Donos com Covid-19 podem infetar cães e gatos. Estudo pioneiro em Portugal contou com a participação de investigadores ligados à Universidade do Porto.

O estudo envolveu 217 animais de estimação e foi o primeiro do género em Portugal. Foto: Leila Aparecida Mizzetti / Flickr

Os animais domésticos podem ser infetados com Covid-19 e, entre estes, os gatos são, potencialmente, os mais afetados. A conclusão é de um artigo científico realizado em Portugal publicado este mês na revista Microorganisms”. Em resultado do estudo realizado, os investigadores concluíram que um número limitado de gatos apresentou sintomas diversos, como problemas respiratórios, neurológicos e digestivos. Os cães, por outro lado, parecem ser menos afetados. Ainda assim, têm maior carga viral.

Um dos principais fatores para a contaminação dos animais domésticos é o contacto humano, já que a maioria dos gatos infetados vivia com os donos infetados. Contudo, os investigadores não descartam a transmissão entre animais. Alguns dos animais infetados com Covid-19 viviam com donos que testaram negativo ao vírus, mas tinham contacto com o exterior.

No artigo participaram investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e do CIIMAR (Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental). O primeiro autor do artigo é Ricardo Barroso, que realizou a investigação no âmbito da sua dissertação de mestrado em Aplicações em Biotecnologia e Biologia Sintética pela FCUP.

Este estudo em grande escala foca-se na infeção por Covid-19 de cães e gatos em condições naturais. É o primeiro do género em Portugal, e envolveu 217 animais de estimação (148 cães e 68 gatos) analisados em cinco distritos. Para além da recolha de sangue destes animais, foram também realizados inquéritos aos donos que deram a conhecer o histórico clínico dos animais e a respetiva exposição ao vírus.

Donos podem infetar animais. E o contrário?

Até agora, não existem evidências científicas de que os animais de estimação possam também infetar os seus donos.

A Covid-19 é considerada pelos especialistas como sendo uma zoonose reversa. Isto significa que, depois de um primeiro evento em que a transmissão ocorre entre um animal (ainda não identificado) e um humano, numa fase posterior, a transmissão dá-se no sentido inverso: humanos-animais (neste caso, cães e gatos). Por serem raros os casos em que isto acontece, é pouco provável que possa voltar a ocorrer infeção de humanos através do contacto com os seus animais de estimação.

Contudo, existem alguns riscos associados à zoonose reversa. Alguns investigadores sugerem a monitorização destas infeções, para evitar dois cenários: o surgimento de uma variante que afete os animais de estimação ou o surgimento de uma variante nas populações de animais que depois possa ser reintroduzida na população humana.

Artigo editado por Filipa Silva