Nas últimas legislativas, as mulheres votaram mais à esquerda e os homens mais à direita. No Chega, grande parte dos eleitores são homens. O PS continua a conquistar muitos votos da população mais velha, bem como da menos instruída. Os partidos mais novos são os preferidos dos jovens e no Livre e na IL a maioria dos votantes têm o ensino superior.

Holandeses e britânicos votam esta quinta-feira para as Eleições Europeias.

Sondagem à boca das urnas realizada pela Pitagórica, nas últimas legislativas, permitiu a realização de um perfil dos eleitores com base no sexo, idade, nível de instrução e partido em que votaram. Foto: Robert Meerding/European Union 2019/EP

O perfil dos eleitores mostram novos dados sobre a realidade das últimas eleições, que até então não se conheciam. Os dados foram recolhidos pela Pitagórica à boca das urnas das eleições legislativas de 2022 e divulgados esta quinta-feira (17) pelos cientistas políticos João Cancela e Pedro Magalhães, numa análise intitulada “Bases Sociais do voto nas legislativas 2022”.

A empresa de sondagens cedeu os dados aos especialistas, que os analisaram ao nível micro. Para além do partido em que votaram, os números são também referentes à idade, o sexo e o grau de escolaridade dos eleitores dos 18 círculos de Portugal continental.

Contrariando as intenções de voto dos anos anteriores, dizem os cientistas políticos, nas últimas legislativas, de 30 de janeiro, as mulheres votaram mais à esquerda e os homens mais à direita. Até aí, em Portugal, “homens e mulheres não votavam de forma sistematicamente diferente”. À exceção do CDS-PP e do Livre, as diferenças são significativas: PS, BE e PAN tiveram um apoio mais alto entre as mulheres que votaram. O oposto sucedeu com o PSD, a IL, a CDU e o Chega.

As maiores disparidades dizem respeito ao PAN e ao Chega. Quase dois em cada três eleitores que votaram no Chega são homens. No PAN, duas em cada três votantes foram mulheres. Entre as mulheres, a esquerda e o centro-esquerda (a contar com o PAN) somaram 58% no Continente. Entre os homens, 49%.

PS atrai os mais velhos e os partidos mais novos são os preferidos dos jovens

O Partido Socialista continua a conquistar muitos votos da população com mais de 54 anos (51%), bem como da menos instruída. Dos mais novos (menos de 25 anos), recolheu apenas 27% dos votos. Em contrapartida, os partidos mais novos – Chega, PAN, Livre e, especialmente, a Iniciativa Liberal – foram “desproporcionalmente” mais apoiados pelos jovens. A IL foi o terceiro partido mais votado entre os eleitores mais jovens.

O Bloco de Esquerda já era maioritariamente apoiado por eleitores mais jovens e a tendência manteve-se, tendo apenas 30% dos votantes no partido mais de 54 anos. A Iniciativa Liberal foi o partido que teve menos votantes com mais de 54 anos, tendo estes representado apenas 12% dos votos no partido.

Já o Partido Social Democrata disputou e obteve a primeira posição entre os mais jovens face ao PS (29% contra 27%) entre os participantes na sondagem, mas perdeu, por muito, entre os mais velhos (51% contra 28%).

Livre e IL com maioria dos votantes com ensino superior e Chega com menos apoio dos licenciados

Nas legislativas de 2022, o PS teve um apoio mais significativo entre os votantes com escolaridade inferior ao secundário do que os que têm ensino superior (55% contra 31%). No BE, no PSD, no Livre e no PAN, sucedeu-se o inverso.

A IL voltou a destacar-se no critério da escolaridade: 9% dos votantes com ensino superior votaram neste partido, contra 1% dos que têm menos que o secundário. Quanto aos níveis de instrução, três em cada cinco votantes na IL, bem como no Livre, têm o ensino superior.

O Chega foi o partido que teve menos apoio entre os universitários, que representam apenas 21% do total dos votos no partidos, tendo a maioria dos votantes o ensino secundário.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha