O festival literário regressa aos Jardins do Palácio de Cristal entre agosto e setembro. A poeta, tradutora, ensaísta e dramaturga Ana Luísa Amaral é a homenageada desta edição, que volta a trazer os livros à rua.
A Feira do Livro do Porto 2022 já tem data marcada. A revelação chega mais cedo do que o habitual, mas os moldes são semelhantes: entre 26 de agosto a 11 de setembro, os Jardins do Palácio de Cristal recebem mais uma edição do evento, a nona desta nova organização, que vai homenagear a poeta Ana Luísa Amaral.
A autora é celebrada nesta edição do festival literário, por ser, destaca a autarquia em comunicado, “uma das mais notáveis poetas, tradutoras e académicas portuguesas”, além de, apesar de natural de Leiria, ser uma “portuense de adoção”. Nascida em 1956, tem uma “extensa e reconhecida obra” como poeta, destacando-se também na escrita de obras infantojuvenis, além de uma “atividade intensa e comprometida com o estudo da obra de mulheres escritoras”.
A obra de Ana Luísa Amaral apresenta um “feminismo ilustrado, amoroso e visionário”, com figuras femininas e “as suas vozes e mundividências milenariamente silenciadas” em destaque na sua escrita. Antiga docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) – é ainda membro sénior do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, que dirigiu por mais de uma década -, além de poeta, tradutora, ensaísta e dramaturga, tem nas Poéticas Comparadas, Estudos Feministas e Estudos Queer as suas principais áreas de investigação, além de um doutoramento em literatura anglo-americana com especialização sobre a poesia de Emily Dickinson.
A escritora é também a responsável de projetos literários como as “Novas Cartas Portuguesas 40 Anos Depois” ou “New Portuguese Letters to the World”. A sua obra, que inclui títulos como “Escuro”, “Todavia” e “Mundo”, está traduzida para vários idiomas e é largamente premiada. O Prémio Literário Correntes d’Escritas, o Premio Letterario Poesia Giuseppe Acerbi ou o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores são algumas das distinções que já recebeu, às quais se junta o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, o maior galardão da poesia, que recebeu em Espanha em maio de 2021.
Atualmente, conduz na Antena 2, estação de rádio pública dedicada à música clássica e à cultura, o programa “O Som que os Versos Fazem ao Abrir”, com Luís Caetano, que faz a análise e leitura de poemas de referência. O programa, também disponível nas plataformas digitais da RTP, é emitido às quartas-feiras às 10h45.
“Profundamente feliz”
A distinção, que junta a poeta a um leque de autores homenageados na Feira do Livro do Porto – como Agustina Bessa-Luís, Sophia de Mello Breyner Andresen ou Mário Cláudio -, com a atribuição de uma tília nos Jardins do Palácio de Cristal, apanhou Ana Luísa Amaral “desprevenida”, diz a autora em declarações ao “Jornal de Notícias” deste domingo.
“Celebrar alguém plantando uma árvore tem um sentido vital muito forte. É um gesto de vida, de renovação, de continuidade, de esperança no futuro”, referiu ainda ao jornal a autora, que é a quarta mulher homenageada nestes nove anos de feira renovada. A distinção, apesar de inesperada, deixa a poeta “profundamente feliz”.
Feira regressa em agosto
A Feira do Livro do Porto regressa pelo nono ano consecutivo aos Jardins do Palácio de Cristal. O evento, que já teve várias vidas ao longo das últimas décadas, repete o formato com organização da Câmara Municipal do Porto (CMP) e volta a trazer os livros e as livrarias da cidade à rua.
O evento transitou para a Avenida das Tílias, nos jardins, em 2014, já com Rui Moreira como presidente da Câmara, depois de em 2013 a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) se ter desentendido com a CMP, durante o executivo de Rui Rio. Na altura, a câmara não quis contribuir com o valor habitualmente estipulado de 75 mil euros. A autoridade municipal dizia que “era inviável o apoio financeiro excecional nos mesmos moldes e valores do que fora pago nas últimas quatro edições da Feira do Livro”, decorrente de um protocolo, assinado em 2009, a acordar o valor de 300 mil euros repartidos ao longo de quatro anos.
Esta alteração da Feira do Livro tem uma forte programação cultural paralela e tem recebido centenas de milhares de visitantes todos os anos. Em 2021, contou com 78 entidades participantes – entre representantes das grandes editoras, alfarrabistas, pequenas editoras e algumas editoras independentes -, distribuídas por 124 pavilhões, numa edição que, a par da de 2020, voltou a contar com medidas de restrição e adaptações à situação pandémica. O homenageado foi Júlio Dinis, no ano em que se assinalaram os 150 anos do seu desaparecimento.
Artigo editado por Filipa Silva