A conversa faz-se ao telefone, entre tarefas decorrentes da sua mais recente responsabilidade política. Patrícia Gilvaz, de 24 anos, foi eleita pelo círculo do Porto para a Assembleia da República, nas Legislativas do dia 30 de janeiro, e junta-se no parlamento aos deputados da Iniciativa Liberal (IL), uma das forças políticas que mais se reforçou nas urnas.

O seu percurso académico passou pela Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP), onde se formou recentemente como advogada. Até à entrada na associação de estudantes, que chegou a presidir, nunca teve um particular interesse pelo panorama político, apesar de o acompanhar. “Nunca me vi com interesse em participar ativamente na política, muito menos na política partidária, precisamente porque não havia nenhum partido em que eu me revisse integralmente”, admite.

A conversa muda com o aparecimento do partido a que pertence neste momento. A comunicação do Iniciativa Liberal cativou Patrícia Gilvaz. Após uma pesquisa, os ideais liberais convenceram a jovem deputada a entrar na esfera política. “Fiz o meu trabalho interno, voluntário, de ir pesquisar mais sobre o IL: li os princípios, li o programa político que propunham e identifiquei-me com grande parte do que estava lá escrito”, afirma. Descobri que era liberal e não sabia”, confessa de modo animado.

A idade não parece ser um obstáculo para o que procura construir no futuro. Reitera com certeza que esse fator não define as suas competências ou a sua capacidade de trabalho. E antes de ter a oportunidade de fazer ouvir a sua voz no parlamento, foi, ainda que durante pouco tempo, deputada na Assembleia de Freguesia de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos. A eleição do dia 30 fê-la abdicar do lugar, mas a certeza é uma: ser jovem nunca foi um obstáculo, talvez até tenha sido um incentivo. 

“Não foi algo que eu estivesse a contar, mas a partir do momento em que me lançaram o desafio, abracei esta fase com toda a esperança de que conseguiria desenvolver um excelente trabalho”, declara.

Quando questionada sobre a falta de representatividade jovem no parlamento, responde com a certeza de que é um problema evidente. Aponta ainda que existe uma descrédito sobre o discurso da população mais nova, quando este é muitas vezes fundamentado em experiências reais, que, se tidas em consideração, poderiam contribuir para a resolução de problemas.

Eu costumo dizer que não são os jovens que estão desacreditados da política, a política é que está desacreditada dos jovens. Somos nós que sofremos na pele os desafios a que estamos sujeitos, somos nós que muitas vezes percebemos qual é que poderá ser a solução”, afirma a mais recente deputada do Iniciativa Liberal.

Patrícia Gilvaz compromete-se a propor medidas que apoiem a camada mais jovem, dando particular relevância às que se relacionam com a saúde mental. “Haverei de propor algumas medidas relacionadas com a juventude. A questão da saúde mental para mim é muito relevante e é uma coisa que que me toca muito”, acrescentou. 

A ascensão “liberal”

“O liberalismo funciona e faz falta em Portugal”, foi o mote da campanha do Iniciativa Liberal, cuja presença na cena política portuguesa está em ascensão, mas está longe de ser dominante. Basta lembrar que o Partido Socialista saiu das urnas no dia 30 com uma maioria absoluta. Ainda assim, o partido de Patrícia Gilvaz acredita que o liberalismo pode ser bem sucedido em Portugal da mesma maneira que serve outros países da Europa. 

“O liberalismo faz falta, porque o nosso crescimento ao longo dos últimos anos tem estado estagnado. O liberalismo trará a Portugal o crescimento que queremos, que nos irá levar a valores próximos de outros países europeus”, refere a jovem deputada. 

Para Patrícia Gilvaz, não será uma questão de como, mas de quando é que este ideal político garantirá uma presença significativa em Portugal. A jovem afirma que o problema reside num modelo político que não se adequa às necessidades do país: “os portugueses quando vão para outros países da Europa são muito bem sucedidos, portanto, não são os portugueses que estão mal, são as políticas que são implementadas em Portugal que não estão adequadas ao país, não estão adequadas aos portugueses”, afirma.

Patrícia Gilvaz acredita que os votos que favoreceram a posição do Iniciativa Liberal nas mais recentes eleições legislativas foram os “votos de quem vota pela primeira vez, votos de quem estava noutros partidos e descontente viu na Iniciativa Liberal a oportunidade de ter um país melhor”. Acredita ainda que se trata de um voto maioritariamente jovem, com a possibilidade de alguns votos virem da ala esquerda da política, que sofreu um claro corte em assentos parlamentares.

A legislatura em que se estreia no Parlamento será marcada pela maioria absoluta do Partido Socialista de António Costa. Apesar de reconhecer as dificuldades que esta realidade imporá na defesa ou aprovação de medidas do sue partido, a deputada afirma ainda assim que o partido conta “implementar algumas das propostas”. Em relação às que não conseguirem levara avante, promete que o IL vai continuar “a lutar por elas e a levá-las à discussão pública”. “Seremos aquela oposição construtiva, credível, e o partido do escrutínio que vai ser preciso numa maioria absoluta do PS”, conclui. 

Artigo editado por Filipa Silva