As conclusões são do Estudo Nacional da Violência no Namoro em Contexto Universitário, da UNi+. Apesar de mais mulheres terem respondido ao estudo, a proporção dos que denunciam ter sido vítimas de pelo menos um ato de violência - psicológica, física ou sexual, por exemplo - é similar face aos homens.
53% dos estudantes do ensino superior que participaram no Estudo Nacional da Violência no Namoro em Contexto Universitário, relativo a 2020 e 2021, afirmam já ter sido sujeitos a pelo menos um ato de violência no namoro. As conclusões do estudo foram reveladas esta segunda-feira, 14 de fevereiro, em que se celebra o Dia dos Namorados.
O inquérito é apresentado pelo Programa de Prevenção da Violência no Namoro em Contexto Universitário – UNi+, promovido pela Associação Plano i, associação não governamental sediada no Porto e cuja ação visa o combate contra a desigualdade, violência e exclusão. O UNi+, com financiamento do Programa Operacional Inclusão Social e Emprego (PO ISE), destina-se a prevenir a violência no namoro em contexto universitário.
Os dados, apresentados na manhã desta segunda-feira numa sessão online, indicam que, dos jovens que participaram, 53,1% dizem já ter sido sujeitos a pelo menos um ato de violência no namoro, dos quais 53,2% são mulheres e 53,6% são homens. Estes atos foram avaliados tendo em conta definições de violência psicológica, física, social, sexual, económica e de perseguição.
A violência psicológica é a mais denunciada pelos participantes: 28,7% diz já ter sido envergonhado ou humilhado pelo parceiro ou parceira; 24,5% refere já ter sido alvo de insultos ou acusações sem fundamento; 18,4% relata ameaças verbais ou comportamentos que induzam medo. Menos participantes relatam violência física, mas tem também números expressivos: quase um em cada dez inquiridos (9,2%) afirma já ter sido magoado fisicamente e 4,7% assinala ameaças de morte ou ferimentos graves.
Na questão social, 21,2% afirma já ter sido alvo de controlo pelo parceiro ou parceira, nomeadamente pelas pessoas com quem a vítima se relaciona ou os espaços que frequenta. 14,5% foram impedidos de contactar com amigos ou familiares e 13% dizem ter sido difamados pelo companheiro nas instituições de ensino ou outros locais. Outros 12,3% dizem, ainda, ter sido alvos de violência de perseguição, com o namorado ou namorada a aparecer em locais públicos frequentados pela vítima, com o intuito de controlar ou vigiar.
A violência sexual é também largamente apontada pelos participantes, com 13,3% a referir já ter sido obrigado a participar em atividades sexuais não desejadas; 10,9% a afirmar ter sido forçado a ter relações sexuais pelo companheiro ou companheira; e 3,5% teve imagens íntimas divulgadas sem consentimento. Estes números aumentaram, globalmente, face ao estudo anterior do programa (8,7% referiam ter sido forçados a ter relações sexuais em 2017-2021).
32,4% dos participantes do estudo apontam, ainda, que já praticaram pelo menos um ato de violência no namoro – 32,2% das mulheres e 34,6% dos homens. O estudo refere que “não é possível afirmar que a proporção da violência no namoro praticada por homens seja significativamente superior em comparação com a praticada por mulheres”, mas ressalta que “a proporção da violência sofrida é superior nas mulheres comparativamente com os homens”.
Associação quer “tolerância zero à violência”
Ariana Pinto Correia, uma das coordenadoras do UNi+ e docente no ISMAI, referiu na apresentação do estudo que o principal objetivo é “contribuir para a desconstrução de ‘formas de amor’ como o ciúme, a normalização do controlo e outras atitudes que estão na base de comportamentos mais violentos e que continuam a ser normalizados e desvalorizados, por se tratar de um público mais jovem”.
A associação pretende, com a obtenção destes resultados, promover “uma cultura de tolerância zero à violência no amor no ensino superior”. Para isto, foi feita a caracterização dos estudantes sobre relações sociais de género, analisando-se a “proporção da violência praticada e sofrida nos namoros, com foco nos estudantes” e descrever “quais os comportamentos que agregam estas relações violentas”.
O estudo da UNI+, com dados recolhidos entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021 (podendo os casos relatados não ter ocorrido neste período) teve a participação de 1.322 pessoas, a maioria do sexo feminino (87,7%), com a média de idades situada nos 22 anos. Para se obter os resultados, foi elaborada uma ficha sociodemográfica, um inventário sobre relações juvenis violentas (sofrida e praticada) e um inventário sobre crenças nas relações sociais de género, que toca em pontos como perceções sobre a família, papéis de género ou violência.
Todos os resultados deste estudo foram analisados tendo em consideração a disparidade nas amostras de homens e mulheres. O número de mulheres a responder é oito vezes superior aos homens, tendo as conclusões sido retiradas com base nessas percentagens – 88% mulheres, 11,6% homens e 0,4% pessoas não-binárias. 83% dos jovens que responderam são heterossexuais, 11,6% bissexuais e cerca de 4% são homossexuais.
A associação lançou esta segunda-feira um “Kit da Violência no Namoro”, com vários recursos para ajudar a prevenir e combater estes atos. O programa UNI+ tem ainda ativo um Observatório da Violência no Namoro, plataforma online de denúncia anónima de casos de violência no namoro e que já recebeu 377 denúncias desde que foi criado, em abril de 2017.