No palco compareceram, como estava prometido, nomes grandes das quatro vertentes do hip hop nacional (Ras Kass, ex-The HRSMN, foi o convidado surpresa). Num Super Bock Arena a meio gás, assistiu-se a uma viagem pela história da cultura conduzida por Eva Rap Diva. Domingues estava na plateia a vibrar com o concerto: "Isto aqui não é brincadeira", afirmou ao JPN.

O recinto começou a ganhar vida ainda antes de Eva Rap Diva entrar em palco. Foi a DJ Fifty que coube o papel de ambientar o público jovem que ia chegando, pouco a pouco, ao Super Bock Arena.

Inicialmente programado para outubro, o Jump Around chegou na sexta-feira (26) aos palcos do Porto para cumprir a promessa com que foi anunciado: celebrar as quatro vertentes do hip hop. O público não compareceu em massa – a lotação terá andado pela metade -, mas o que esteve vibrou ao longo das quatro horas de espetáculo.

Foi já por volta das 22h00 que a rapper angolana tomou conta da casa e deu início a uma viagem pela história do género nascido nos Estados Unidos. O Djing foi o primeiro capítulo em destaque.

Com início nos anos 70, o hip hop ganhou vida nos subúrbios de Nova Iorque, porque, recordou Rap Diva, os disk-jockeys procuravam inovação para animar as festas da cidade. No palco do Super Bock Arena, coube ao mestre português dos ‘pratos’, DJ Ride, demonstrar a arte do scratch. O vencedor de dois IDA World DJ Championships deixou o público boquiaberto.

Ainda não era o tempo dos “mestres de cerimónia” no Jump Around, mas Eva Rap Diva aproveitou a presença de DJ Ride para falar da relação entre os mestres da palavra e os mestres dos discos. Aos primeiros, disse, cabe “soltar umas rimas”, coisa que tratou de fazer com recurso à indispensável improvisação. Para ganhar a simpatia do público, a angolana pediu uma palavra e, rapidamente, a transformou num verso. Ouviu-se “Porto” e a resposta saiu pronta: “o Rap não está morto”.

Era tempo de apresentar o segundo pilar do hip hop: o B-boying. Apesar de historicamente mal-afamado, Eva Rap Diva explicou que o B-boying ocupou muitos dos jovens de Nova Iorque. Deixaram de lutar e passaram a dançar. O Bboy Aiam e a sua crew Freestylerz abriram a pista de dança e foram aparecendo ao longo do evento para mostrar mais da sua arte.

No evento, houve também espaço para o MCing. Escrevem para descrever a sociedade, imaginam novas realidades e fazem arte através da poesia, assim são os rappers e MC. Eva referiu alguns nomes antigos desta vertente do hip hop e o público reagiu com particular euforia a uma referência: Barrako 27.

Kappa Jotta abriu o desfile de rap e foi o protagonista de um dos pontos altos do concerto,  ao pedir ao público para iluminar o Palácio de Cristal com as lanternas dos telemóveis, ao som de “Pela Cidade”. Terminou com um apelo à plateia para que “incomodem” os artistas de que gostam e os apoiem, neste contexto pandémico.

O Jump Around quis também promover o hip hop como forma de inclusão. Assim, a organização do evento deu a oportunidade a um amador presente na plateia para “cuspir umas rimas”. Neste seguimento, Rap Diva explicou que o “gangsta rap” inspirou muitos artistas a mudar de vida e, por isso, a frase “podemos mudar a nossa vida com uma rima” serviu de mote à apresentação de Phoenix Rdc. O rapper que cantou “Ingratidão”, “Vencedor” e “Última Noite”, esta última em homenagem à mãe, terminou a atuação com o mais recente single, “Morte do artista”.

O grafíti – a vertente que expressa a arte de todos os dias e representa a liberdade – mudou-se por umas horas da rua para o recinto com a missão de “pintar” o evento. Em Portugal, surgiu nos anos 80 e expressava-se contra a falta de liberdade de expressão. MrDheo, que já marcou cidades como São Paulo, Dubai e Joanesburgo tem, no Porto, a maioria dos seus trabalhos. O artista grafitou um mural em direto que, posteriormente, vai ser leiloado a favor de instituições de jovens em risco.

A uma atuação do fim do evento, Eva Rap Diva homenageou as mulheres e lembrou Capicua, uma artista de peso no hip hop português, aplaudida com ânimo pelo público feminino. A união foi, mais uma vez, referida e serviu de mote à apresentação da última dupla em palco – Mundo Segundo e Sam The Kid, conhecidos por ligar o Norte ao Sul, de Gaia a Chelas.

Os dois artistas fizeram uma viagem pelo repertório musical que criaram em conjunto, numa atuação que contou com uma surpresa. Mundo Segundo e Sam The Kid anunciaram uma “lenda viva do hip hop”, que veio do outro lado do oceano, diretamente para o Palácio de Cristal – Ras Kass subiu ao palco e surpreendeu a plateia.

O rapper californiano, um dos quatro cavaleiros do supergrupo de hip hop The HRSMN – com Canibus, Killah Priest e Kurupt – participou em dois temas da dupla portuguesa, ensaiou um “obrigado” e, adiantaram-no os portugueses, está ao que parece em Portugal “para uma temporada”.

“Isto aqui não é brincadeira”

No final, o público estava satisfeito. Apesar de não ser “a maior seguidora do hip hop”, Laura Costa, de 18 anos, não só gostou como saiu do recinto a saber mais sobre o género: “Foi fixe para mim, porque fiquei a conhecer melhor esta cultura.”

Sobre o que mais gostou no espetáculo, a escolha coincidiu com a de Tiago Curralo: Phoenix Rdc. “Ele tem uma mensagem diferente dos outros: mostra que veio de uma vida difícil, que superou com esforço e isso dá me muita motivação para o dia a dia”, considerou o estudante, que elogiou também o “trabalho de ligação” do espetáculo e os rappers que “estiveram fenomenais”. 

Luís Correia “esperava ver mais pessoal” no recinto, enquanto Sara e Penélope tiveram pena de não ter Sam The Kid e Mundo Segundo “mais tempo” em palco. “Não estou a dizer que foi mau, porque não foi! Deu para conhecer outros artistas, que, sinceramente, não conhecia. Mas gostava de ter tido mais tempo deles os dois”, atirou Sara no final.

Na plateia encontramos ainda Domingues, o autor do enorme êxito “Fica”, entusiasmado pelo que estava a ver em cima do palco: “já tinha saudades de ver o Kappa em palco, a partir com tudo”, afirmou ao JPN.

“É muito importante mostrar a cultura hip hop”, disse ainda, até porque, frisou: “Isto aqui não é brincadeira, nós vivemos mesmo isto, sentimos mesmo isto, seja da música ao breakdance, passando pelo grafíti, curtimos tudo e temos mesmo de mostrar isso e apoiar.”

Artigo editado por Filipa Silva