O México é o país da região que recebeu a maior quantidade de lixo no último ano. Os especialistas mostram-se preocupados com a situação, afirmando que os países da América Latina têm dificuldades na gestão dos próprios resíduos.

A América Latina recebeu, até outubro de 2021, 89.824.167 quilos de lixo. Foto: Emmet/Pexels

A América Latina tem sido, nos últimos anos, o destino de toneladas de lixo produzido nos Estados Unidos da América (EUA). Os dados mais recentes da organização ambientalista Last Beach Cleanup revelam que os resíduos plásticos importados têm aumentado significativamente desde 2018.

O custo e o trabalho inerentes à gestão de lixo, o reduzido número de centros de processamento e o respeito pelas leis ambientais impostas são algumas das razões que levam as empresas americanas a enviar os resíduos produzidos para outros países. 

“Há também o facto de que produzir plástico hoje é muito mais barato do que reciclá-lo. Então, não é um negócio que traga benefícios para as empresas americanas, é mais barato mandar para outro lugar”, afirmou Jan Dell, engenheira ambiental e fundadora do Last Beach Cleanup, à BBC News Mundo.

De acordo com o estudo, a América Latina recebeu, até outubro de 2021, 89.824.167 quilos de lixo e alguns países da região importaram o dobro da quantidade recebida no ano anterior.

A Malásia recebeu a maior quantidade de plástico proveniente dos EUA (2,67 quilos por população, por ano), sendo que o México surge em quinto lugar na lista de recetores de resíduos e em primeiro no conjunto dos países da América Latina. A Cidade do México importou, entre janeiro e outubro do ano passado, cerca de 60.503.460 quilos. 

Os especialistas alertam para o facto destes países não apresentarem capacidade para tratar do lixo que produzem, tendo em conta o número reduzido de centros de processamento de resíduos. El Salvador, por exemplo, importou 1.932.206 quilos só em novembro do ano passado e as Honduras receberam quase três vezes mais do que em 2020.

Segundo a engenheira ambiental, “esses países, na maioria dos casos, já têm problemas suficientes para lidar com seu próprio lixo e processá-lo para ter que lidar também com lixo plástico dos EUA”.

O destino do lixo, o modo como é tratado, assim como as condições de segurança e salariais precárias dos trabalhadores que operam nesses centros, têm preocupado também os especialistas. No entanto, os empregadores afirmam que é um negócio que gera muito emprego, contribui para a economia e a reciclagem.

María Fernanda Solís, especialista em questões ambientais da Universidade Andina Simón Bolívar, revela que “o que os estudos mostram é que, na realidade, mais de 50% do lixo plástico que chegam até nós não pode ser processado, porque está contaminado. Então, acaba sendo enterrado, abandonado em córregos, rios ou aterros”.

Outra questão que se coloca está relacionada com o facto de os países receberem os resíduos produzidos pelas empresas americanas, desrespeitando a Convenção de Basileia, que impõe um conjunto de leis que regulam a importação de lixo. 

No entanto, os países continuam a fazê-lo, visto que, segundo Solís, o lixo importado chega à alfândega com o rótulo de “matéria-prima”, sendo que “na maioria dos países, a alfândega mal verifica esses carregamentos de lixo, então é muito difícil regular o que entra”.

De notar que a situação não se verifica apenas no México, Brasil, Honduras e El Salvador. Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Venezuela também estão na rota de países que importam resíduos.

A plataforma ambiental “Gaia” tem alertado os países para este cenário e para a aplicação de medidas que visem a sua resolução, tendo em conta que a importação tem aumentado, desde que a China  parou de receber resíduos plásticos.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha