O número 44 da Rua da Bainharia, em pleno Centro Histórico do Porto, vai ter uma nova vida a partir do início do próximo ano letivo. Pelo menos assim o esperam a Federação Académica do Porto (FAP), a Câmara Municipal do Porto (CMP) e a Universidade do Porto (UP), que se unem num projeto-piloto de residências estudantis com modelo de gestão partilhado, de forma a responder à escassez de camas para alunos carenciados.

Nesta rua na Sé, paralela à Mouzinho da Silveira, numa das mais tradicionais zonas da cidade, está um edifício de três pisos com múltiplas valências, há vários anos abandonado. O espaço, reabilitado no âmbito dos programas que têm vindo a recuperar edifícios desta zona em degradação, destinava-se a acolher um centro social, que acabou por não querer o espaço.

“Como tínhamos comprometimento nessa matéria, tivemos de aguardar estes anos até poder libertar o edifício”, explicou Rui Moreira esta quinta-feira (27). O autarca visitou, durante a manhã, o espaço da futura residência ao lado de Ana Gabriela Cabilhas, presidente da FAP, e de António de Sousa Pereira, reitor da UP.

Ruim Moreira visitou o espaço da futura residência na Rua da Bainharia. Foto: Tiago Serra Cunha

O espaço, que está neste momento a ser melhorado, “está praticamente pronto a ser utilizado”, tendo “apenas patologias que apenas resultam de ter estado fechado”, refere o autarca. Foi, por isso, escolha para testar este projeto-piloto de “aliança estratégica” entre as três instituições.

Para a Câmara, que tem projetos para outras residências ainda “mais atrasados”, este é mais um passo na tentativa de resolver a escassez de habitação para estudantes a preços acessíveis, além de “trazer população jovem” para esta zona envelhecida, um fator que vai ao encontro da “estratégia” delineada pelas instituições.

Estão previstos 20 quartos

Esta residência, que irá funcionar em propriedade do município, é, para a FAP, “mais uma resposta face ao problema” de falta de alojamento estudantil, que consideram “crónico”. Ana Gabriela Cabilhas referiu, como motivos para esta escassez, a fraca execução do Plano Nacional de Alojamento no Ensino Superior, que “tem ficado aquém das expectativas”. Estas iniciativas servem, por isso, “para complementar essa estratégia”. O plano nacional tem sido implementado a um ritmo mais baixo do que o previsto e, em 2020, teve uma execução de 16%.

A líder associativa considera que a CMP cedeu o espaço “em boa hora” à FAP, que fará a gestão maioritária desta residência, em parceria com a UP e o executivo. É, por isso, “a primeira vez que temos um serviço de alojamento prestado por uma estrutura estudantil”, salienta.

O alojamento da Rua da Bainharia terá como leque de beneficiados os estudantes da Academia do Porto, “independentemente do sistema de ensino ao qual estejam afetos”.  O processo de seleção para os 20 quartos previstos – o número certo de camas será posteriormente definido, dizem – “terá sempre como base critérios de carência socioeconómica“, seleção que será efetuada em parceria com as instituições de ensino superior. As instalações vão ter, ainda, espaços partilhados como cozinhas e várias casas de banho e até salas de estudo.

O modelo concreto de gestão do espaço, no entanto, “está a ser trabalhado”. A base será, refere Ana Gabriela Cabilhas, “habitação a preços acessíveis e controlados, que os estudantes possam pagar”.

Estas camas estarão disponíveis – “assim esperamos”, refere Rui Moreira – ainda em 2022, mas só a partir do início do próximo ano letivo, correspondente a 2022/2023.

Há outros projetos de alojamento em curso

Além deste projeto piloto com a Federação Académica, há mais projetos de residências estudantis em perspetiva. Estes investimentos dependem, ainda, no entanto, de fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que tem uma alínea dedicada ao alojamento para estudantes.

Estão previstos outros dois grandes projetos no futuro próximo. Uma das residências ficará no Morro da Sé – próxima da que já está a avançar -, num aglomerado de prédios; a outra no antigo quartel do Monte Pedral – emblemático edifício que também irá albergar espaços de habitação, comércio e escritórios. O restauro da primeira deverá custar cerca de 7 milhões de euros, dando origem a 150 quartos; na segunda, 6,5 milhões deverá ser o valor da recuperação, que dará origem a perto de 100 camas.

António de Sousa Pereira, reitor da Universidade do Porto, explica que a Universidade tem em vista, também, o aumento do parque público de alojamento estudantil. O reitor ressalta que a UP tem neste momento cerca de 900 camas, um número mais reduzido que o habitual devido às restrições da pandemia, que obrigaram quartos duplos a passar a ser individuais. Este número de camas “é suficiente” para os alunos bolseiros, que pagam cerca de 77 euros por mês pelo quarto.

Há, no entanto, uma “imensidão de estudantes” para os quais existe uma resposta mista. “Para os de classe média-alta ou alta, há 6000 camas construídas nos últimos anos em residências privadas. Mas permanece uma falta de resposta para os estudantes de classe média-baixa”, diz.

O plano é aumentar este número em 400 a 450 camas adicionais em residências contruídas pela UP, à volta de 300 em parceria com a CMP e “experimentamos agora este novo modelo de gestão de residências” com a Federação Académica, que “se tiver sucesso, pode ser estendido a residências de maior dimensão”, concluiu António de Sousa Pereira.

Artigo editado por Filipa Silva