A empresa Remington Arms acordou, esta terça-feira (15), indemnizar as famílias de nove das 26 vítimas do massacre de Sandy Hook, que aconteceu a 14 de dezembro de 2012. A marca fabricante da espingarda utilizada durante o tiroteio vai pagar 73 milhões de dólares (64 milhões de euros) aos parentes das pessoas que morreram.

Algumas entidades que visam a defesa de armas, como a National Rifle Association, alertaram o governo no início dos anos 2000 para a necessidade de implementar leis que salvaguardassem as respetivas empresas das acusações. Cinco anos depois, o Congresso ratificou a Lei de Proteção ao Comércio de Armas Legais (Lawful Arms Trade Protection Act).

Apesar da legislação em vigor, a Remignton Arms foi alvo de uma queixa, tendo em conta que, de acordo com as famílias, publicitou a arma utilizada no massacre através de videojogos violentos. Adam Lanza, autor do tiroteio, utilizou uma Bushmaster AR-15 e matou 20 crianças e seis funcionários. 

O valor da indemnização corresponde ao valor disponibilizado pelas quatro seguradoras desta empresa. No entanto, “é hora de reconhecer o custo financeiro das seguradoras que aumentam os lucros aumentando o risco”, alertou o advogado de um dos lesados, Josh Koskoff.

O processo é longo, tendo em conta que a Remington foi processada já em 2015. A empresa queria ter pago, em julho de 2021, 33 milhões de dólares (29 milhões de euros), menos 192 milhões de dólares do que o valor exigido pelos parentes. No entanto, a família recusou a proposta, alegando ter provas que evidenciavam as práticas de marketing da produtora de armas.

Os fabricantes não costumam ser responsáveis pelos incidentes, sendo esta a primeira vez que familiares de vítimas recebem qualquer tipo de apoios. De acordo com o Supremo Tribunal de Connecticut, a empresa poderia ser julgada pelo modo como publicitou o produto.

Os pais de Noah, um menino de seis anos que morreu durante o tiroteio, afirmam que “o que foi perdido ainda está perdido. No entanto, a resolução fornece uma medida de responsabilidade em uma indústria que até agora operou com impunidade”.

“Hoje não se trata de honrar o nosso filho Benjamin. Hoje trata-se de como e porque o Bem morreu. Trata-se do que é certo e do que está errado. O nosso sistema jurídico deu-nos alguma justiça hoje, mas eu e o David nunca vamos ter uma verdadeira justiça. A verdadeira justiça seria o nosso filho de quinze anos saudável e aqui connosco”, lamentou Francine Wheeler, mãe de um outro menino de seis anos.

Para além da indemnização que vão receber, as famílias poderão divulgar os documentos que comprovam o modo como a espingarda foi comercializada. Porém, não se verificaram quaisquer alterações na legislação relativa ao controlo de armas, após o processo relacionado com um dos mais mortíferos massacres da história dos EUA. Além disso, em 2020, a empresa fechou portas pela segunda vez, em resultado dos processos judiciais.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha