Projeto das freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde teve início em 2020. Catarina Sanahuja, gestora do projeto, explica ao JPN os objetivos.

Projeto está no terreno desde 2020 e termina em setembro deste ano. Envolveu perto de uma centena de mulheres. Foto: Projeto Participo!

Questões culturais, o domínio masculino nos papéis políticos e a estrutura familiar são alguns dos obstáculos à participação política e cívica das mulheres, de acordo com o mapa apresentado pelo Projeto Participo! esta quarta-feira (9). O diagrama divulgado no Fórum Intermédio, na Universidade Católica do Porto, considerou estes obstáculos sob um ponto de vista sistémico – considerando os níveis macro, meso e micro -, integrado por fatores que se interligam e influenciam mutuamente.

Aos fatores já mencionados juntam-se outros como, ao nível macro, a religião e a educação e ainda, ao nível meso, questões como o papel da comunicação social, que de acordo com as participantes no projeto ainda contribui para uma imagem estereotipada das mulheres. São consideradas também vivências mais pessoais – a escala micro – como o tempo que as mulheres têm para dedicar à ação política, e se possuem uma rede de suporte, além de disponibilidade mental.

O Projeto Participo! arrancou em outubro de 2020 e é promovido pela União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde. Financiado pelo EEA Grants e com a parceria internacional do European Centre for Women and Technology, em Oslo, na Noruega, envolveu até agora a participação de 92 mulheres.

O Participo! tem como objetivo promover o aumento da taxa de participação cívica e política de mulheres e raparigas nas freguesias e promover um envolvimento maior das que já atuam política e civicamente, debatendo sobre a igualdade de género, a criação de oportunidades e as ferramentas que podem tornar mais ativa a participação feminina.

“O objetivo é fazer com que essas mulheres tivessem voz e que fossem conhecidas aqui no território. E também, na parte da política, que fossem mais participativas nas assembleias de freguesia e até mesmo candidatarem-se a cargos públicos e partidários”, conta ao JPN Catarina Sanahuja.

O Projeto Participo!  envolve 15 entidades e um leque  alargado de atividades: “O projeto é dividido em cinco grandes atividades com os nossos mais de 15 parceiros que são órgãos, instituições e empresas. Temos em primeiro lugar, a criação de um grupo de trabalho, um website e rede social para divulgação das atividades, cursos b-learning e academias juniores e o grupo de teatro do oprimido, que monta peças para falar sobre as vivências destas mulheres”, explica a gestora do projeto.

No Fórum Intermédio desta quarta-feira houve uma roda de conversa com participantes do projeto. Ana Martins, técnica de controlo e planeamento financeiro numa empresa de energia, descreve ao JPN como é ser mulher e querer ter um papel político: “Nós, mulheres, já sentimos que temos um papel tão pequeno, tão melindrado, que de alguma forma temos medo de nos expor. Tudo é motivo de discriminação – porque sou mulher, porque tenho as minhas convicções políticas, porque eu também bato na mesa, porque sou diferente. Há tantas formas de discriminação, que se assumirmos publicamente que temos uma vida política, pode ser também fator de discriminação. Sobretudo, quando não estamos no segmento da maioria.”

Ana Martins falou ainda sobre os obstáculos e desafios que impedem as mulheres de serem mais participativas politicamente: “O desafio que temos para estar na política é o mesmo desafio que temos para estar em qualquer lugar de poder e visibilidade. As mulheres precisam sempre de fazer tudo, não podem cometer erros e não podem deixar pontas soltas. Portanto, a uma mulher tudo é sempre mais exigido, por isso, é importante apoiarmo-nos sempre umas às outras.”

Para a participante do projeto, a educação é a chave para amenizar a situação: “Acho que educar as pessoas para a igualdade e para que sejamos feministas, todos, talvez seja uma solução para que não haja tanta discriminação no futuro. Eu quero acreditar que se educarmos crianças para que vejam o mundo de forma igual, todos vamos poder ocupar lugares, independentemente de ser homem ou mulher.”

O projeto encerra em setembro deste ano. Nesta fase final, busca colocar os participantes a refletir sobre o que foi desenvolvido ao longo do percurso e também a promover ações de empoderamento com base em 20 histórias recolhidas junto das quase cem participantes. Para encerrar o projeto, será organizado um evento que envolverá também o financiador e o parceiro internacional do projeto, durante o qual será apresentado um caso de sucesso ao nível da participação cívica e política das mulheres.

Artigo editado por Filipa Silva