Luís Sequeira iniciou a sua carreira no mundo da moda, mas rapidamente envergou por um caminho diferente. A paixão pelo desenho fundiu-se ao gosto pelo cinema e pela magia de vestir uma realidade paralela. Tornou-se um dos grandes nomes do universo dos figurinos. Agora, está nomeado pela segunda vez para os Óscares, na categoria de Melhor Guarda-Roupa.

Competirá na categoria onde estão igualmente nomeados os filmes “Cruella” (Jenny Beavan), “Cyrano” (Massimo Cantini Parrini e Jacqueline Durran) e West Side Story” (Paul Tazewell). “Sinto-me honrado por ser digno de uma nomeação no meio de nomes tão extraordinários como os dos meus colegas” confessa, em conversa com o JPN através de videochamada.

“Nightmare Alley – O Beco das Almas Perdidas” estreou-se nos cinemas portugueses no final de janeiro – e acumula 13 nomeações aos Óscares na edição deste ano. Representa uma nova colaboração de Luís Sequeira e Guillermo del Toro, com quem já trabalhou na série “The Strain” (2014-2016) e no filme “A Forma da Água”, que lhe rendeu também uma nomeação nesta categoria, em 2018. Foi um projeto fantástico, um filme muito bonito que me deu imensa alegria fazer”, admite o figurinista. 

Apesar de considerar que o filme “A Forma da Água” lhe proporcionou experiência profissional, explica que o novo filme para o qual está nomeado é a oportunidade pela qual tem vindo a trabalhar. Toda a minha carreira me preparou para este projeto. ‘Nightmare Alley’ foi enorme. Tivemos 240 mudanças de roupa e 90% foi feita por esta equipa. Foi bastante intenso, não só em termos de desenho, mas de produção e execução. Foi um trabalho incrível”, refere ao JPN.

O nomeado explica que o processo de criação do guarda-roupa e o universo dos figurinos têm um método trabalhoso. “Começa com muita pesquisa e de forma intensa em reuniões com o realizador [neste caso, Guillermo del Toro]. O facto do filme ter dois mundos torna necessário estudar as cores, as texturas, a luz das personagens e dos cenários e depois o ambiente todo envolvente através de livros de fotografias, de moda, de pessoas reais. Foi assim que comecei a montar os moodboards dos figurinos para apresentar”.

Com mais de 30 anos de carreira, o designer, de 53, explica o segredo para o seu sucesso: olhar o que nos rodeia, até porque “tudo na nossa vida é inspiração para a nossa arte”.

Nomeação pela Academia “é um sonho, um orgulho”

“É um sonho, um orgulho e uma honra ver o trabalho que realizo com tanto amor e dedicação ser reconhecido desta forma”. Assim se sente Luís Sequeira com esta segunda nomeação aos prémios da Academia norte-americana. Para além dos Óscares, está também nomeado para os prémios BAFTA, no Reino Unido, e para os prémios da Associação de Figurinistas dos Estados Unidos.

Em adição às produções com del Toro, Luís Sequeira assinou ainda o guarda-roupa dos filmes “The Christmas Chronicles”, “It- Capítulo 2”, “Monster Problems” e colaborou na série “Locke and Key”. Foi ainda assistente de guarda-roupa, no início da carreira, em filmes como o conhecido “Giras e Terríveis” (2004), de Mark Waters.

Apesar desta ser já a segunda nomeação para Melhor Guarda-Roupa, a honra é a mesma. Luís Sequeira confessa o orgulho em estar entre outros talentos da área e enaltece o trabalhos dos colegas, bem como o ano “fantástico” da indústria. “A melhor sensação é ser nomeado. Tem sido um ano fantástico de desenho, há filmes maravilhosos com desenhadores muito talentosos e eu sinto-me honrado por ser digno de uma nomeação no meio de nomes tão extraordinários como os dos meus adversários. Sinto que é mais genuíno se no fim do dia discursar algo improvisado no momento”.

As raízes lusitanas inspiraram o trabalho

É filho de portugueses, nasceu no Canadá mas o sangue lusitano corre-lhe nas veias. Luís recorda, ao JPN, momentos que passou em Portugal. 

O figurinista reconhece a influência das raízes portuguesas na sua arte. Conta que todos os anos, quando vinha a Portugal, encontrava tecidos e roupas de outros tempos que lhe serviam de fonte de inspiração. “Ir a Portugal e ver tecidos antigos, que estão cheios de bolor, ajuda a mente a desenvolver e elaborar as ideias dos artistas que estão em papel para o real”, exemplifica.

Um oceano no meio nunca fez perder o amor que sente pela praia ocidental. Se não fosse a pandemia, não teria estado tanto tempo afastado do país. “Até começar a pandemia, acabava um trabalho e na semana seguinte estava em Portugal. Agora, tem sido diferente”.

No entanto, vem passar férias a Portugal desde que se lembra. As praias, o sol, os amigos, as fontes de inspiração e o amor às raízes são mais do que motivos suficientes para o fazer voltar sempre que lhe é possível. “Tenho tido muito trabalho, o que é muito bom, mas estou a contar voltar em abril. Estou contente por ter o sol na minha cara, o ar da praia, ver os meus amigos e sentir a alma de Portugal”, refere.

O figurinista deve regressar ao país depois das gravações de “Armário de Curiosidades”, da Netflix, em que está a trabalhar atualmente. Antes disso, estará pela cerimónia dos Óscares, que este ano serão entregues num evento presencial a 27 de março, em Hollywood.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha

Atualizado às 10h30 de 14 de fevereiro com correção do título do filme em que Luís Sequeira está atualmente a trabalhar