FC Porto e Sporting protagonizaram, esta sexta-feira (11) à noite, um episódio que envergonha o futebol português. No final do clássico, jogadores, equipas técnicas, dirigentes e elementos do staff do jogo envolveram-se em confrontos físicos, numa verdadeira batalha campal, a fazer lembrar outros tempos.

Já depois do apito final, houve quatro expulsões (Marchesín e Pepe, do lado do FC Porto; João Palhinha e Bruno Tabata, pelo Sporting) e inúmeras agressões, fraco corolário de um jogo muito bem disputado até ao último minuto.

O que se passou no Estádio do Dragão vai e deve ser motivo de muita conversa e reflexão, durante os próximos tempos, mas falemos de futebol: FC Porto e Sporting empataram a duas bolas e a luta pelo título está em aberto.

Ah, o jogo!

Um FC Porto dominante e um Sporting mais eficaz. É o resumo do clássico, entre dragões e leões, que terminou, novamente, empatado. É o quarto jogo seguido, entre Conceição e Amorim, para o campeonato, que termina empatado.

FC Porto e Sporting empataram 2-2, na 22.ª jornada do campeonato, e deixam tudo em aberto, na luta pelo título. Seis pontos continuam a separar as duas equipas: os azuis e brancos mantêm-se em primeiro, com 60 pontos; os de Alvalade estão na perseguição ao líder, com 54.

O FC Porto partiu para este clássico na máxima força, apenas com Manafá lesionado, e foi João Mário quem tomou conta do seu lugar, no lado direito da defesa portista.

Do lado do Sporting, Pote, também por lesão, e Porro, que estava castigado, foram as principais ausências – Nuno Santos e Ricardo Esgaio renderam os habituais titulares. Quem, por norma, também costuma ser titular na equipa leonina, e ficou no banco por opção de Rúben Amorim, foi João Palhinha, substituído no 11 pelo uruguaio Manuel Ugarte.

O Sporting demonstrou mais eficácia e esteve a ganhar por 0-2. Os golos surgiram de dois cruzamentos de Matheus Reis, pela esquerda. Na primeira parte, os leões conseguiram aproveitar os pontos fortes do seu jogo e ser eficazes na finalização.

Os golos leoninos tiveram a assinatura de Paulinho (8’) e Nuno Santos (34’), que também tinha marcado no jogo da primeira volta.

O FC Porto, sempre bem instalado no meio-campo adversário, reagiu bem à desvantagem e reduziu rapidamente, por Fábio Vieira (38’), depois do segundo golo verde e branco.

Na segunda parte, com a expulsão polémica de Coates aos 48’, o jogo passou a ser de sentido único. Como era de esperar, o FC Porto carregou no acelerador, enquanto o Sporting se fechou como pôde.

O segundo golo dos dragões acabou por sair da cabeça de Taremi, aos 78’, depois dum excelente cruzamento do homem do jogo – Fábio Vieira.

48.350 espectadores puderam assistir a um clássico bastante intenso e acidentado, de início ao fim.

O árbitro João Pinheiro nunca conseguiu ter mão nem no jogo, nem nos jogadores. A prestação da equipa de arbitragem mereceu duras críticas, no final do jogo.

Jogo de nervos

O FC Porto entrou no clássico a todo o gás e criou bastante perigo, nos primeiros minutos de jogo, mas foi o Sporting quem estreou o marcador.

Paulinho, com um grande cabeceamento, meteu a bola no fundo das redes dos azuis e brancas, aos oito minutos. O lance do golo começou a ser construído no lado direito, passou pelo lado esquerdo e acabou com um cabeceamento certeiro de Paulinho, no coração da área. Com um excelente passe, de um flanco ao outro, Ricardo Esgaio meteu a bola nos pés de Matheus Reis. O lateral esquerdo cruzou de forma irrepreensível e Paulinho fuzilou as redes azuis e brancas.

O Sporting, tendencialmente forte nos cruzamentos, a chegar, por aí, ao primeiro golo da partida.

A equipa de Rúben Amorim ia revelando bons momentos na pressão, principalmente, com Ugarte e Matheus Nunes, a sufocarem o adversário e a não permitirem que os médios do FC Porto domassem, por completo, os leões.

Ainda assim, os dragões mantinham-se mais fortes, com mais bola, e, como é natural, conseguiam criar mais perigo junto à baliza adversária.

Com 20 minutos jogados, e apesar da vantagem, o Sporting não estava a conseguir impor o seu jogo. Os leões só conseguiam criar mais perigo em situações de desatenção da defesa do FC Porto, que estava a jogar muito subida.

De facto, o contra-ataque, usando sobretudo os corredores laterais e beneficiando das debilidades azuis e brancas nesse setor, era a única forma de Rúben Amorim atacar a baliza do FC Porto.

Aos 34’, num excelente trabalho coletivo da equipa leonina e em mais uma desatenção da defesa portista, o Sporting chegava ao 0-2, no Estádio do Dragão. A jogada foi construída toda ao primeiro/segundo toque, mais uma vez, pelo lado de Matheus Reis – um dos destaques do Sporting, nesta partida –, e concluída por Nuno Santos, que não tremeu, frente a Diogo Costa, e fez o segundo golo dos leões.

Notava-se uma clara dificuldade do FC Porto em travar as incursões, principalmente, daquele lado esquerdo do Sporting, com Matheus Reis e Nuno Santos a criarem muito perigo.

Apesar de pouco precavido, relativamente ao que já era esperado do Sporting pela sua maneira de jogar, o FC Porto continuava bem instalado no meio-campo ofensivo e a praticar um bom futebol.

De Taremi para Fábio Vieira e de Fábio Vieira para Taremi

O primeiro golo dos dragões chegou aos 38’, através de um remate de primeira de Fábio Vieira, de fora da área. A execução do médio do FC Porto foi exímia, após Taremi lhe ter devolvido um passe, numa excelente jogada coletiva da equipa de Sérgio Conceição.

O FC Porto reagiu bem ao segundo golo do Sporting, continuou a jogar um futebol muito positivo e, depois de uma jogada bonita, Fábio Vieira marcou o segundo golo em clássicos, esta época.

O jogo chegou quente ao intervalo. Foi uma primeira parte com três bons golos, duas equipas muito agressivas e muitos cartões amarelos.

Pela negativa, destaca-se a inocência dos dragões no lance dos golos leoninos. Contudo, os azuis e brancos impunham-se no ataque, com mais do dobro de oportunidades e remates, em relação à equipa do Sporting. O 2-1 ao intervalo revelava que o Sporting era mais eficaz.

A segunda parte abriu logo com a expulsão de Coates. O internacional uruguaio tinha visto o primeiro amarelo no primeiro tempo, após ter sido pisado por Taremi e João Pinheiro ter interpretado o lance ao contrário. Aos 48’, Coates trava um lance de perigo para o FC Porto e acaba por ver o segundo amarelo, que ditou a expulsão.

Com menos um jogador, e na tentativa de equilibrar a equipa e defender-se do adversário, Rúben Amorim foi obrigado a repensar a tática, mais cedo do que o esperado. Mandou a jogo Palhinha e o sacrificado, após a expulsão, foi Pablo Sarabia.

Neste novo esquema, e até ao final da partida, o Sporting passou a apresentar-se em 5-3-1: Nuno Santos desceu para lateral esquerdo, Matheus Reis – jogador que estava a criar muito perigo na ala – encaixou no centro da defesa; Palhinha, Ugarte e Matheus constituíam um meio-campo, a partir daquele momento, ainda mais musculado; e Paulinho ficou sozinho na frente.

Do lado do FC Porto, Sérgio Conceição também mexeu. Ao tirar Vitinha para dar lugar a Galeno, os dragões ficaram com outras soluções ofensivas.

Reduzido a dez jogadores, como era de esperar, o Sporting ainda se fechou mais, e por isso, Conceição foi forçado a mudar a estratégia.

As entradas dos extremos Francisco Conceição e Pepê e as saídas de Uribe e João Mário declararam a intenção de Sérgio Conceição de tentar chegar à área pelos flancos, não perdendo, ao mesmo tempo, qualidade e força no meio-campo – a patir daí, com Fábio Vieira e Otávio.

Sérgio Conceição só tinha de arriscar e foi o que fez.

O golo chegou, com naturalidade, aos 78’, depois de uma bela jogada de Fábio Vieira – que já contabiliza dois golos e 11 assistências esta época – pela esquerda, que serviu Taremi, na área, para fazer, de cabeça, o tento do empate. Estava feito o resultado com que o jogo havia de terminar: 2-2.

O FC Porto continuou a causar muito perigo, até ao final do jogo, tentando, principalmente, entrar pelas alas. O Sporting estava a provar do próprio veneno, mas, ainda assim, conseguiu defender bem a baliza até ao final do encontro.

“Um jogo competitivo e difícil para a arbitragem”

No final do jogo, após as cenas lamentáveis entre as duas equipas, Rúben Amorim não compareceu na conferência de imprensa. Quem o fez no seu lugar foi Frederico Varandas, que, contudo, não respondeu às questões dos jornalistas.

O presidente do Sporting queixou-se do lance da expulsão, deixando duras críticas ao árbitro da partida: “João Pinheiro não está, minimamente, preparado para isto”.

Sérgio Conceição apenas respondeu a uma questão, na conferência de imprensa, tendo feito uma análise muito breve, a um jogo que considerou “competitivo e difícil para a equipa de arbitragem”.

O treinador dos azuis e brancos lamenta a perda de dois pontos e crê que a sua equipa merecia a vitória, frente a um Sporting mais eficaz: “Mesmo quando estávamos a perder 0-2, tivemos situações para fazer golo. O Sporting conseguiu ser eficaz, em termos ofensivos”.

Seguem-se, agora, compromissos europeus, para FC Porto e Sporting, uma oportunidade para limpar a imagem do futebol português, que, cá dentro, teima em continuar a sujar-se.

O Sporting recebe terça-feira (15), em Alvalade, o Manchester City, em jogo a contar para a Liga dos Campeões.

O FC Porto volta a jogar no Dragão, quinta-feira (17), frente aos italianos da Lázio, na tentativa de alcançar os oitavos de final da Liga Europa.

Artigo editado por Filipa Silva