O livro assinala o Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência. O JPN falou com Beatriz Varela, aluna da UP que é um dos rostos do livro, que quer inspirar raparigas mais novas a seguir esta área e mostrar-lhes que as mulheres podem enveredar pela ciência, uma área “onde há muito a fazer”.

Em Portugal, mais de metade de engenheiras e cientistas são mulheres. Foto: Gustavo Fring/ Pexels

O Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência celebra-se, anualmente, a 11 de fevereiro. Para assinalar a data, a Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica – Ciência Viva lança esta sexta-feira a primeira edição do livro “Raparigas na Ciência”.

O livro dá a conhecer 115 estudantes, de norte a sul do país, do primeiro ciclo ao ensino universitário, que têm demonstrado interesse pelas áreas da ciência e da tecnologia e participado em projetos científicos durante o percurso escolar.

“Portugal está a tornar-se um caso sério com o número de estudantes que escolhem ciências, engenharias e matemática”, diz a presidente da Ciência Viva, Rosalia Vargas, em comunicado. Apesar de preconceitos e estereótipos afastarem as mulheres destas áreas, a verdade é que Portugal apresenta a 4.ª maior taxa de mulheres engenheiras e cientistas da UE.

Um livro que incita ao debate

Imagem alusiva à iniciativa. Foto: Ciência Viva

Segundo o estudo mais recente da Eurostat, Gabinete de Estatísticas da União Europeia, em Portugal, mais de metade de engenheiros e cientistas são mulheres (51%), o que coloca o país dez pontos acima da média da UE(41%).

Já o PISA (Programme for International Students Assessment) é um estudo trienal que avalia as literacias de alunos de 15 anos de idade em leitura, ciências e matemática.

Na edição de 2018 (a mais recente), participaram ao todo 79 países e mais de 600 mil alunos. Em Portugal, participaram 276 escolas, 5.932 alunos e 5.452 professores, de todas as regiões. Segundo os dados do relatório, Portugal obteve 492 pontos na avaliação da literacia científica, três pontos acima da média da OCDE (489 pontos). Na literacia matemática, obteve 492 pontos e, também neste domínio, ficou três pontos acima da média da OCDE (489 pontos).

Neste sentido, e cruzando-se dados como estes, “é preciso dar-lhes oportunidades de escolherem desde muito cedo sem preconceitos e sem a senha do clube ´Menina não entra’ ”, salienta Rosalia Vargas, que considera que ainda há um trabalho “longo, persistente e continuado” a fazer, onde não pode haver “paragens, desistências ou faltas de apoio”.

“Raparigas na Ciência” pretende incitar o debate sobre a participação das mulheres e raparigas na ciência, engenharias e tecnologias e inspirar as novas gerações para percursos académicos e profissionais nestas áreas.

A paixão de uma jovem estudante da UP pela ciência

Beatriz Varela, aluna da FEUP. Foto: Reprodução/Ciência Viva

Beatriz Varela, aluna da licenciatura em Bioengenharia da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), viu o amor pela ciência crescer com ela. Hoje, é um dos 155 rostos presentes no livro.

“Soube desde sempre que seguiria algo ligado à ciência. Podia não saber ao certo que curso ia escolher, mas sabia que seria nessa área”, diz Beatriz Varela ao JPN. “Apaixonada desde sempre por filmes científicos”, dava por si a sonhar com um futuro no mundo da ciência – que já corria nas veias da sua família, com a mãe e o irmão a trabalharem na área.

As duvidas deram lugar à certeza quando se começou a questionar sobre a vida, o corpo e  “principalmente o cérebro”. Ao perceber que “quase nada” sabe sobre o modo como ele funciona, decidiu que o seu futuro era na Bioengenharia, para partir à descoberta do que ainda está por responder.

Beatriz não tem dúvidas que o mundo da ciência é onde pertence, mas tem pena de não poder partilhar o seu gosto com mais mulheres: “poucas raparigas querem seguir o ramo da ciência”, desabafa.

A estudante considera vários fatores para este desequilíbrio. “Na minha opinião, é por não conhecerem as ofertas, o que poderão vir a fazer e desenvolver nestas áreas e também porque a sociedade ainda está um pouco formatada para o pensamento de que a ciência não é para as mulheres”, refere.

Ainda assim, Beatriz sente que tem acesso às mesmas oportunidades que um homem na área. “Aqui, o que conta é o conhecimento e aquilo que a pessoa tem a oferecer, as suas capacidades”. Mas salienta que, no entanto, “existem poucas mulheres a serem chefes de equipa de investigação”.

A convicção de Beatriz Varela é reforçada por um estudo da Cell Stem Cell, uma revista científica que analisou a presença feminina nas carreiras de ciência, tecnologia, engenharia e matemática em mais de 500 instituições da Europa e América do Norte.

Segundo os dados mais recentes, apesar de mais de metade das cientistas serem mulheres, apenas uma pequena porção ocupa cargos de liderança. Os valores variaram de acordo com cada instituição mas, de uma forma geral, de acordo com a pesquisa, num terço dos institutos analisados, as mulheres compõem menos de 10% do corpo docente.

Beatriz quer fazer parte dessa mudança e ajudar outras mulheres a conquistar o seu lugar na ciência. A sua contribuição no livro “Raparigas na Ciência” é uma forma de inspirar raparigas e mulheres “a seguir esta área e a mostrar-lhes que podem fazer ciência”, algo que considera “super importante” e onde “ainda há muita coisa a fazer”.

A primeira edição do livro “Raparigas na Ciência” é lançada a 11 de fevereiro, no Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência. O lançamento acontece às 11h00, no Auditório José Mariano Gago, no Pavilhão do Conhecimento (Lisboa). O evento terá transmissão via streaming na página de YouTube do espaço.

O livro marca a data, assinalada pela primeira vez em 2015, pela Assembleia Geral das Nações Unidas. O objetivo é alertar para a desigualdade de género, que penaliza oportunidades e carreiras das mulheres nas áreas da ciência, tecnologia e inovação.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha