Na Austrália, foi descoberto o Confractosuchus sauroktonos, espécime com 95 milhões de anos com quase três metros de comprimento e um ornitópode no estômago.

Os investigadores estimam que, à altura da morte, o réptil tinha dois metros e meio de comprimento. Foto: David Clode / Unsplash

O Museu Australiano da Era dos Dinossauros anunciou, na passada sexta-feira (11), a descoberta do Confractosuchus sauroktonos, um novo género e espécie de crocodilo da zona ocidental de Queensland. No estômago do fóssil com 95 milhões de anos, foi encontrado um jovem ornitópode – uma espécie de dinossauro – parcialmente digerido. Segundo o comunicado do museu, este achado constitui a primeira evidência de uma relação predatória entre crocodilos e dinossauros na Austrália e junta-se a uma “mão cheia” de exemplos conhecidos em todo o mundo.

Os ossos fossilizados foram recuperados em 2010, junto a uma zona de criação de ovelhas, perto de Winton. Durante as escavações, e apesar do crocodilo ter sido “parcialmente esmagado por um carregador frontal”, os investigadores encontraram 35% do corpo preservado. Esta percentagem inclui “um crânio quase completo com dentição e esqueleto pós-craniano semi-articulado”. Contudo, não encontraram “a cauda e os membros posteriores”, é descrito no comunicado.

A pesquisa foi liderada pelo investigador Dr. Matt White, através da Universidade de Nova Inglaterra, e em colaboração com a Organização Australiana de Tecnologia e Ciência Nuclear (ANSTO). Dr. Joseph Bevitt, cientista sénior na ANSTO, utilizou “tecnologias de scanning de neutrões e sincrotrões raio-X micro-CT para identificar os ossos”.

Os dados recolhidos foram depois utilizados para “preparar digitalmente” o espécime, um processo que se prolongou por dez meses, para que “a reconstrução 3D dos ossos pudesse ser feita”, refere o museu. Os investigadores estimam que, à altura da morte, o réptil tinha dois metros e meio de comprimento, e que estaria ainda em fase de crescimento.

Quanto à ‘última ceia’ do animal, “embora o Confractosuchus não se especializasse em comer dinossauros, não teria negligenciado uma refeição fácil, como os restos do jovem ornitópode encontrados no seu estômago”, clarifica Matt White.

Dada a condição parcialmente digerida da presa e a falta de material, na Austrália, que permita fazer comparações, produzir “uma classificação exata não foi possível”. Ainda assim, consta no comunicado que o jovem animal deveria pesar “até 1,7 quilogramas”.

De acordo com o Dr.White, esta descoberta sugere que os dinossauros faziam parte da ecologia dos cretáceos, enquanto necrófagos, predadores e presas. “Dada a falta de espécimes globais que sejam comparáveis, este crocodilo pré-histórico e sua última refeição continuarão a fornecer pistas sobre as relações e comportamentos de animais que habitavam a Austrália há milhões de anos”, assevera.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha