambas a dar para a Avenida de Rodrigues de Freitas, tendo Souto de Moura destacado a “ligação muito forte” entre a Biblioteca e a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, localizada do outro lado da rua.
“Não é só quantidade, é o ambiente que ficará completamente diferente”, resumiu Eduardo Souto de Moura que assim prometeu um espaço “mais airoso”.
O projeto de requalificação da BPMP foi pela primeira vez discutido com o arquiteto em 2001, mas dois anos depois a ideia foi abandonada. Em 2019, o atual executivo camarário convidou formalmente Souto de Moura para liderar o projeto. Foi preciso esperar depois pelo visto do Tribunal de Contas para que a obra pudesse ser contratada ao arquiteto.
O visto chegou em março de 2020, mas a pandemia da Covid-19 atrasou o processo. Agora, garante o arquiteto, feita a entrega e aprovação do programa base tudo leva a crer que o processo vai ser “mais rápido”. Ainda assim, não quis arriscar um prazo para a conclusão do projeto.
A Biblioteca Pública Municipal do Porto está instalada no antigo Convento de Santo António da Cidade desde 1842. A entrada principal faz-se pela Rua de Dom João IV, junto ao Jardim de São Lázaro.