Está de regresso a Marcha do Dia Internacional das Mulheres, organizada desde 2019, pelo movimento feminista em Portugal que tem levado à rua milhares de pessoas no dia 8 de março, em várias cidades de norte a sul do país.

No Porto, a concentração está marcada para as 18h30 na Praça dos Poveiros e, tal como aconteceu em edições anteriores, a marcha segue pela Rua de Santa Catarina e Sá da Bandeira até à Avenida dos Aliados, onde termina com a leitura dos manifestos das associações apoiantes, tais como União Mulheres Alternativa e Resposta-UMAR, Rede Unitária Antifascista, Greve Climática Estudantil, Rede de Apoio Mútuo do Porto, Feminismo Sobre Rodas e Saber Compreender.

“Por mim, Por ti, Por todas, pelas nossas Companheiras” é o lema da marcha deste ano.

Um manifesto feminista com um conjunto vasto de contribuições

A Marcha do Dia Internacional das Mulheres será divulgada pelas ruas do Porto através de várias iniciativas públicas até ao dia 8 de março. Nesse dia, será apresentado o Manifesto Feminista 2022 que conta com o contributo de várias organizações envolvidas na luta pela igualdade de género e contra a violência machista.

Segundo Patrícia Martins, ativista do coletivo Feminismo Sobre Rodas, o Manifesto Feminista 2022 ainda está em construção. A ativista diz que o ano começou com a ameaça da extrema-direita, numa alusão ao resultado do partido Chega nas últimas Legislativas, o que pede uma “reflexão mais profunda”. No entanto, adianta que o manifesto será interseccional, com um conjunto vasto de contribuições de diferentes associações, abordando temas como a violência doméstica, questões ambientais, racismo, homofobia e transfobia. “Quando saímos à rua temos de garantir que o espaço reivindicativo seja agregador e não represente apenas um setor específico da sociedade”, afirma em declarações ao JPN.

A plataforma da Rede 8 de Março associa-se às iniciativas de solidariedade internacional através da Greve Feminista Internacional.

Feminismo com novo fôlego em Portugal desde 2019

O movimento feminista ganhou um novo fôlego em Portugal depois da convocatória internacional da Greve Feminista, lançada pela plataforma Rede 8 de Março, apoiada em todo o país por mais de meia centena de organizações feministas, mas também de outras causas como a defesa dos Direitos Humanos, antirracistas, LGBTQI+, de imigrantes, ambientalistas, de combate à pobreza e precariedade, da área da saúde e sindicatos.

Convocada pela primeira vez em 2019, a marcha teve mais de sete cidades a aderir à iniciativa em Portugal. “Para nós que estamos na luta feminista há anos, foi histórico”, confessa Patrícia Martins. “Foi das maiores manifestações em Portugal pelos direitos das mulheres desde a despenalização do aborto”, recorda.

A Greve Feminista tem quatro eixos – consumo, trabalho, cuidados e estudantil – nos quais se enquadram bandeiras como a reivindicação de igualdade salarial, além do combate à mercantilização e objetificação do corpo feminino. Surge do processo de articulação com outros movimentos feministas noutros países – como Espanha, Itália, Alemanha – e solidariedade internacional, com o objetivo de contruir ações comuns.

 

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Movimento assume-se como “parte da resposta ao crescimento da extrema-direita em Portugal”

Realizada pela primeira vez em 2019 no âmbito da convocatória da Greve Internacionalrepetindo-se em 2020 antes de ser decretada pandemia, a Marcha do Dia das Mulheres aconteceu em 2021 em formato mais reduzido.

Este ano, como em 2021, haverá cuidado com as medidas sanitárias, mas espera-se um número significativamente maior de participantes.

Os organizadores preveem que “este ano com maior expressão da extrema-direita, mais pessoas se vão associar” e veem o evento como “o primeiro momento do ano de reivindicação de novas forças democráticas para o país”.

“No ano em que celebramos os 15 anos da despenalização da interrupção voluntária da gravidez, afirmamo-nos como parte da resposta ao crescimento da extrema-direita em Portugal e dos setores políticos conservadores, racistas e xenófobos. Há 15 anos dizíamos SIM para acabar com a Humilhação das Mulheres sujeitas a abortos clandestinos, muitas vezes condenadas à prisão ou à morte por falta de acesso aos cuidados de saúde. Continuamos a dizer SIM a todos os Direitos por conquistar e SIM ao COMBATE contra os muros misóginos, racistas e antidemocráticos que a extrema-direita quer erguer em Portugal”, afirmam em comunicado.

A crise pandémica e as consequências desta nas mulheres também voltam a estar em destaque na marcha, com a organização a reiterar que foram elas “as primeiras a perder o emprego e/ou a serem transferidas para novos níveis de precariedade”. Os “níveis avassaladores de violência de género, com destaque para as altas denúncias do crime de violência doméstica” e o aumento das agressões sexuais e o assédio contra mulheres, nomeadamente no Porto, são também evocados pelo coletivo de organizações feministas.

Artigo editado por Filipa Silva