Pedro Cabeleira apresenta-se na corrida ao Urso de Ouro, Carlos Lobo e Inês T. Alves integram a competição Generation e Jorge Jácome integra a secção Fórum, com a obra “Super Natural”.

Frame do teaser da curta “By Flávio” de Pedro Cabeleira

O contingente luso cresceu no Festival Internacional de Cinema de Berlim, que arranca esta quinta-feira (10) na capital da Alemanha. Este ano, volta a haver um filme português na corrida pelo Urso de Ouro, mas em contexto competitivo há mais dois. Em exibição, em categorias não competitivas, há sete obras com marca portuguesa, mais três do que há um ano.

Comecemos pela competição. Após a estreia no festival Locarno com a longa-metragem “Verão Danado” (2017), Pedro Cabeleira apresenta o seu segundo filme, “By Flávio”, no festival alemão. A nova curta-metragem estreia-se mundialmente na corrida ao Urso de Ouro da Berlinale Shorts, competição que já premiou os portugueses João Salaviza (2012), Leonor Teles (2016) e a Diogo Costa Amarante (2017).

A filmografia de Pedro Cabeleira caracteriza-se por abordar temáticas associadas à geração jovem da qual também faz parte. Sendo uma coprodução luso-francesa com a Primeira Idade, “By Flávio” conta a história de uma jovem mãe, do interior do país, aspirante a influencer digital. A narrativa integra elementos de hip-hop tuga.

Da competição Generation 14Plus – concurso destinado às obras que exploram o mundo juvenil –, faz parte a primeira curta-metragem de ficção de Carlos Lobo, “Aos Dezasseis”. Nascendo da experiência pessoal do cineasta português, a produção faz um retrato quase utópico e poético da juventude, período em que se traça a identidade pessoal, aliada às frustrações e esperanças próprias da adolescência.

Frame do teaser da curta “Aos Dezasseis” de Carlos Lobo

Também o filme “Águas do Pastaza” de Inês T. Alves foi selecionado para integrar o concurso da secção Generation. A primeira longa-metragem da realizadora nasceu de uma experiência pessoal: durante dois meses, a cineasta viveu numa comunidade isolada na Amazónia, acabando por desenvolver uma ligação próxima com as crianças. No documentário seguimos, ao pormenor, o dia a dia das crianças da comunidade, a sua conexão com a natureza e adaptação delas às novas tecnologias.

Paralelamente, o cartaz da secção Fórum, não competitiva, reúne um conjunto de obras produzidas e coproduzidas por mãos portuguesas. Jorge Jácome já se apresentou no Festival de Berlim, em 2019, com a curta “Past Perfect”. Este ano volta a marcar presença com o “Super Natural”, um filme que parte da comunhão das paisagens da ilha da Madeira e da companhia Dançando com a Diferença, que promove a inclusão artística ao integrar pessoas com e sem deficiência.

Tal como Jorge Jácome, Rita Azevedo Gomes carimbou o seu primeiro trabalho, “A Portuguesa”, no Fórum de Berlinale de 2019. Agora, exibe “O Trio em Mi Bemol”, uma coprodução lusa-espanhola que nasce da adaptação da única peça teatral escrita pelo cineasta francês Éric Rohmer.

Frame do teaser do filme “O Trio em Mi Benol”

Por sua vez, “Mato Seco em Chamas” é o culminar de uma realização dirigida a meias pela portuguesa Joana Pimenta e pelo brasileiro Adirley Queirós. A ficção luso-brasileira transfigura acontecimentos reais de tráfico de droga, que se sucederam no subúrbio de Brasília, terra natal de Queirós, Ceilândia.

Assinado por Raul Domingues, o documentário “Terra que Marca” também integra a participação portuguesa. A segunda longa-metragem do cineasta apresenta-se como um registo daqueles que trabalham a terra, os seus testemunhos, pontos de vista e sentimentos perante um solo que está em constante mudança.

O programa Geração 2022 contempla o filme “Nada para ver aqui”, realizado pelo belga Nicolas Bouchez e coproduzido com Portugal, Bélgica e Hungria. É de destacar também a participação da artista portuguesa Grada Kilomba no projeto “The Maji-Maji Readings”, do cubano Ricardo Bacallao. Do Fórum Expandido faz parte o projeto do realizador colombiano Andrés Jurado, “Yarokamena”, que conta com a coprodução da portuguesa Susana de Sousa Dias.

Para além da programação dividida em categorias de cariz competitivo e não competitivo, a cidade de Berlim oferece iniciativas paralelas ao evento, sempre relacionadas com a indústria cinematográfica. A secção Berlinale Series Market Selects foi lançada em 2021 e conta com representação nacional. “Vanda”, criada por Patrícia Müller e realizada por Simão Cayatte, foi a selecionada para integrar a lista de 14 séries internacionais.

No Shooting Stars – evento anual criado pela agência de cinema European Film Promotion – são distinguidas dez estrelas europeias em ascensão, com competências para enveredar numa carreira internacional. O jovem ator português, João Nunes Monteiro, integra o “elenco” da iniciativa, que visa contribuir para a promoção da carreira destes atores perante a imprensa internacional.

A 72.ª edição do Berlinale decorre, em formato presencial, de 10 a 20 de fevereiro, mas com limitações. Devido à situação pandémica, excecionalmente, o evento, realizar-se-á, para a imprensa, apenas de 10 a 16 de fevereiro (com os prémios a serem anunciados dia 16) e, para o público pagante, de 17 a 20 de fevereiro. Para além do encurtamento dos dias de exibição, o novo formato também prevê uma redução de 50% da capacidade total de assentos nos cinemas. Não será possível a realização de qualquer tipo de festas e receções.

Artigo editado por Filipa Silva