O icónico Estádio de Wembley recebeu, na tarde de terça-feira, o jogo de maior cartaz dos oitavos de final do Euro 2020: Inglaterra e Alemanha reeditaram uma partida de memória amarga para os britânicos.

Em 1996, o primeiro jogo das meias-finais do Europeu, disputado em solo inglês, foi decidido apenas nas grandes penalidades, com Gareth Southgate, atual timoneiro da seleção dos Três Leões, a falhar o penálti que ditou a eliminação dos ingleses. Um resultado que, além de devastar o público da casa, começou uma espécie de ‘maldição’ da equipa em desempates por penáltis.

Vinte e cinco anos depois, o antigo defesa queria redimir-se daquela fatídica noite em Londres e, para isso, escolheu para este jogo um esquema tático que espelhava o alemão: o 3-4-3 – embora com nuances que os distinguiam – para anular a ofensiva germânica, nomeadamente o trio Müller, Havertz e Werner, assim como os alas Gosens e Kimmich.

Joachim Löw, por outro lado, não alterou o sistema tático em função do adversário e apostou no já referido 3-4-3, embora por vezes se assemelhasse a um 3-4-2-1, com Werner mais solto na frente.

Ritmo baixo acelerou perto do intervalo

Se, nos primeiros 15 minutos, a Alemanha parecia ter o controlo da partida, conservando a posse de bola e tendo a iniciativa de jogo, a Inglaterra não tardou a reagir e rapidamente feriu a defesa germânica e criou várias ocasiões de golo.

Em rápida sucessão, aos 16 e aos 17 minutos, os Três Leões provocaram calafrios à Mannschaft, com remate perigoso de Sterling e cabeceamento de Maguire à figura.

Pouco depois, no entanto, teve lugar a resposta alemã, a surgir por intermédio de Werner, após passe do colega de equipa Havertz, num remate disparado na direção de Pickford.

Ainda antes do intervalo, Harry Kane teve nos pés a melhor situação de golo da Inglaterra no primeiro tempo. Depois de a bola ressaltar para a sua frente, tirou Neuer do caminho e ficou com a baliza deserta diante de si, sendo surpreendido pelo corte impressionante do experiente Mats Hummels, a tirar um golo certo ao adversário.

Sterling quebrou o gelo e Kane selou a vitória

Ao contrário do que seria de esperar, e tendo em conta as partidas alucinantes do Europeu no dia anterior, a segunda parte não teve, até ao golo de Sterling, aos 75 minutos, muita história.

Ambas as equipas pareciam ter mais receio de sofrer do que vontade de marcar, o que tornou o jogo muito dividido a meio-campo e sem oportunidades de relevo.

Até que, a 15 minutos do apito final, já com Jack Grealish em campo, a Inglaterra chegou ao golo, por Sterling, que levou milhares de adeptos nas bancadas ao rubro.

A jogada começou precisamente no extremo do Manchester City, que passou para Kane. O avançado tocou para Grealish e o capitão do Aston Villa descobriu Shaw na esquerda, que cruzou de forma milimétrica para o jogador de 26 anos bater Neuer com um remate de pé direito.

Estava desfeito o nulo no marcador, que, pela fraca intensidade da partida, se esperava até final.

Pouco depois, aos 81 minutos, Müller surgiu isolado na cara de Pickford, mas atirou ao lado, para alívio de Sterling, que tinha perdido a bola no início da jogada, e temia passar de herói a vilão no espaço de poucos minutos.

Cinco minutos depois, porém, as esperanças alemãs seriam desfeitas pelo goleador Harry Kane, que, depois de nova combinação entre Shaw e Grealish, cabeceou para o fundo da baliza de Neuer e fixou o resultado final: 2-0.

Concluídos os 90 minutos, desta, vez, no final não ganharam os alemães. A ideia que ficou imortalizada na célebre frase de Gary Lineker, pode agora ser “enterrada”, segundo afirmou o próprio após o término do encontro.

Com este triunfo, e superação do receio psicológico que existia frente à Alemanha, a Inglaterra segue para os quartos de final, para defrontar a Ucrânia (que eliminou a Suécia, no prolongamento, por 2-1) e, pelo facto de as meias-finais e final se jogarem em Wembley, a seleção vai embalada ao som da famosa canção “It’s Coming Home”, lançada em 1996, também para o Europeu.

“Estes jogadores continuam a escrever história”

No final do encontro, era notória a felicidade do selecionador inglês ao abordar o feito histórico protagonizado pelos seus jogadores: “É um grande resultado. A Inglaterra não conseguia vencer a Alemanha num jogo a eliminar desde a final aqui [em 1966]. Estes jogadores continuam a escrever história e têm uma nova oportunidade. Eles têm a hipótese de fazer algo realmente especial”.

Sobre a euforia do público, Southgate destacou o apoio recebido em cada lance: “Estive aqui com a casa cheia e não ouvi nada perto dos níveis que a multidão fez hoje. Eles estavam por trás de cada vez que pressionamos a bola, de todas as corridas que fizemos.”

Löw, em contraste, despediu-se do comando da Mannschaft, dececionado com a eliminação precoce do Europeu e já a olhar para o seu futuro enquanto técnico: “Estamos eliminados, é uma deceção, mas com todas as dificuldades que tivemos, só posso dizer que aprendi muitas coisas. Preciso de respirar, sim, de um pouco de distância, é normal que eu não queira já um projeto novo, mas vou aproveitar o tempo. Vai haver novas oportunidades e isso vai ser bom para mim”.

Nos quartos de final, a Inglaterra vai discutir com a Ucrânia o acesso às meias-finais, em Roma, no sábado, dia 3 de julho. O jogo terá transmissão na Sport TV 1.

Artigo editado por Filipa Silva