“Eu não gosto de atenção”. A frase foi várias vezes repetida por Frances Haugen na abertura da Web Summit 2021, que decorreu esta segunda-feira, em Lisboa. Mas foi sobre ela, a denunciante por trás dos Facebook Papers, que recaiu boa parte da atenção nesta primeira sessão do evento.

A ex-funcionária da maior rede social do planeta disse também, aos milhares que a ouviram na Altice Arena, que a divulgação dos documentos e a decisão de se insurgir contra as práticas da antiga empresa, não foram atos planeados. O que moveu Frances, segundo a própria (e nas palavras da mãe, que recordou), foi a ideia de que “todos os seres humanos merecem a dignidade da verdade”.

De acordo com a whistleblower, o que é mais importante retirar dos dados que foram tornados públicos é a ideia de que o Facebook está a tentar transmitir uma “falsa escolha” aos utilizadores: “censura ou liberdade de expressão”. Para a norte-americana, a empresa tem de assumir responsabilidades porque decide “quem tem o microfone maior”. 

Frances Haugen, a denunciante do Facebook. | Fonte: Web Summit Flickr

A experiência de ter trabalhado em mais quatro redes sociais, antes de ter desempenhado funções no Facebook, permitiu, garantiu Frances, um “maior conforto” nas decisões que decidiu tomar. 

As críticas à plataforma, que surgem um pouco por todo o lado, coincidem com a altura em que o grupo Facebook, que inclui o WhatsApp, Messenger, Instagram, rede social Facebook e Oculus, mudou o nome para Meta. Esta nova designação pretende abarcar, em si, o foco na criação de um mundo virtual, o metaverso, acessível através de aparelhos de realidade virtual e aumentada. 

Aquando da abordagem deste tema durante a sessão, Frances soltou um riso e atirou: “Há um meta-problema no Facebook. Uma e outra vez o Facebook escolhe a expansão em vez de se focar naquilo que já tem. Em vez de gastarem dinheiro para garantir que as suas plataformas são seguras vão investir em 10 mil engenheiros para fazerem videojogos”, afirmou.

Após o lançamento de um cenário hipotético que colocaria Mark Zuckerberg e Frances Haugen cara a cara, a denunciante não escondeu que considera que o CEO tem um “sonho lindo: conectar as pessoas”. Acrescentou ainda que não é um erro que torna alguém “má pessoa”. 

Contudo, a cientista de dados defende que, pelo facto de “ele [Mark Zuckerberg] continuar a cometer erros”, os stakeholders do Facebook deviam optar por um novo CEO. “Eu acho que o Facebook seria mais forte com alguém que se foca na segurança”, concluiu.

Um movimento para a História

Ayọ Tometi, cofundadora do “Black Lives Matter” | Foto: Inês Araújo e Silva

Ainda que o tema Facebook tenha estado em grande destaque nesta primeira noite (e vá continuar a estar ao longo do evento), na abertura houve também espaço para outro assunto dominante, sobretudo nos media norte-americanos: o movimento Black Lives Matter. A organização, representada na Web Summit pela cofundadora Ayọ Tometi, foi já considerado um dos movimentos mais importantes da História dos Estados Unidos da América, e é um lembrete, diz a ativista, de que “o status quo não tem de vencer”. 

Ayo explicou que foi no seio de um “amor e orgulho profundos” pela comunidade onde nasceu que quis criar uma plataforma que criasse impacto, uma “infraestrutura para a mudança” e que permitisse a criação de “um mundo onde toda a gente importa”. 

A ativista sublinhou que “quando os marginalizados falam, os outros juntam-se”. “O tempo é agora”, alertou.

À esquerda, Nicolas Julia | Foto: Inês Araújo e Silva

Nicolas Julia, apresentado como “um dos maiores unicórnios europeus”, foi o maior nome ligado à tecnologia a pisar o palco da Altice Arena, esta segunda-feira. O cofundador e CEO da Sorare, uma startup ligada ao “futebol fantasia”, que usa a tecnologia blockchain

De acordo com o empresário, as NFT’s (non-fungible token) permitiram, durante a pandemia, “aproximar os fãs de futebol da sua paixão”. “A ambição é construir o maior grupo de entretenimento no mundo do desporto”, adiantou. “Temos tudo para o sucesso”, garantiu Nicolas.

Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, e Pedro Siza Vieira, ministro da Economia, foram os representantes da cidade e do país na cerimónia. Moedas, pela primeira vez na Web Summit enquanto autarca, revelou o desejo de transformar Lisboa na “capital da inovação”. Já Siza Vieira fez questão de realçar, perante os participantes do evento, a segurança que existe em Portugal, tanto no dia a dia, como ao nível sanitário, apresentando Portugal das maiores taxas de vacinação do mundo contra a COVID-19.

Esta terça-feira, decorre o dia 2 da Web Summit com sessões das 09h00 e terminam às 17h30. Entre as figuras de cartaz estão a estrela do futebol Thierry Henry, a atriz Amy Poehler e o CTO da Amazon, Werner Vogels

Artigo editado por Filipa Silva