A Amnistia Internacional acredita que 40% da população poderia estar totalmente vacinada, tendo em conta as doses produzidas pelas farmacêuticas. A Organização Mundial da Saúde espera que, até julho, 70% da população esteja vacinada.
De acordo com a Amnistia Internacional, as farmacêuticas “monopolizaram a tecnologia, bloquearam e pressionaram a partilha de propriedade intelectual, cobraram preços elevados pelas vacinas e priorizaram os fornecimentos a países ricos”. Foto: CDC/Pexels
A Amnistia Internacional publicou, esta segunda-feira (14), um novo relatório, no qual critica as farmacêuticas por terem colocado o lucro à frente das necessidades dos países com mais dificuldades económicas e dos direitos humanos. No estudo, denominado “Money Calls The Shots”, a organização revela que cerca de 40% da população mundial poderia apresentar vacinação completa, se a quantidade de vacinas produzidas, no ano passado, estivesse acessível a todos os Estados.
Os países ricos foram, também, alvo de críticas, em resultado do armazenamento de vacinas e das consecutivas doses de reforço administradas pelos respetivos governos. Já os países com menor rendimento encontram-se numa posição oposta, tendo em conta que a população com vacinação completa não chegava, em 2021, a 5%.
De acordo com a Amnistia Internacional, as farmacêuticas “monopolizaram a tecnologia, bloquearam e pressionaram a partilha de propriedade intelectual, cobraram preços elevados pelas vacinas e priorizaram os fornecimentos a países ricos”.
Das 300 milhões de doses de vacinas produzidas, no ano passado, pela farmacêutica Johnson & Johnson, quase metade foram entregues a países de baixo e médio-baixo rendimento.
Já AstraZeneca distribuiu 70% das doses fabricadas a países de médio-baixo rendimento e cerca de 2% aos de baixo rendimento. A empresa afirma, no entanto, que obter lucro com a produção da vacina é uma das suas principais ambições.
Além disso, quase 25% das 673 milhões de vacinas fabricadas pela Moderna foram entregues a países de menor rendimento, assim como 15% das 2,4 mil milhões de doses da Pfizer/BioNTech. Enquanto que a Sinovac e Sinopharm forneceram, respetivamente, 0,4% e 1,5% da sua produção aos países menos desenvolvidos.
O facto das grandes farmacêuticas não partilharem o conhecimento detido e a tecnologia necessária para que os restantes países possam produzir vacinas é outro dos problemas apontados. Apesar dos entraves colocados pelas empresas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem desenvolvido vários programas, como o COVAX e o Grupo de Acesso à Tecnologia da Covid-19, de modo a ajudar no acesso às vacinas. No entanto, nem todas as farmacêuticas se mostraram disponíveis para partilhar determinadas informações, bem como proceder ao levantamento das patentes.
Perante a posição dos países ricos e das farmacêuticas, o diretor sénior de pesquisa, advocacia e incidência política na Amnistia Internacional, Rajat Khosla, coloca a questão: “quantas variantes mais teremos de atravessar antes de os países de rendimentos elevados e as empresas farmacêuticas compreenderem que as pessoas nos países mais pobres necessitam de acesso às vacinas – não apenas as dos países ricos?“.
A OMS propôs um novo objetivo: “se queremos que 2022 seja o último ano desta pandemia, precisamos de mudar o rumo agora para atingirmos a meta de 70% da OMS, em julho deste ano”, acrescentou.
Este estudo surge em seguimento de outro publicado em setembro de 2021, “Uma Dose Dupla de Desigualdade, as empresas farmacêuticas e a crise das vacinas contra a covid-19”.