A atleta entrou ontem no ringue de patinagem no gelo com uma atitude muito diferente da demonstrada na prova anterior. Passou de uma rapariga de 15 anos confiante e focada, a uma jovem tímida que tropeçou, caiu duas vezes e acabou a prova em lágrimas.

Kamila Valieva tem apenas 15 anos. Foto: The Olympic Games/Instagram

Kamila Valieva começou a prova individual de patinagem no gelo, esta quinta-feira, nos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim, com uma enorme pressão sobre os ombros: pressão por ser das preferidas do público, a que se juntou o peso que resultou do escândalo de doping em que está envolvida há uma semana.

Após uma prova quase perfeita no programa livre, que contribuiu para o primeiro lugar da seleção da Rússia a 7 de fevereiro, a atleta caiu “em desgraça” após a revelação, no dia seguinte à prova, de um resultado positivo a um teste de doping, que tinha realizado a 25 de dezembro. Na sequência da revelação, as medalhas atribuídas nesta prova foram suspensas pelo Comité Olímpico Internacional (COI) até o caso “ficar concluído”, anunciou o COI.

A Agência Anti-doping russa suspendeu a atleta, mas pouco depois, esta suspensão foi retirada. A Agência Mundial Antidoping e o COI apelaram ao Tribunal Arbitral do Desporto, que tomou a decisão de que a atleta poderia na mesma competir na prova individual, marcada para esta quinta-feira (17).

Perante a decisão do Tribunal Arbitral, o COI decidiu que caso Kamila Valieva terminasse no pódio da prova, a cerimónia da entrega de medalhas ficaria, como aconteceu na prova de equipas, em suspenso.

Tal não foi necessário, uma vez que Kamila Valieva acabou a prova individual em quinto lugar com uma pontuação de 141.93. Termina a sua participação nos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim em quarto lugar (pontuação de 224.09) dando espaço para que a cerimónia da entrega de medalhas acontecesse.

A patinadora de apenas 15 anos, terminou a prova a chorar de forma compulsiva, mas teve o apoio de diversas atletas, nomeadamente das que subiram, aos lugares mais altos do pódio, composto por outras patinadoras russas. Alexandra Tursova (2.º lugar) não conseguiu conter as lágrimas perante o que se passou, nem mesmo a atleta que ganhou o ouro, Anna Shcherbakova, desfrutou alegremente o seu feito, resgistada que foi no sofá com um olhar vazio.

A 11 de fevereiro, a Agência Anti-doping russa abriu um inquérito em torno de toda a equipa que acompanha a atleta. O Tribunal Arbitral acompanhou a decisão da Agência. O facto de Kamila ser menor de idade faz com que a patinadora esteja sujeita a outro tipo de enquadramento legal, à luz do código da Agência Mundial Anti-doping.

Segundo documentos oficiais, num formulário preenchido por Kamila Valieva antes de testar positivo a trimetazidina em dezembro, a atleta indicou o uso de outras duas substâncias que, apesar de legais, combinadas com a trimetazidina são “uma indicação de que algo mais sério está a acontecer”, disse o líder da Agência Anti-doping norte-americana, Travis Tygart.  “Isso compromete totalmente a credibilidade da defesa de Valieva”, acrescentou.

Polina Edmunds, ex-patinadora olímpica norte-americana, deixou uma mensagem de solidariedade a Kamila no Twitter: “Muito traumatizante esta experiência olímpica para a Kamila Valieva. Não devia ter sido permitido que ela competisse, é devastador que ela tenha sido colocada nesta situação”, esta mensagem concorda com as palavras de diversos especialistas que garantem que o que se viu acontecer em torno da jovem contribui para os danos na prestação da patinadora russa.

Artigo editado por Filipa Silva