O projeto, que ensina os mais novos a lidar e gerir as emoções, está a aumentar. Um ano após o início da parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian, o programa da Associação Mente de Principiante tem revelado sucesso nas suas intervenções. O JPN foi saber como cresceu a iniciativa.

A Educação Socioemocional junta-se, nos programas curriculares, ao Português, à Matemática e a outras disciplinas. Foto: Facebook/ Mente de Principiante

“Calmamente: Aprendendo a Aprender-se”, projeto de educação socioemocional da Associação Mente de Principiante, que põe crianças de escolas do distrito e fora dele a aprender sobre as suas emoções, está a ganhar novas dimensões. A funcionar desde 2014, aliou-se em 2020 à Fundação Calouste Gullbenkian para integrar as 100 Academias Gulbenkian do Conhecimento e, agora, é uma das referencias para um projeto-piloto pioneiro que quer ensinar professores a lidar com o lado emocional dos alunos.

A metodologia estabelecida pela Associação Mente de Principiante consiste na integração, no currículo letivo, de uma disciplina que ensina crianças e jovens a lidar e gerir as suas emoções. Trabalham-se, nestas aulas, competências de comunicação, resolução de problemas, de tomada de decisão. São já mais de 3.000 alunos impactados pelo ensino socioemocinal desde o início do projeto.

A Educação Socioemocional junta-se, nos programas curriculares, ao Português, à Matemática e a outras disciplinas, passando a ser mais uma das áreas de estudo semanais dos estudantes dos 3.º, 4.º e 5.º anos do ensino básico. A metodologia é dada no formato de aula que já se conhece. Como resultados, pretende-se a melhoria da saúde infantil, aumento da concentração e do foco, melhorar relações e promover felicidade.

Andreia Espain, responsável do projeto e presidente da Associação Mente de Principiante, explica ao JPN que “existem duas formas de intervenção”: a equipa da associação, que se desloca às escolas para lecionar; ou professores dos anos em questão, que fazem a formação com a Mente de Principiante para poderem, posteriormente, eles próprios dar a disciplina de Educação Socioemocional.

Trabalham-se, nestas aulas, competências de comunicação, resolução de problemas, de tomada de decisão. Foto: Facebook/ Mente de Pincipiante

Apesar de se ter iniciado em 2014, o projeto começou a ver um grande crescimento quando se tornou uma das 100 Academias Gulbenkian do Conhecimento. Em 2020, a Associação Mente de Principiante foi uma das 30 metodologias selecionadas entre 300 que concorreram para se tornarem uma destas academias.

“O ano letivo em que fizemos esta intervenção através da Fundação Calouste Gulbenkian permitiu-nos ter um número de turmas muito maior”, explica Andreia Espain.

Mais do dobro de alunos de um ano para o outro

A última vez que o JPN falou com a Mente de Principiante, há cerca de um ano (ano letivo 2020/2021), a associação tinha cerca de 400 alunos. Na altura, visitamos uma aula da disciplina promovida pelas metodologias do projeto, integrada no horário curricular de alunos do Agrupamento de Escolas Abel Salazar, em Matosinhos.

No ano letivo atual, o projeto conta já com mais de 1.000 alunos e já ultrapassa as 200 turmas. Contudo, Andreia Espain explica que há turmas “que estão a começar agora”, o que, na perspetiva da diretora, significa que pode ser possível “terminar o ano com mais de 1.300 alunos impactados”.

Para a responsável, os resultados têm sido “bastante positivos”, principalmente ao nível “informal”. “O feedback que nós temos quer das famílias quer das famílias, quer das escolas, quer dos participantes, que é o mais importante, tem sido excelente”, refere, acrescentando que “em termos de capacidades, de competências e de aquisição de competências tem sido realmente muito bom”. Ressalta, ainda, os resultados satisfatórios na “componente de monitorização e avaliação científica”.

A análise científica tem sido realizada em parceria com a Universidade da Maia (anteriormente conhecida como Instituto Universitário da Maia – ISMAI) e “começa agora a apresentar os primeiros resultados”, que já foram divulgados, no mês passado, no Congresso Internacional da Criança e do Adolescente.

Os números apontam para “resultados muito promissores, nomeadamente no que diz respeito à diminuição do conflito entre pares, à comunicação, ao aumento da assertividade e também um aumento das competências da regulação emocional”, afirma ao JPN a responsável do projeto.

Metodologias do “Calmamente” servem de base para projeto nacional

O trabalho de facilitadores e professores para o sucesso do “Calmamente” – a par de outras iniciativas semelhantes de âmbito local noutras regiões do país – serve agora de base para uma iniciativa-piloto de formação de professores para lidar com as emoções de alunos. No caso de associações como a Mente de Principiante, fornecia-se já formação a professores para os próprios poderem dar a disciplina de Educação Socioemocional.

Os novos cursos de formação socioemocional de docentes, do programa Conhecimento da Fundação Gulbenkian e com o apoio do Ministério da Educação, pretendem ensinar os professores a gerir emoções dentro da sala de aula.

A incitativa, que deve arrancar já este ano letivo e que se quer expandir a todos os centros de formação de professores do país, já conta com mais de 200 voluntários.

O que reserva o futuro do “Calmamente”?

Relativamente ao futuro, Andreia Espain mostra-se positiva. Na perspetiva da responsável, “tudo indica” que o projeto continuará a crescer. “Queremos acreditar que iremos duplicar aquilo que este ano aconteceu. Claro que são ainda previsões, mas acreditamos que sim que vá acontecer. Temos condições para que isso aconteça”, refere,

Além do objetivo de duplicar o número de alunos, o projeto “Calmamente” tem ainda a intenção de quebrar fronteiras e expandir-se ao ambiente não escolar no próximo ano letivo. Será realizado um “Calmamente” em formato comunitário, conceito que vai ser realizado “em pequenos grupos/ ciclos de crianças e jovens e realizado na sede da Associação”.

A responsável adianta ainda ao JPN o próximo projeto da Associação Mente de Principiante: o “Calmamente Famílias”. Esta nova versão pretende “estender a formação a famílias e grupos familiares” que queiram aprender a lidar e gerir as emoções no seio familiar.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha