Um estudo revelou que na zona abissal existem espécies nunca antes conhecidas. O conhecimento desta zona do oceano pode ajudar a protegê-la, mas a investigação envolve ainda muitos recursos.

A zona analisada começa a partir dos 4.000 metros de profundidade e pode chegar aos 6.000 metros, onde começa a zona hadopelágica. Foto: Mikita Amialkovič/Unsplash

Cientistas de oito países desenvolveram um estudo, no qual investigaram a zona menos explorada do planeta: a plataforma abissal, zona mais profunda do oceano. Os resultados da pesquisa, publicados na revista científica “Science Advances”, revelaram que foram descobertas novas espécies. 

De acordo com a investigadora do Centro Oceanográfico de Gijón – que está incluído no Instituto Espanhol de Oceanografia (CSIC) – Covadonga Orejas Saco del Valle, “apenas 20% do fundo do oceano foi mapeado até hoje”, refere à BBC Mundo. A zona analisada começa a partir dos 4.000 metros de profundidade e pode chegar aos 6.000 metros, onde começa a zona hadopelágica. 

Nesta plataforma, as temperaturas rondam os dois, três graus e podem haver “500 a 600 atmosferas de pressão, 500 a 600 vezes mais do que a pressão atmosférica que temos na superfície”, afirmou o biólogo marinho e investigador do Museu de História Natural Senckenberg, na Alemanha, Martínez Arbizu. Tendo em conta estes fatores, os seres vivos, que vivem nesta plataforma “alimentam-se apenas do que cai da superfície do oceano no que chamamos de neve marinha”.

Uma das características da fossa abissal é a falta de luz, o que impossibilita a realização de fotossíntese. Dos alimentos produzidos na superfície, só 5% atinge a respetiva zona. 

No entanto, há uma grande diversidade de seres vivos, sendo que mais de metade não se inserem num reino animal conhecido. Martinéz Arbizu afirma que “podem ser estrelas do mar, crustáceos como pequenos camarões, corais, esponjas, mas assumem formas diferentes do que conhecemos da superfície”.

Imagem: Inês Pinto Pereira/JPN

Orejas Saco del Valle acrescenta que poderá ser possível reconstituir as particularidades do oceano, conhecidas no passado, analisando as amostras de ADN antigo que se encontram depositadas nos sedimentos.

Uma zona com muito por desvendar

A investigadora Orejas Saco del Valle acredita que o conhecimento conseguido, através da pesquisa, será importante para a definição de medidas que visem a preservação destes ecossistemas.

Apesar das descobertas, o especialista do CSIC aponta que “é um ecossistema de difícil acesso, por isso sabemos tão pouco. E é muito caro fazer estas pesquisas. Daí a importância de reunir esforços e recursos e estabelecer colaborações internacionais como a apresentada nesta investigação”. Orejas Saco del Valle considera também que ainda há tanto para pesquisar no fundo mar, visto que a diversidade é três vezes maior do que a coluna da água.

De notar que, segundo Martínez, era necessário uma embarcação que tivesse um cabo que alcançasse uma distância superior a 10 km para que fosse possível recolher as amostras que se encontrassem nesta região.

O biólogo marinho alerta para a preservação deste ecossistema, tendo em conta o crescente interesse na exploração do mesmo. “Devido à baixa temperatura, todos os processos vitais da fauna que vive lá são muito lentos. Se danificarmos um ecossistema em águas profundas para que este recupere, serão precisos muitos anos, pensamos que talvez 50, 100, 200 anos ou mais”, completou.

Para a realização deste trabalho, foram estudadas 1.700 amostras de água, bem como dois mil milhões de amostras de ADN.