O diretor desportivo do Ajax fi obrigado a deixar o cargo que ocupava desde a época 2012/2013. Federação holandesa estimula vítimas a denunciarem casos de assédio ou abuso sexual no desporto.

O ex-internacional holandês Marc Overmars foi demitido, a 6 de fevereiro, do cargo de diretor desportivo do Ajax, após acusações de assédio sexual por parte de colegas de trabalho.

As acusações têm por base mensagens inapropriadas que, o também ex-jogador do clube, enviava a mulheres com quem trabalhava. “Enviar mensagens para lá dos limites a várias colegas mulheres durante um longo período de tempo está na base desta decisão”, informou o clube.

A situação de Overmars piorou, quando o jornal holandês “Het Parool” expôs que o jogador enviava, juntamente com as mensagens, fotografias dos seus genitais.

Após a publicação do jornal, a Federação de Futebol dos Países Baixos pediu publicamente para que casos como estes sejam denunciados: “Por favor denunciem. Não importa o quão difícil seja. Pode fazer-se de forma anónima através do clube, da federação ou no Centro de Segurança no Desporto”, acrescentando ainda que “também os clubes têm obrigação de denunciar condutas impróprias”.

Marc Overmars jogou no Ajax, no Arsenal e ainda no Barcelona. Desde 2012, era o diretor desportivo do Ajax. Depois da polémica das mensagens inapropriadas, o presidente do Conselho de Supervisão do Ajax, Leen Maijaard, ainda afirmou: “Ele é, provavelmente, o melhor diretor desportivo que o Ajax já teve”, mas acrescentou que “a situação é terrível para todos”, sobretudo para as vítimas: “É devastador para as mulheres que tiveram de lidar com o comportamento”.

O jogador não manteve o silêncio, admite que está “envergonhado”, e foi confrontado com as suas atitudes: “não percebi que tinha ultrapassado os limites, mas isso ficou claro para mim nos últimos dias. De repente, senti uma pressão enorme.”, acrescentando que tais comportamentos “não podem ser justificados”.

Denúncias de casos de assédio e abuso no desporto multiplicam-se

O caso de Marc Overmars não é o único do mundo do desporto a chegar ao conhecimento do público, com consequências desportivas ou mesmo judiciais para os envolvidos.

O jovem jogador do Manchester United, Mason Greenwood, de 20 anos, foi detido pelas autoridades britânicas, no dia 30 de janeiro, por suspeita de abuso sexual e ameaças à integridade física da ex-namorada.

A ex-namorada do atleta expôs nas redes sociais fotografias suas com marcas no corpo, e áudios em que Greenwood a terá coagido a ter relações sexuais contra a sua vontade.

Até à data, o jogador já perdeu patrocínios dos videojogos PES, eFootball e FIFA. O mais recente e impactante patrocinador a desistir de Greenwood foi a multinacional de equipamentos desportivos Nike. O Manchester United suspendeu Mason Greenwood e proibiu-o de treinar.

Paul Riley foi despedido em setembro do ano passado.  O então treinador da North Carolina Courage, equipa da Liga norte-americana de futebol feminino, teve saída imediata depois de jogadoras o terem acusado de assédio e coerção sexual. Os factos de que a jogadora Sinead Farrely acusa o treinador terão tido inicio em 2011, prolongando-se durante vários anos.

Mas talvez o caso mais mediático de assédio e abuso sexual no mundo do desporto moderno seja aquele que envolveu Larry Nassar, antigo médico da equipa nacional de ginástica nos Estados Unidos, que foi condenado em 2017 e 2018 a 60 anos de prisão por posse pornografia infantil, mais uma pena de 40 a 175 anos pelo acumular de crimes relacionados com 330 jovens e menores, de quem abusou ao longo de 20 anos.

A mais famosa ginasta da história dos EUA, Simone Biles, foi uma das vítimas e a 15 de janeiro de 2018 deixou uma publicação no Twitter a contar a sua história: “A maioria de vocês conhece-me como uma rapariga bem disposta, engraçada e energética. Mas ultimamente tenho me sentido arrasada e quanto mais eu tento abafar esta voz dentro da minha cabeça, mais alto ela grita. Mas já não tenho medo de contar a minha história. Eu também sou uma das vítimas que sofreu abusos sexuais por parte de Larry Nassar”.

A condenação de Nassar coincidiu com o começo do movimento #MeToo nos Estados Unidos.

Artigo editado por Filipa Silva