Num Super Bock Arena quase lotado, o vianense apresentou o sucessor de "Minho Trapstar", no primeiro de dois concertos de apresentação do novo disco “E Agora Como É Que É” . O espetáculo teve vários convidados.

O espetáculo de Chico da Tina, no último sábado (11), no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, foi o primeiro concerto de apresentação do álbum “E Agora Como É Que É”.

Até esta noite, o disco só tinha sido apresentado no novo espaço Moche, em Lisboa, numa sessão restrita a 100 fãs, num “concerto exclusivo e intimista”. Também na noite de sábado, a proximidade com o público foi chave na atuação. Chico da Tina é um artista que, em palco, tem a capacidade, ou o dom natural, de “agarrar” a plateia: “Eu vim acompanhar uma amiga, não conhecia as músicas, mas ele cria um ambiente muito bom”, confessava João Múrias ao JPN já depois do concerto.

No Pavilhão Rosa Mota, havia público de todas as idades, embora predominasse o mais jovem. A plateia em pé estava muito bem composta e o ambiente fazia lembrar, mais do que o de um concerto, o de um festival.

A “romaria” começou cedo

As portas abriram às 20h00. Bem cedo, três horas antes da atuação de Chico da Tina, a DJ Syl entreteve quem foi entrando no Super Bock Arena.

No cartaz, o início do espetáculo estava marcado para 21h00. João Não e Lil Noon abriram o concerto a essa hora. Os artistas de Gondomar apresentam uma mistura musical nas suas composições – uma introdução adequada ao que viria a seguir.

Ao Palácio de Cristal, começava a chegar cada vez mais gente, que, na sua generalidade, permanecia no exterior da sala de espetáculos, à espera do momento principal da noite.

Kenny Berg foi o quarto convidado antes do grande momento da noite. A sua atuação teve início um pouco depois das 22h00 e foi bastante mexida. Muito enérgico, muita envolvência com o público e muitos saltos no Pavilhão Rosa Mota – um excelente aquecimento para o grande momento da noite, que se seguiria.

“Chico! Chico! Chico!”

A arena invocava Chico da Tina, à hora marcada para o início da atuação. Com muita emoção e expectativa à mistura, os fãs tanto chamaram que o artista apareceu. O mote foi dado com a música que dá nome ao novo álbum: “E Agora Como É Que É”.

A entrada foi calma, com Chico da Tina a levar às costas uma mochila do Mickey e ao pescoço o famoso colar de Pedro Alexandrino. O artista entrou e declarou-se ao seu público: “Amo os meus fãs”. A primeira música, para ir despertando o Pavilhão Rosa Mota, foi o hitDeitei Tarde Acordei Late”.

O concerto foi ficando, gradualmente, mais enérgico. A boa energia de Chico da Tina era também complementada com a entrada de novos elementos em palco. No calor do espetáculo, Chico da Tina, como é habitual, tirou a camisola, podendo, assim, ostentar uma das suas imagens de marca. O tão bem conhecido “Tringle Chest” – sobre o qual tem uma música, no álbum “Minho Trapstar”.

Ao longo da noite foram acrescentadas cada vez mais atrações, havendo momentos do espetáculo em que chegaram a estar dez pessoas em palco. Fredo da Tina e Jão do Cepo, seus conterrâneos e companheiros de estrada, são alguns desses nomes responsáveis por parte da envolvência com o público.

Um dos momentos da noite foi a homenagem a Pedro Alexandrino de Carvalho.

A música “Cabral Moncada” tem um grande significado, porque faz alusão a um episódio que viria a mudar para sempre a estética de Chico da Tina. A pintura de Pedro Alexandrino, adquirida num leilão em Cabral Moncada e transformada num colar, é, hoje, um dos adereços principais da indumentária de Chico da Tina e é muitas vezes referida na sua obra.

A pintura é muito relevante para Chico, pela sua ligação à cultura neoclassicista do século XVIII: “Eu sonhava com neoclássicos em moço/e, hoje, Pedro Alexandrino ao pescoço”, canta Chico da Tina.

A música “Romarias” deu origem a outro dos momentos altos da noite. Nela, há uma exaltação das origens e tradições minhotas, aliada às ideias mais vanguardistas, como é típico em Chico da Tina.

O artista percorre as festas tradicionais mais importantes do Alto Minho: “Inícios de setembro, Feiras Novas, Ponte de Lima./Atração da noite, mano, é o Chico da Tina”.

Esta exaltação dos costumes minhotos é reforçada com a entrada de cada vez mais adereços – balões, bandeiras… – havendo também camisolas do Sport Clube Vianense, tudo em tons de azul e branco.

A predisposição festiva é um traço reconhecido dos minhotos e Chico da Tina deixou bem vincada a ideia.

À boa energia de Chico da Tina, juntou-se Tripsyhell, também com bastante entusiamo. Os dois cantaram alguns singles da mixtape conjunta, “LoveTape”, que foi lançado a 14 de fevereiro, deste ano.

Já com uma hora de concerto, Francisco da Concertina, o “Rei da Desgarrada” como se autointitula, introduz no show o instrumento que lhe dá o nome. Numa interação muito bem conseguida com os seus companheiros de palco e com o público: exaltava-se a portugalidade numa miscelânea de sons tipicamente portugueses, com predominância minhota. O momento mais “tradicional” foi um excelente lançamento daqueles que viriam a ser outros momentos fortes da noite.

O momento mais efusivo, com o “povo eufórico aos gritos”, foi o bangerNós Pimba”, do novo álbum. Chico da Tina partiu ao meio a plateia, mandou abrir um corredor e – o que já habitual nos seus concertos – fez acontecer um mosh pit. Para alguns fãs, que falaram com o JPN no final, esse foi o momento mais marcante do concerto.

Já em termos emocionais, o auge viria logo a seguir. Com o Pavilhão Rosa Mota à luz das lanternas, Chico da Tina cantou a música “Ronaldo”, uma das mais consensuais e ouvidas. O público em uníssono, a melodia, o romantismo e a paz que se fizeram sentir no momento de “Ronaldo” fizeram deste “o mais bonito do concerto”.

Concerto que acabou por volta da meia-noite e meia. Chico da Tina despediu-se dos fãs, num estilo mais sereno, demonstrando sempre o carinho pelo seu público: “Amo os meus fãs” – frase muitas vezes repetida ao longo do concerto.

O adeus foi ao som da “Canção do Adeus”. Será a última faixa do novo álbum o prenúncio de uma despedida? Artisticamente, não se sabe o que virá aí, mas, por enquanto, ainda há a segunda parte da apresentação do álbum, em Lisboa, a 22 de janeiro, no Altice Arena.

Novo disco saiu em novembro

“E Agora Como É Que É” é o disco mais recente de Chico da Tina. Tem 12 faixas e foi lançado, na íntegra, a 5 de novembro. O novo álbum junta algumas das produções de Chico da Tina, lançadas ao longo destes quase dois anos de pandemia, e gira em torno de um relicário. “Ronaldo” e “Resort”, dois singles de platina, foram lançados em 2020 e são as faixas mais sonantes do álbum. Depois do sucesso de “Trapalhadas” e “Minho Trapstar”, em 2019, e “LoveTape” num duo com TripsyHell, em 2021, Chico da Tina lança o seu segundo longa duração, num espaço de dois anos. Na mais recente obra discográfica do artista, a originalidade e o atrevimento mantêm-se intactos, num estilo de música que mistura o trap norte-americano sem esquecer as origens.

“Uma vibe incrível”

Ao JPN, Tripsyhell confessou que espera para Lisboa um ambiente ainda melhor do que aquele que se fez sentir na cidade de Porto: “em Lisboa, acho que ainda vai explodir mais”. Fredo da Tina também falou com o JPN e mostrou-se otimista quanto ao próximo espetáculo: “foi espetacular (…) em Lisboa vai ser igual ou melhor”.

Mas, na Invicta, o público saiu satisfeito com o que viu e ouviu: “fenomenal, foi uma vibe incrível, uma coisa para recordar”, disse-nos Samuel Azevedo, de 15 anos.

Para outros, as restrições sanitárias, que entraram em vigor este mês, poderão ter afetado um bocado a dinâmica do espetáculo e feito com que o Super Bock Arena não tivesse esgotado: “Teve bastante gente, mas podia ter havido muito mais, se não fossem as restrições. Mas no momento em que nos encontramos, isto já foi muito bom”, afirmava Adriano Paulo, de 24.

Quando o assunto é a continuidade e consistência de Chico da Tina, enquanto criador, as opiniões dividem-se: “Pessoalmente, acho que vai desaparecer daqui a uns anos, por escolha própria”, vaticina Maria Pratas, 19 anos. “Eu acho que ele agora vai sair outra vez da caixa, e vai fazer uma cena ainda mais inovadora, que vai atrair mais pessoal, de certeza absoluta”, arriscava por sua parte Adriano Paulo.

É seguro afirmar que Chico da Tina teve uma ascensão fora do comum, no meio artístico. Lança o primeiro álbum em 2019 e, em dois anos, fica perto de encher o Super Bock Arena. Não está ao alcance de todos.

Para já, permanece no topo e o seu público espera que possa encher pavilhões, por muitos mais anos, mas só Chico lhes pode mostrar como vai ser o futuro. É caso para dizer: “E agora como é que é”?

Artigo editado por Filipa Silva